quinta-feira, 14 de julho de 2011

Capítulo 13

Texto sem revisão, escrito no calor da notícia.


Esse discurso era quase o mesmo que Cleomar repetidas vezes pronunciou para muitos da cidade.
No bar, em frente à paróquia, que agora andava meio empoeirada, não parava de chegar gente abismada com fatos relatados por Cleomar. Pessoas de todo canto do povoado vinham para saber mais a respeito do que estava de verdade acontecendo.
A família de quem gerou tal idéia não se manifestava de forma alguma. Sabiam bem como era Cleomar, e não davam muita atenção a seus devaneios. Mas, a idéia era boa, pensava Darci Sebastião, e em conversa com Severino dizia:
  • Severino, essa idéia de Cleomar, acha que tem sentido?
  • Sei não, às vezes.
  • Mas pense bem. Santo Padre deu de fuga por omitir a verdade de Cleomar. O Povo anda meio engabelado pelo ocorrido, e parece estar voltando atrás e achando que Santo Padre tinha razão.
  • Sim, isso de verdade em punho eu afirmo também. Mas onde quer chegar com mais essa estrambólica história de Cleomar?
  • Severino! O dia e a noite entram e saem sem ninguém perguntar porque. O povo também é assim. Vai de um lado e cai de outro. Se tiver igreja e não tem padre para que serve? Mais cedo mais tarde, vai começar tudo de novo, e até chegar outro padre por essas bandas já vai ter se passado bom tempo. E até lá o que vamos fazer para controlar o povo? E se Deorani resolve tomar conta da situação?
  • Sabe Darci, bem pensado. Sem distração, povo é como gado com fome. Pode ter sede e pode ter fome, mas se tem para onde rumar, vai a quietude e aguarda com paciência a chegada da hora do matadouro. Mas, se rebanho fica confinado sem poder ser suprida a necessidade, revolta e estoura. Melhor andar de jeito certo e encontrar distração para vilarejo ter comentário e poder ser feliz, como sempre quis ser.
  • Severino! Acho melhor seguir Cleomar mais de perto e dar um empurrãozinho nele, para essa história vingar e fincar pé, e as moçoilas desarrumadas que se virem para explicar. Também fico querendo saber quem são as famílias embaraçadas de nossa vila.
Ken se divertia atento, e comentou:
  • Honorável amigo veja só no que vai dar quando se quer usar de manipulação uma doideira dessa. Acha que vai dar certo?
O povo na cidade andava aflito, parecendo em estado de sonolência à espera de algum desfeche. De algo, de qualquer coisa que fosse.
Com maior força para o comentário a cada dia, Severino e Darci deram um jeito de esquentar ainda mais as coisas, lançando listas falsas. O assunto na cidade de agora para frente era de se querer saber quem eram as mulheres horrendas. Cleomar, vendo tudo a seu modo, resolve dar notícias certas e contar quem são as famílias desordenadas de Conceção dos Altos. Reuniu multidão na praça e de papel em punho, lia um discurso moral:
  • ... Se bem sabem de como é a vida nesse lugar, sabem do que estou falando. Apressem-se a descobrir quem de verdade é odioso por natureza e rancor carrega consigo dentro de coração reprimido. As palavras a seguir tentam afugentar o demo da casa de muita gente e...
O povo atento não se manifestava. Escutava tudo caladinho. Mas, queria era mesmo saber da mais nova condição das famílias.
Cleomar continua:
  • ... Tonto que cheguei a esse ponto. Ter que divulgar nomes tão simbolicamente honrados de nossa cidade, para mim é desgosto certo. Mas preciso. Em nome de pequenos pés descalços que nem sabem ainda que é que acontece. Agora conto as famílias briguentas...
Lá vinha finalmente o nome de tanta gente em papel comprido, mas um pequeno detalhe estava por enganar a todos de maneira desconcertante.
Cleomar:
  • ... E também a família Crespo, que tem como varão Delcídio, que a tudo agüenta calado...
Nesse instante houve-se Deucídio ao fundo indagar:
  • A família Crespo? Quer dizer que eu não posso ver meu filho?
Cleomar:
  • Isso bem é verdade. Já viu ele alguma vez? Abraçou? Beijou? Sua mulher deixou? Diga-me que é mentira e rasgo tudo aqui mesmo e me recolho de redenção para um recanto sombrio pedindo perdão a Deus pelo meu engano.
Deucídio:
  • Oras Cleomar, nem tenho filhos ainda. O único que ainda vou ter é apenas projeto e está bem guardado dentro da barriga da minha mulher, e por falar nisso, ta pra nascer nesses dias.
Cleomar:
  • Então, ta vendo! É verdade, nunca viu filho nem filha, alias nem sabe do que se trata, e...
O povo desiludido vaia e começa a soltar palavras de ofensa a Cleomar, que não vê outra saída a não ser bater em retirada.

Faça-me um favor, conte aos amigos
Toda terça-feira e quinta-feira, um novo capítulo.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Capítulo 12

Texto sem revisão, escrito no calor da notícia.


O povo queria um milagre. Santo Padre sabia que nada daquilo era verdade. Não poderia concordar jamais, e a situação ficou totalmente inesperada. Um alvoroço em volta do palanque abominava qualquer um que falasse o contrario sobre o milagre. A confusão era tanta que a festa foi para os ares. Um corre corre se instalou por todo canto. Santo Padre já não tinha mais clima para ficar. Assustado, desacreditado, vendo brigas por toda parte, de gente que defendia o padre entre outros que o acusavam, resolveu sair da cidade por hora para não levantar mais tumulto.
E providencial foi sua retirada estratégica do palanque. Para a sacristia se dirigiu, e pela noite toda orou. Pela manhã, sem padre a cidade acordou. Com sujeira na rua, o que deram falta primeiro foi de Pliaco, o burrico da cidade que servia ao Padre santo.
Triste fim de quem só o bem queria. Mas Ken alertou sobre isso. Sabia muito bem o que iria acontecer. Lembra do bem e do mal?
Ken:
  • O padre estava do lado do bem. Isso pressupõe que existe o lado do mal. Enquanto se luta contra uma coisa ou outra, não se esta acima de nenhuma delas. A justiça. Isso sim está acima de tudo.


Fim da Primeira Parte



Passado o instante mágico da derrotada e confusa destruição da festança inacabada, Cleomar, cabisbaixo e desengonçado dava passo apertado em direção a rumo de casa. Pensativo que ficava. Não conseguia entender porque Santo Padre fazia aquilo com ele. Seria perseguição? Mas de homem de Deus? Então deveria ser coisa do diabo. “Eta bicho arretado” pensava. Inconformado com o desfecho, não soube direito o que pensar. Mas pensava.
Ken sem ser intrometido apenas olhava Cleomar com olhos de quem já sabia o que iria acontecer. Dizia-me:
  • Honorável amigo branco, que nem gosto de arroz de verdade conhece. Isso sim é comida saudável. E justamente por nem saber o gosto da certeza de alimentação tão nutritiva, é que nem vai entender o que está acontecendo. Arroz, digno amigo meu. Essa é a questão. E Ken já provou muito arroz e sabe o que está falando. O arroz que Deorani faz, aqui pelas bandas de Brejo Seco, como fala o povo, é um dos melhores. Mas longe de ser caminhado por nobres pés. Cleomar, sem nunca ter entendido e provado do arroz verdadeiro, nem sabe de nada. Confusão se instala na cabeça de tal pessoa. Chiiiii... Até honorável peixe dourado conhece sabor de divino prato. Por isso ele está atormentado. Não Cleomar, e sim venerável amigo das águas. Hihihihi... Pensei que ia confundir sua cabeça. Deixa-me explicar melhor, senão, como não conhece e nem nunca provou arroz fresco retirado de arrozal, não pode compreender a pequena e ingênua cabeça de Cleomar. Deve estar pensando o que mais importa agora. Nada, eu digo. Só a questão para Cleomar é importante. Para o resto, tanto faz. E a vida é assim. Se quiser ter um problema, pense nele, e ele acontece. Cleomar é assim. E ainda junta com Ceres, pode isso? Chiiii... Vai ter mais confusão pela frente. Adorável amigo escuta as palavras que estou lhe dizendo e perceberá que o fim ainda vai demorar um pouco para descobrir. Principalmente fato de que quem é Ken nessa história. Hiiii... Interessante. Se acredita acha que está de um lado. Se não acredita, está do outro lado. Se tiver lado tem oposição. E se tem oposição, não se esta acima de tudo. Está consumido. E Cleomar? Pobre pessoa distante de terras inóspitas. Vai encontrar seu caminho também, demora, mas vai. Também, pudera, vive pensando!
Com as palavras de Ken em meus pensamentos, segui escutando a atual história. E prestando muita atenção, pois sabia que teria que narrá-la para que todos tomassem conhecimento. Vejamos agora o que realmente Cleomar andava pensando. E como era seu dia a dia.
Angustiado, pela fazenda afora, queria de algum modo poder ajudar. Fazer algo. Saiu pelas ruas em busca de um contato e uma esperança. Não demorou muito, encontrou o que precisava. Uma distração, para ter o que pensar e poder esquecer a história de Santo Padre, que tanto atormentava.
Empenhou uma bandeira de glória e descaso contra as mulheres que não deixavam os pais verem seus filhos. Causa nobre e importante para a região, se bem que não havia muitas coisas desse tipo em Conceção dos Autos. Andava pela praça a procura de informação a respeito de fatos que incorporassem nesse estabelecido resumo de objetivo. Não tardou muito e logo encontrou, não um, mas muitos ocorridos onde famílias estavam sendo destruídas em sua forma mais complexa. Inalterado, de caráter forte, começou campanha pela cidadela à fora. Dizia-se muito entristecido pelo fato. E logo, uma lista com alguns nomes prometia divulgar.
No vilarejo, ninguém dava muita atenção a que Cleomar dizia. Sempre aparecia com uma idéia meio louca que todos já sabiam no que daria. Em nada. Mas desta vez, foi longe demais. Na praça andava de banco em banco conversando com transeuntes e explicava seu trabalho árduo, solicitando uma ajuda moral que fosse:
  • Veja só o que temos aqui. Pai e filho a recrear em banco de praça. Parabéns gente de bem. E você menino que de alegria escancarada em seu rosto, não se pode negar o benefício que é ter mãe e pai presentes a todo instante. E, embora isso seja mais do que corriqueiro, quero lembrar nessa oportunidade, que tem coisas desse tipo que não são bem assim. Existem pessoas, e mulheres em especial que não deixam os pais verem seus filhos. Irônico pode parecer. O varão que tanto trabalhou de cabo de enxada na mão, e agora é renegado ao canto do lar. Sem poder participar do que mais de divino acontece em sua vida. Sem poder estar juntamente presente em ocasião de mais necessidade, definha agonizante em canto qualquer, parecendo ser nada. Quem gera não tem direito de posse sobre criação de ninguém. Alias, não gerou sozinha, teve comparsa para isso, e até indago se na divina hora, não pronunciou as palavras, “pode”. Mas que poder. Que ousadia de santa pessoa que assim se compromete de ação. Não sabe que mal está fazendo. Imagine você, se agora não pudesse estar aqui ao lado de rebento, brincando de saúde em pé e de pé no chão, correndo, pulando, e melhor, sobre seus olhos atentos e de amor carinhoso. Assim meu caro, indago sua filosofia de vida em torno de tamanha descompensação dessa aventura e suplico para que de modo algum deixe em branco a idéia da separação. Logo digo, a separação de outros. E com luta de liberdade, em prol da ingênua criança que de nudez vem ao mundo, nudez de alma e de espírito, sem reboque algum em seu caráter, não merece tal punição de mãe desnaturada, e que já encontrei muitas. Peço seu rogo e sua compreensão.

    Vai lá, conta para os amigos.
    Toda terça-feira e quinta-feira, um novo capítulo.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Capítulo 11

Texto sem revisão. 
Bom senhor, não tardando a perceber o início da confusão, mais do que depressa tomou a palavra e fez do seu discurso algo inesquecível para todos.
  • Caros irmãos aqui presentes. Nesse momento quero consagrar a todos que não mediram esforços para encontrar Ceres e Cleomar na mata do norte desse lugarejo. Muito se diz a respeito do paraíso, mas em cada coração aqui mesmo nessa praça, podemos encontrar nosso éden. Basta para isso darmos as mãos e rezarmos pela Santa alma de Nossa Senhora da Conceição, agradecendo pela glória obtida, e não nos esquecermos de Santa Clara que iluminou nosso caminho. Mas antes de rezarmos unidos pela mesma voz, quero aqui conclamar a presença do motivo desse festejo. Muito se diz de meu nome, mas quem só disse a respeito das luzes de Nossa Senhora e de Santa Clara foram Cleomar e Ceres, que aqui feitas pessoas acanhadas em um canto, largado pela timidez, ainda não foram condecorados como merecem. Quero chamar ambos, para agora de vez em sempre, resolver essa questão em público para não se ter mais dúvida a respeito do ocorrido.
As pessoas citadas pelo Padre encaminham-se para o palanque. Santo Padre abraça ambos, e continua...
  • Povo de Conceção dos Altos. Que aqui é testemunha de fato ocorrido e atribuído a mim, mas que de verdade, não é bem assim. Explico. As duas pessoas estavam exaustas pela caminhada de dias, e pela fome e pelo medo da morte e do Demo, que em seus relatos fica muito evidente. De sorte e de relampejo, saí em direção que ninguém ainda havia tomado. Segui trilha por baixo do penhasco como é de conhecimento de todos. Ali em emaranhado de espinhos e de cipó, é fácil se perder e andar em círculos. E foi isso que aconteceu. Mas com a fome e com a sede, delírios sempre aparecem em forma de pesadelos. O que quero dizer é que quando dormimos na mata, as luzes das velas que levávamos podia ser vista ao longe pela escuridão da noite que se fazia sem lua. Cleomar e Ceres, nada mais viram pela manhã daquele dia, bem um pouquinho antes de amanhecer, do que as luzes dessas velas, e confundiram com milagre. O milagre sim aconteceu, mas não foi esse das luzes, e sim da fé de todo o povo que rezou pelo bem estar de ambos.
Todos pareciam estar chocados com as palavras de Santo Padre.
  • Ainda quero dizer, que milagre não operei nenhum. Quem realizou foram todos vocês.
Cleomar em desacordo com o discurso de seu redentor, não deixou por menos.
  • Santo Padre que a minha vida eu despejo se preciso for, pela sua. Da sua fé não tenho dúvida. Mas, Santo Padre está me chamando de mentiroso?
Interfere Darci Sebastião:
  • Calma Cleomar! Tenho a certeza de que modo de falar de Santo Padre não é de ofensa a sua pessoa e sim de confirmação de seus entendimentos.
Bom de conversa como era, e sem delicadeza nenhuma nos modos, segurou Ceres e Cleomar pelo braço, do mesmo jeito que se dá nó em porco. E continuou:
  • Cleomar presta atenção. Santo Padre quer dizer com seu palavreado bonito de homem estudioso, que você estava em estado de total desespero. E é justamente nesses momentos que as pessoas são atendidas pelos Santos de toda crença.
Vem o padre e diz:
  • Meus queridos, não vamos agora distorcer o que eu estava dizendo. O que disse foi bem claro. As luzes eram as luzes das velas.
Darci:
  • Não entendi, quer dizer que agora alem de chamar Cleomar de gente que não afirma a verdade, vem dizer que estou distorcendo os fatos?
Deorani põe mais fogo ainda:
  • Não se incomode com isso Santo homem de vestes pretas. Querem fazer com sua pessoa a mesma coisa que fazem com todo mundo aqui. Querem que a verdade seja só a que querem, e a de mais ninguém. Santo Padre me perdoe, mas entendi direitinho cada sílaba declarada por sua santa boca. Espero que com isso, não se intimide de vez e vá abaixar a cabeça para essas pessoas que querem dominar a tudo.
Severino intervem:
  • Há, já entendi. Deorani esta de complô com o cervo de Deus pensando que vai assim, conseguir desestabilizar a harmonia que há muito tempo reina em nosso vilarejo. Tenha dó. Que covardia usar assim pessoa de tanta fé.
Deorani:
  • Pois fique sabendo que eu e Santo Padre, desde o sumiço estamos sem falar, não por inimizade, mas pelos fatos ocorridos.
O povo lá embaixo, se deliciava com a discussão. E a festa prometia.
Sentado em um banco meio afastado, Ken assistia também a cena bucólica.
Disse-me certa vez, depois de relatar esse episodio: “não adianta dizer a verdade para quem não quer escutar. As pessoas só ouvem aquilo que querem ouvir. O que satisfaz aos seus egos, e a verdade? Ken sou eu para dizer?”.
Santo Padre:
  • Haaaa...! Severino há alguns dias entrou pela porta da casa de Deus esbravejando feito um touro e me acusando de não ter feito nada para ajudar. Agora me insulta perante todo o povo e espera ter meu apoio? Severino meu filho, vamos acalmar nossos ânimos e nos recolher, que parece que essa noite não está sendo muito feliz para nossos espíritos.
O povo inflamado resolve participar e parece que a situação começa a sair de controle.
Povo:
  • Cadê a fé de Santo Padre?
  • Santo Padre não é Santo.
  • Estão chamando os milagreiros de mentirosos.
  • Queime sua descrença na fogueira.
Não esqueça de avisar os amigos.
Toda terça-feira e quinta-feira, um novo capítulo.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Capítulo 10

Texto não revisado, esccrito no calor da notícia.

Como podem ver, as coisas pareciam que estavam mais calmas, mas o alvoroço da ocasião mal tinha começado. Sem poder confirmar uma história ou outra, as coisas pareciam estar andando para uma página muito perigosa. Ken se divertia com tudo, e de longe sempre acompanhava cada atuação. De certo mesmo, só a deliciosa e espantosa história dos perdidos que a cada dia acrescentavam mais detalhes.
Severino Conceição por admiração e devoção a Santo Padre, resolveu por bem realizar um festejo de honrarias para os perdidos e em especial para o grande servo de Deus que honrando a sua veste, foi o causador do desmanche que tal câncer poderia ter causado. E assim foi feito. Arredado de vontade a festança saiu-se melhor que o esperado. Sábado acabado. Vitória de Crença Padre. E no coreto da cidadela, a música se fazia presente. Gente chegando, falando. E nada dos principais artifícios da festa apresentarem-se para o povo que clamava por mais histórias.
No palanque montado as pressas, subiam cada hora um, e fazia seu palavreado em honraria ao herói Padre. Santo Padre que assim de então era agora chamado, tudo escutava da sacristia, e ficava a implorar por mais um milagre para resolver o problema. Sabia perfeitamente o que havia acontecido. Mas não podia falar. A fé de seu povo estaria sendo colocada a prova. Melhor não dizer a verdade. Mas, também, não dizer mentiras. Omitir meu caro é a palavra.
Neste ínterim, o tempo de Ken estava ficando escasso. Seu fiel companheiro, o adestrador de humanos chineses estava por esperá-lo. Sim, seu belo e grande peixe dourado. Alimentá-lo sempre foi um problema para Ken. Dizia o sábio:
  • Grande e honorável amigo de histórias incontáveis. Mais uma vai ficar sabendo agora. Antes que tenha que partir para alimentar meu grande e demasiado importuno, mas leal amigo dourado. Sempre com uma artimanha escondida debaixo da manga. Chiii... Peixe não tem manga. Mas creio que você entendeu. Antes de retornar para meu escravo lugar, tenho que realizar tarefa quase que impossível para saciar a sede de honorável amigo dourado. Acontece que tenho que encontrar parceira para amigo dourado. Ele muito sozinho. Sem muita coisa para fazer, fica só a pensar em como me dominar. Já estou muito cansado disso. E é hora de admirável comedor de ração encontrar uma outra parte de seu destino. Fui responsável pela sua castração particular. Agora tenho que reparar meu erro, e soltar ilustre peixinho dourado em lagoa de fino trato, para exterminar de vez, o ego de grande amigo. Sim senhor, depois de anos incontáveis de parceria com esse admirável amigo, melhor seria cada um seguir destino que melhor lhe convenha. Sábias palavras vêm do mestre que diz: “enquanto se busca o bem ou o mal, não se está acima de nada disso”. É isso que vim fazer em terras tão distantes. Encontrar um lugar ameno e de segurança para meu amigo de noites intermináveis.
Assim era Ken, parecia escutar a tudo e a todos, mas nem estava para os acontecimentos. Melhor dizendo, participava, entendia tudo, não interferia de modo algum, e principalmente, não estava realmente lá. Ken estava a onde? Quero dizer, estava presente, mas não estava sendo consumido por história nenhuma. Não era parte da história, fazia a sua própria.
E, por falar em fazer história, em cima do palanque todos aproveitavam para tirar uma casquinha. Com a chegada de mais gente e dos convidados principais, Deorani não poderia deixar por menos e foi ao palanque.
  • Povo dessa terra ordeira e quente de amor. Como é quente a igreja de Santo Padre. Igreja essa, que com certeza iluminou a idéia de seu servo para encontrar em trilha obscura o segredo do certeiro paradeiro dos perdidos de Deus. Já era hora de todos saberem a verdade do sumiço. Conversando diretamente com Ceres, fiquei, a saber, do que se tratava. Estavam a caçar santo paraíso perdido de Santa Conceições. Oras vejam vocês. Imaginavam que Severino Conceição, que fala grosso, que todo mundo bem sabe porque, tinha encontrado tal lugar perdido, e tentavam seguir rumo de viagem de Severino para saber se é ou não é.
Ao longe se escuta uma voz muito grossa e firme que diz:
  • Se for ou se não é o que?
Aproximando-se lentamente com andar de manequim, lá vinha Severino de lenço rosa no pescoço. Subiu cada degrau do palanque permanente da praça, como se fossem feitos de mármore italiano. Ouviu alguns risos enquanto se dirigia para o último estágio da escada, parou, olhou para traz com charme e elegância e disparou seu palavreado grosseiro:
  • Segue aqui quem tem algo com isso. Quem não tem que não meta o bico, porque se tiver, vai ter que explicar para mim.
Deorani calou-se por um instante, era mais seguro. Severino olhou firmemente nos olhos daquela criatura que esbravejava palavras contra a sua pessoa. De irritação falava:
  • Bem quero lembrar a todos de que não fui eu que comecei esse balburdio. Tenho muito mais o que fazer, do que ficar a falar da vida alheia. Mas quero dizer, e por isso vim até aqui, que quem se incomoda com isso sou eu e minha família.
Ouviu-se um grito de longe pronunciado por Darci Sebastião.
  • Bem lembrado.
Severino continuava:
  • Caros amigos e amigas. A muito me conhecem e sabem quem sou e o que faço. Assim também, como sabem quem é Cleomar. Qual de vocês aqui estariam dispostos a enfrentar dura jornada com Cleomar? E Ceres? Quem teria coragem para tal. Acham que Cleomar está mentindo? Pode ser o que for, santa pessoa que Deus a de perdoar pelos seus pecados, mas mentiroso, na minha família não tem não.
Deorani interfere:
  • Espera um pouco pessoa desordenada. Quem falou em mentira aqui? Por um acaso deixei sair pela boca palavras que injuriam sua família? Que conversa é essa?
Vem Darci em direção ao palanque feito um jumento desembestado. Sobe os degraus de dois em dois pela pressa. Toma a frente da conversa, e com sua fala macia, aproveita a ocasião para deixar o povo em alvoroço com a chegada de Santo Padre á praça do vilarejo.
  • Casos à parte de qualquer rivalidade, desejo que essa conversa mais do que ninguém acabe um dia de vez, mas parece que agora não é hora e nem lugar, pois Santo Padre, como bem podem ver, está se aproximando deste festejo e esperamos que seja de ordem e harmonia. Nossas diferenças vão ficar para outra hora e vamos dar uma viva a Santo Padre.
E o povo no embalo gritava, “viva Santo Padre, viva, viva” repetidas vezes.

Gostou? Avise os amigos.

Toda terça-feira e quinta-feira, um novo capítulo.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Capítulo 9

Texto não revisado... correções serão bem vistas... 

Ceres disse para o Padre que iriam esperar Severino depois do Desfiladeiro da Morte e que o seguiriam por baixo, no pé dos barrancos e sempre com uma distância apreciável. Desse modo para quem não tem experiência em perseguição fica fácil se perder, ou no mínimo perder a trilha. Fez o que ninguém havia feito, seguiu em direção ao desfiladeiro e depois de passar sua parte mais aguda desceu e seguiu rumo norte por baixo, como Ceres havia dito. Em pouco tempo encontrou vestígios de caminhada já passada há alguns dias. Seguiu e seguiu com os fiéis em procissão. O dia acabou e todos dormiram com velas acessas na mata.
Assim que raiou o dia, partiram em direção certa em busca do desconhecido. E para o espanto de todos, o Padre acabava de encontrar dois corpos moribundos estirados na mata espinhenta e horrenda de Rio Acima.
Ao retornarem para a cidade com os dois corpos mais mortos do que vivos Severino caiu de joelho no solo da praça ao pé da escadaria da igreja.
  • Que Deus me perdoe por desafiar seu cervo fiel e destemido. Que Deus me castigue se considerar que minhas palavras foram de má fé. E por fim, que Deus abençoe esse Padre bendito e que seja tua carne eterna diante de todos. E que santo possa ser declarado um dia. Deus abençoe o Padre.
A cidade comovida gritava aos brados: “viva o Padre. Viva” e seu nome fora citado em pouco tempo pelos quatro cantos da região.
Ken acompanhava tudo mais do que atentamente. Sempre beliscando um punhado de arroz que carregava no bolso. O chinês não queria se envolver de forma alguma. Apenas apreciava cada momento saboreando cada situação, para depois mais tarde poder simplesmente estar contando a mim.
Padre se tornando herói trouxe novos forasteiros para a cidade. Todos queriam conhecer o Senhor que havia livrado pessoas da morte. Suas missas passaram a ser de casa cheia. Mais gente chegando do que saindo, mas com isso a cidade estava inchando.
Ceres e Cleomar juravam de pés juntos que a Santa os haviam salvado. Contavam:
  • Eu juro por tudo que é mais sagrado e espantoso desse mundão afora que o que salvou nossas vidas foi algo maior do que qualquer um pode imaginar.
Isso dizia Cleomar. E continuava em uma conversa em um banco da praça a alguns transeuntes, amigos e curiosos:
  • Nós estávamos mais do que de mãos ateadas. Parecia o inferno vestido de cinza. Nada de nada para qualquer lado que se encontrava horizonte. O demo deveria estar à espreita em todo canto a espera de nossa requebrada. Queria mesmo era o nosso catumbi de forma arrojada e desprezível. No começo da peleja pela vida ainda tínhamos forças para respaldar nossos pensamentos em Nossa Senhora da Conceição. Mas com o passar dos dias de sol tenebroso foi-se esvaindo a perseverança de se encontrar o caminho da salvação. Nesses dias de valente caminhada pelas lacunas da verdade, o fim olhava bem próximo do acerto. Era mais do que certo a morte. Até rei urubu sondava nossas paragens a fim de vasculhar nossas mentes para saber ao certo o dia do previsto. Mas nossa Santa Nossa Senhora não deixou. O demo se aproximou feroz em uma noite de escuridão sem lua. De madrugada a bicharada da noite que é escassa pelas bandas de lá se calou. Acordados! Com fome estávamos e sem água, de boca com trecos brancos nos cantos cheirávamos a desconfiança de que algum de certo estava à espreita no mato. Era o Demo safado tentando aguçar nossa vontade. Lutamos com todas as forças pelo que vinha. Nada se via, apenas o silêncio escuro da noite. Já sem os trens, que de peso grande abandonamos no caminho. Entrincheirados ficamos em uma vala rasa. Já era a cova definitiva para o lacaio, mas resistimos. No céu vimos buracos que se abriam e dentro deles demônios incontáveis que pareciam pular em nossos ombros. Sacudimos o corpo como se queimando pólvora em direção do matuto. Lá estava ele bem a nossa frente. De chifre na mão queria mais do que a alma. Queria o cerne do corpo. O coração. Saímos da vala em debandada assustada e sem rumo. De certo, aí nos perdemos mais. Os espinhos nos arranhavam e a cada gota de sangue jorrada o capão ria alto em minha cabeça. Por fim, mais cansados e imundos do que nunca, de certo nem o diabo ia nos querer fedendo tanto no inferno, fugimos e escapamos da morte por bem pouco. Rezamos o resto da noite e pedíamos para que a luz nas trevas fosse aparecendo. E para nós um caminho certeiro fosse trilhado. Mas caminho de vida e não de desencarne. E foi o que aconteceu. Bendito seja a Luz maravilhosa que dia seguinte no poente de resplendor apareceu para indicar a Santo Padre que o dia da gloria estava chegando. Bendito seja Santo Padre que seguiu a Santa Luz de Santa Conceição. E de Santa Clara que alumiou nossas almas. Santo Padre achou por que a outra Santa quis indicar para ele a distância certeira de um tiro de salvação.
Já Ceres era mais sensato e parecia não ter delirado tanto. Em outro canto da praça contava a mesma história:
  • Que de noite e de dia tudo era a mesma escuridão. Tontura e zumbido no ouvido não faltava a atear sem parar. Sem mesmo já saber de que dia se tratava, só andava de teima que tínhamos de querer viver. O mais assustador mesmo foi quando Cleomar se emaranhou no mato atrás de não sei o que. Gritava afoito o nome de Santa Clara e de tudo mais que lembrava de Santo. Espantado estava eu com tamanha desnudes. De corpo nu parecendo corpo açoitado de galho de marmelo, via-se em sua face o desespero. Queria e parecia que iria pular de um barranco. Pulei primeiro com fraca força que ainda tinha em cima de seus ombros. Em uma vala caímos. Eu por cima do corpo de Cleomar. De fôlego agitado gritava em desespero: “sai demo, bicho chinfrim, em cima de mim só Santa Clara, urubu tinhoso, vá na derradeira arrancada pro seu inferno de mentira”. Foi uma luta sem trégua acalmar Cleomar. Mas, antes do derradeiro suspiro de consciência, ou de devaneio, ainda saiu em disparada pela mata. Deu trabalho botar a roupa e calçar botas na pessoa agente de Deus, conforme Cleomar mesmo dizia. Respeitei a ocasião. Melhor dizer que vontade não dava nenhuma de tanta fome e indignação pela situação. O mais acanhado foi depois quando voltou os sentidos da besta que se instalara no corpo. Sem jeito, ficava a espreitar o mato como esperando um treco saindo de dentro e pulando em seu pescoço. Foi duro, mas acabou. De verdade o que sempre falamos é a Santa luz que de longe vimos juntos e disso os nossos depoimentos são unânimes em dizer que Santa Conceição operou mais um milagre. Só ela para indicar ao Santo Padre o derradeiro paradeiro da morte certa que estava por vir. Na tarde, na pior delas, a luz apareceu ao longe. Indicou o caminho certo tanto para Santo Padre como para nós perdidos de vida e já ficando sem alma. Mas, finalmente, tudo terminado. Sem dor, sem sofrimento maior, a não ser pelos dias de agonia de Deorani, Severino, Darci e todos os outros envolvidos que embora não tenham encontrado o caminho certo da trilha, ajudaram com suas rezas a Santo Padre.

    Serviço gratuíto é assim mesmo.... o povo indica boca a boca.... obrigado por estarem me ajudando....

terça-feira, 28 de junho de 2011

Capítulo 8

  •  Cleomar, quanto ainda temos de água?
  • Um pouco mais para uns dois dias racionando e não deixando pingar nada.
  • E a comida?
  • Dá para o mesmo tempo, depois disso, melhor encontrar algum lugar logo.
O dia estava quente demais. Quando entardeceu e o canto dos poucos pássaros escasseou, tiveram que encontrar um outro local para passar mais uma noite. Resumindo o suplício do acaso, depois de vários dias de sua perdição estavam já entrando em desespero. Cleomar e Ceres famintos. Estavam entrando em um estágio que comeriam qualquer coisa. E isso literalmente. Olheiras fundas, a pele amarelada, e o sol na cabeça completava o quadro de desespero.
Ceres, um ser exausto abaixou as calças, sentou nos calcanhares e defecou. A fome era tanta que após o ato, se debruçou em cima do pequeno monte e comeu suas próprias fezes.
Cleomar olhando aquilo lambeu os lábios, retirou uma caneca de sua bolsa, urinou e bebeu. Ceres fez o mesmo, mas quando ia beber Cleomar investiu contra, e a caneca derramou. Pularam no solo e lamberam a terra úmida, mas o que apenas conseguiram foi encher suas gargantas de mais pó.
Desolados, sentaram meio encostados, meio desmaiados, e ali permaneceram por bom tempo.
No início da noite daquele que parecia ser o derradeiro dia, vira no horizonte uma luz diferente que parecia chamar para uma viajem sem volta. A luz aos poucos se aproximava como querendo espiar o que estava acontecendo.
  • Ceres, o que é isso?
  • Cleomar! Deve ser a Santa que veio nos salvar, e em vez da dona morte nos levar de vez para o buraco, Santa Conceição veio intervir e salvar nossas almas.
  • Será?
  • Só pode ser, Cleomar, tem que ser. Arrume forças e vamos ao seu encontro, é nossa última esperança.
  • Vamos então Ceres.
E assim, os dois corpos moribundos e fétidos seguiram em direção a luz, mas apenas alguns passos deram e caíram desmaiados no pobre solo seco da região.
Ken estava ainda na igreja quando resolveu sair para ver mais de perto como andava a expedição de Severino e Deorani.
Severino e Darci dividiram sua tropa em duas fileiras. Andaram pelo resto do dia em busca de sinais, mas nada encontraram, apenas as pegadas do próprio Severino. Vendo que não teriam sucesso, pois a noite já estava baixando, resolveram voltar e iniciar as buscas no dia seguinte.
Por sua vez, Deorani, em busca frenética, saía sua tropa mais preparada. Levaram água e comida para vários dias e alguns equipamentos. Ao cair da noite dormiram no mato.
Nesse passo, passaram uma semana de buscas e nada foi encontrado. Nem Severino, nem Darci e nem Deorani haviam tido uma graça nessa empreita. Só o que restava era chorar pela alma dos seres desaparecidos.
Mas o padre parecia a cada dia mais nervoso. Andava de um lado para o outro em passo mais do que apertado. Parecia estar a espera por notícias, e estava, mas sua preocupação com algo que ninguém imaginava o que poderia ser era bem maior.
Rezava, orava, e de hora em hora saía da igreja e dava uma volta pela cidade.
Ken me contou a respeito de uma das orações do padre que acabou escutando meio sem querer.
“Grande Pai que a tudo vê e protege. Sabe que nesse caso não posso interferir. Que estava sob juramento. E que não posso revelar o caminho secreto que de virada saíram para essa viagem sem volta. Que Deus Pai me envie um Santo Protetor para me aliviar essa dor e poder encaminhar meus pensamentos em direção de uma solução derradeira e verdadeira para essa situação. Como posso? Como resolvo isso? Serei julgado por essas mortes se ocorrerem? Meu Deus dê noticias de como posso resolver essa questão”.
Padre sabia para onde havia saído de rumo os empreiteiros da morte. Mas não podia contar. Sabia, pois, Ceres havia se confessado um dia antes da viagem para o rumo que haveriam de tomar e qual a finalidade da aventura. O Padre aconselhou que não fizesse essa viagem, mas como podem ver de nada adiantou. E agora o dilema. Não podia contar sobre a confissão mesmo sabendo que poderia ajudar. Então o que fazer? No instante em que o Padre terminava sua oração, entrou pela porta Darci de fala mansa feita jumento bravo.
  • Nada de nada seu Padre. Ainda hoje estava com esperança de poder encontrar pelo menos um vestígio que fosse, de um rastro que fosse, mas nada seu padre.
Entra na igreja também Severino logo em seguida, com passos delicados e de mão na cintura.
  • Então seu Padre, cadê a sua reza? Para que serviu? Ficou esse tempo todo aqui fazendo oração de velha chorona e não resolveu nada. Um homem a mais no mato poderia ser a diferença.
Essas foram às palavras que de verdade esclareceram as próximas ações do Padre. Gritou:
  • É isso, só Deus pode encontra-los. E eu como seu mensageiro hei de faze-lo. Saio agora em direção certa com os fiéis que aqui estão e queiram partir em romaria em busca da carne que se encontra em pavor, mas que vai encontrar a santa luz de Santa Clara.
Assim o Padre sai da igreja mais desacreditado do que nunca, mas com fé de que sabia de verdade onde estavam ambos.

Toda terça e toda quinta espero vc por aqui... mas, com uma condição, traga mais gente com você.... 

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Capítulo 7

Texto não revisado... correções serão bem vistas... 

Nesse momento o padre da paróquia local que a tudo assistia entrou em cena e resolveu tentar apaziguar as coisas.
  • Êpa! Pera lá, gente! Não é bem assim não. Vamos com calma e em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo tentar encontrar Ceres e Cleomar. Deorani inflamou-se com a questão e coloca palavras duras, mas que não devem ser levadas em consideração nem por mim nem por Deus, pois está escrito em seus olhos que quer mais do que ninguém encontrar a resposta para o sumiço. Deorani, vá com calma, eu imploro por Santa Clara que ilumine nossos caminhos e esclareça essa questão.
Nesse exato instante eis que surge na parada Severino Conceição e com seu vozeirão fez-se escutar:
  • Mas que diabos esta acontecendo aqui?
Colocou as duas mãos na cintura, levantou e abaixou os ombros e continuou com voz mais firme ainda:
  • Que negócio é esse de dizerem que eu dei sumiço em Ceres? Deorani! Escuta aqui! Ta de caso com Ceres e por isso está de tão grande ódio contra mim? Ou será que foi por não ter te convidado para meu jantar, onde apenas as pessoas honradas dessa vila participaram! O padre estava lá!
Deorani assombrou-se e não deixou por menos:
  • Fala grossa “desmunheca” de uma figa. Se for mentira o que digo que prove. E tem mais, quem quiser saber da verdade que se junte comigo nessa tropa e venha em direção ao norte em busca dos desaparecidos.
Padre não podia deixar as coisas piorarem e tentou mediar:
  • Calma gente! Estão todos nervosos com o acontecido e temos que manter a calma. Vamos para a igreja e...
Darci interrompeu com o seu falar manso e fino, subindo as escadas, feito uma mula sem beira:
  • Igreja padre? Igreja coisa nenhuma! Que meus conterrâneos me repudiem se eu estiver de erro. Mas se não estiver aceitem o que digo de bom coração. O caso é que Deorani, não sabe mais como atingir minha família e tenta caluniar meu lar de todas as formas.
Severino interveio e não entendendo muito bem o que acontecia pediu explicações. Delicadamente sacando de seu lenço cor-de-rosa do pescoço, passou a seda pelo rosto para secar o suor da testa.
  • Darci! Vai desembuchando logo e conta de uma vez por todas o que está acontecendo com Cleomar que ainda não entendi direito.
Deorani não deixou por menos.
  • Não entendeu por que não quis, alias, já até sabe, onde está um, está outro, se é que Cleomar já não está a salvo em sua casa saboreando quem sabe sangue do...
O padre novamente tenta interceder.
  • “Crendospai”. Divino seja. Abençoado seja Nosso Senhor. Deorani! Não vamos alimentar com mais ódio esse dilema de acusação sem beira.
Darci Sebastião tomou a palavra, puxando o padre fortemente pelo braço. Mas com a voz doce feito um canário não tinha quem resistisse.
  • Severino, eu conto a você de imediato o que está acontecendo. Cleomar e Ceres sumiram desde umas horas antes de você sair para sua empreitada. Não se sabe para onde nem para que. Sabe-se apenas que sumiram. Raptados, passeando, ninguém sabe.
Severino de olhos arregalados, assustado e pego desprevenido não deixou por menos. Partiu para um ataque frontal.
  • Que? Então é isso. Povo de Conceção prestem mais atenção ainda nisso que agora lhes digo para não serem mais enganados com palavras de gente que só pensa em si e em seu... (disse o final dessa frase olhando para Deorani). Bem capaz de Deorani ter engabelado Cleomar e feito assim gato e sapato de tal pessoa. Acho que em breve vão pedir o dinheiro do resgate, mas pago o dobro do que me pedirem para quem primeiro me trouxer notícias do paradeiro de Cleomar. Quanto a Ceres, como pessoa envolvida no sumiço, não merece minha atenção.
O povo se agitou e muitos já dispostos a de imediato começar a busca só não o fizeram por Deorani encabeçar novamente um discurso.
  • Escutem se me consideram de verdade gente como vocês. Coloco aqui minha palavra em jogo e prometo sumir da cidade se provarem que Ceres tem algo a ver com essa história toda. E, para que não seja negada a minha palavra, peço que me sigam em romaria pelas matas do norte em busca do quem sabe cadáver de Ceres.
O padre se comove.
  • Creia Deus pai todo poderoso. Que isso não seja permitido. Que a vida esteja entre eles e que os encontremos com vida e sãos.
O público se dividiu. Uma parte seguiu Severino e Darci a outra debandou para o lado de Deorani.
Cada um para um canto, cada qual em uma direção. Prontos a descobrirem o paradeiro de ambos.
Ken a tudo assistia do alto da torre da igreja que não era tão alta assim. Pensativo observava com deleite de quem sabe as respostas, mas não pode interferir. Contou-me que já sabia da resolução do caso antes mesmo de acontecer o ocorrido. E disse-me com antecedência de que o padre era quem iria desvendar o caso. O padre? O único que não saiu em busca de ninguém?
A única coisa que fez foi organizar uma celebração de preces em vigília para conseguir uma graça do divino. E em silêncio absoluto aguarda notícias dos fatos.
Severino Conceição e Darci Sebastião rapidamente mobilizaram uma patrulha com vários membros. Saíram em duas direções diferentes divididos em duas equipes. Severino Conceição melhor do que ninguém conhecia a região e se dependesse disso, Cleomar e Ceres estavam salvos.
Deorani mais rápido ainda organizou seu comandado para irem ao encalço de Ceres. Em rumo ao norte.

Aqui só tem propaganda boca a boca... me ajude....
terça-feira e quinta-feira, um novo capítulo....