terça-feira, 30 de agosto de 2011

Capítulo 21

TExto sem revisão

Enquanto isso Ceres e Cleomar se perdiam ainda mais.
  • Ceres! Vamos voltar, Santa Clara e Santa Conceição de verdade não pode estar aqui tão fundo. Apenas estamos descendo e nada mais.
  • Cleomar! Tem algo na frente, veja. Tem clarão feito dia que parece estar saindo de paredes, em pedras. Tem barulho de murmúrio. Será o paraíso distante dos homens e Santa Conceição que veio nos receber?
  • Tem razão, minha fé me leva onde quero ir. Eu sabia que íamos conseguir. Vamos, anda rápido feito flecha certeira. Temos que nos apresentar a Santa Clara que iluminou nosso caminho e pedir que coloque nossos nomes em santo livro.
  • Isso vamos, sem volta para a luz mais intensa que de tão clara e distante parece estar a nossa espera. Lindo túnel, linda luz, vamos, vamos...
E de mãos dadas entraram pela garganta do túnel.
Capitão Serere estava já na porta da entrada da gruta. Quando viu Severino saindo.
  • Capitão! Chegou aqui em boa hora. Devemos repousar nossos ossos para ainda de madrugada partir em direção a povoado.
  • Cara pessoa conterrânea. Vendo vosso corpanzil tão disposto, vejo que nem descanso é preciso a vosmecê. Carece de ter cuidado ainda. Há de chegar, se é que já não chegou Ceres com Cleomar.
  • Cleomar? Que diabos está acontecendo? Não ia mandar de caminho certeiro para o povoado Cleomar e quem mais viesse?
  • É verdade pessoa conterrânea. Mas devo advertir que de disparada encontrei, mas cabras pelo caminho. Darci que larguei em acento de bosque e Deucídio com Deorani que despachei de volta para sertania de lugar seguro.
  • Cleomar? Capitão! Não pode ser. Só se estavam bem atrás de mim e pensei que fosse voz. Haaaa! De certo que eram eles mesmos a andar de rastro. Pego Ceres e Cleomar e faço um monte de nada em dois tempos.
  • Mas Severino, que tem sempre honra lavada. A modo que pergunto por onde foi que vosmecê entrou na danada da gruta?
  • Capitão! Não sei se sabe, mas tem caminho mais certo pelo penhasco do lado de baixo. Pela estrada das areias quentes. Mas acesso é bem mais difícil que domar mula brava.
  • Então vai ver que Cleomar entrou por esse lado também.
  • Com certeza Capitão. Não fica longe daqui. Vamos dar a volta que chegamos lá com dia bem claro e com bastante luz ainda.
  • Severino! Tem mais uma coisa que acho que não percebeu por preocupação de encontrar agora Cleomar. É Darci que se largo na moita para passar noite inteira é capaz de desconfiar que aconteceu alguma coisa e querer sair de encalço na minha perseguição. Melhor eu voltar e trazer Darci até aqui.
  • Não Capitão. Seria deveras perigoso mais gente ainda nessas bandas. Segredo certo de quem sabe isso é o Capitão e um danado de um Chinês que a muito não vejo. Deixe Darci pra lá.
  • Mas e se ele se perde Severino? Não vai ficar com remorsos?
  • Capitão! Veja lá. Ta certo que é homem honrado. Mas veja lá o perigo. Remorso não há de existir. Darci é mais valente do que eu em mata. Não tem por que se preocupar. Deixa. Vais estar mais do que bem acostumado. E depois, se uma cobrinha ou outra aparecer, com certeza vai ter janta de carne fresca por lá.
  • Ta certo Severino. Vamos ao encalço de Cleomar que é mais certo de entrar em buraco errado e nunca mais sair.
Assim fizeram. Deram uma baita volta que era bem mais seguro que retornar pela gruta por caminhos tortuosos. Encontraram os rastros de Cleomar e de Ceres bem perto da entrada da gruta. Mas, espantosamente, não existiam rastros do portal para dentro. Como se tivessem voado. Sumiram. Sem deixar pistas. Até parecia que um enorme urubu rei, voando baixo, com suas garras havia levado os dois para bem mais longe. A surpresa era grande, sem saberem o que fazer resolveram entrar pela gruta e procurar por outros rastros. Passando horas, sem nada encontrar, o que se podia fazer era voltar em busca de Darci para uma empreita mais certeira. Voltaram.
  • Grande Darci Sebastião, que a glória de ser grande nunca se afaste de vosmecê.
  • Capitão! Vejo que demorou. Mas a demora foi em boa hora. Por aqui até que apareceu cobra de veneno maldoso. Mas não sei por que. Quando me viu, fugiu como se tivesse visto a morte de perto. Estava até pensando em seguir o verme. Mas, prometi a Capitão que não arredava pé e fiquei quieto em meu canto atento para ver se o petisco voltava.
  • Não disse Capitão. Darci quase que arruma uma janta de primeira.
  • Mas que fazem aqui? Severino, já esta de volta? Não seria amanhã vosso regresso?
  • Sim Darci, mas tive que mudar planos. Capitão me disse que Cleomar se enroscou em meu pé e foi parar dentro de uma gruta.
  • Não seja arrevesado Severino Conceição. Capitão já me falou dos Caparaós e da gruta que esperança tinha de ser o paraíso. Mas vejo que pode se tornar nosso inferno.
  • Capitão! Acho que andou falando demais.
  • Calma Severino, Darci é sangue do seu sangue. Tem direito de saber bem mais do que isso.
  • Isso o que? (diz Darci.).
  • Agora não vai dar tempo para prosa. Temos que voltar para a gruta em busca de Cleomar e Ceres. Ah, se pego, mato. E Capitão ajuda. Não ajuda?
  • De certo que sim Severino. Mas antes tenho que levar de volta para a vila. Lá tem destino certo para Ceres. Deixa comigo que sei o que faço.
Desse modo voltaram para a gruta em busca de Cleomar e Ceres. Mas, já adianto que nada encontram. Nem rastro e nem nada.
De volta na vila de Santa Conceção dos Altos, de cabeça baixa, estavam sem esperanças de encontrar seus derradeiros desaparecidos. A cidadela parecia toda mudada. Sem padre, sem murmúrios pela praça. Estava faltando algo. E esse algo era Ceres que de alguma forma sempre se encostava a alguém para uma prosa. A praça era seu lar. Agora vazia.
  • Honorável amigo de tantas horas. Melhor seria dizer, de tantas páginas. Hihihihih... Parece que história está chegando ao fim. Mas ainda tem coisas para esclarecer. Pouco importa se o que os outros estão a fazer está certo ou errado. O que importa é o que eu mesmo estou fazendo. Faz-se o bem, sinto-me bem, se faço mal, sinto-me mal. Quem está preocupado com o que os outros estão fazendo, não tem tempo para olhar para si próprio. E o importante é estarmos bem em primeiro lugar, conosco. O resto é só conseqüência. O pior mesmo é não acontecer nada. E foi isso que aconteceu na vila por algum tempo. Gente entrando, gente saindo da trilha em busca de paradeiro de Cleomar e de Ceres. Mas nada acharam. Nem mesmo a gruta. Segredo que Severino, Darci e o Capitão, seguraram até a morte. Triste fim de tantos acontecimentos, mas o mais importante é o que sobrou. A lição meu honorável amigo. Isso sim é sabedoria. Não se importem com o que não tem importância. Não queimem idéia a querer descobrir coisas que não servem para nada. Isso é só falatório. E tem político que fala... Hihihihihi... Agora tenho que partir em busca de lago sagrado para derramar meu bom e amigo peixe dourado. Só falta ele para eu me desligar da minha escravidão. Teimei, achei que era bom para mim, final das contas? Fiquei foi com mais responsabilidade à toa do que precisava. Quando honorável amigo dourado sair em passeio em busca de companheira em lago de águas azuis e mornas, estarei mais perto de mim mesmo. Finalmente liberto. Como Ceres e Cleomar estão agora. Só queriam o paraíso e de uma forma ou de outra encontraram. Sejam felizes. Deorani tem que aprender que se não tem mais mendicância para saborear seu arroz, que de bom era bom mesmo, é por culpa sua própria.
Escutando esses dizeres do amado amigo que estava por partir, resolvi seguir o seu caminho por algum tempo para ver se descobria algo mais. O chinesinho não queria terminar a história, não queria falar mais. Andava como que com pressa de chegar a lugar distante sem rumo e sem volta. Nessa angustiante caminhada lado a lado com exuberante inteligência chinesa, pude notar que embrenhávamos pelo mato. Apenas às vezes dizia:
  • Anda, anda honorável amigo. Ainda é tempo de chegar aonde poucos chegaram. Venha, já que está disposto. Mas não se espante. Tem hora para tudo e de tão fantástico melhor é não contar, melhor é mostrar de vez e pronto. Mas tem hora certa de se chegar e de partir. Se perder o bonde, perde até a vida às vezes. Anda, anda.
Assim eu seguia atento e por onde passava parecia já conhecer. Às vezes corria feito doido mata adentro, às vezes pausava caminhada inóspita. Mas a paisagem me era familiar. Morros, montanhas, leitos de areia...
Quando eu menos esperava não era que estávamos de frente para um enorme paredão de pedra! Parecia ser o fim de uma jornada sem rumo. Não tinha mais a menor idéia de onde estávamos. Ken tinha consigo uma corda dourada que parecia lhe assegurar a maneira de como regressar. Incrível era isso. Pela virgem Maria e pelo amor de Pai Tomáz. Seria aqui então o local onde Ceres e Cleomar se perderam? Ken saberia onde eles estariam?
  • Honorável amigo de tantas penas. Chegou momento mágico de despedida. Agora como cada sentença é uma cabeça não me adianta prosseguir. Veja você mesmo o fim de cada um como quiser. Daqui para frente para mim é daqui para traz. O desconhecido que para mim já conheço é uma coisa. E como uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa você mesmo tem que ver para crer. Vá, e siga, e acabe de contar como entendeu. O que eu entendi até aqui é isso que você descreveu. Mas o que daqui para frente aconteceu é conclusão e está por sua conta. Não adianta querer a sua compreensão igual a minha. Não dá. Hihihihi! Parece loucura, mas de certa maneira é mesmo. Vai, que para traz eu volto e siga o caminho da tua intuição.
Assim, honorável amigo amarelo de corpo, e branco e preto de alma virou de costas e partiu. Pensei que ficaria, a saber, do destino de seu honorável amigo peixe dourado. Uma pena, mas isso eu termino depois. Por hora, melhor concentrar em tentar contar o que eu presenciei. Se vão acreditar, não digo que sim. Mas juro por tudo que é mais sagrado de que é o que aconteceu. Pelo menos para mim.

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Toda terça-feira, um novo capítulo.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Capítulo 20

Texto sem revisão

Capitão Serere fez sua opção. Cleomar e Ceres seguiram Severino que pensava que era Capitão bem as suas costas. Darci estava seguro em um pé de morro qualquer desde que não se aventurasse por banda estranha. Capitão sabia disso. E só faltava resolver a questão de como abordar Severino informando sobre Cleomar e Ceres.
Severino caminhava depressa demais para forasteiros destreinados conseguirem segui-lo de perto. Sabia que já tardava a hora do seu encontro com luz divina, e para manter seu compromisso tinha que acelerar mais. Resolveu fazer novo caminho para mais rápido chegar, mas este mais difícil. Abriu trecho de trilha a peito nu entre espinhos e geringonças que pareciam estar dispostas a impedi-lo de progredir. Mas a demora nesse pedaço de terra perdida compensava pela estrada que logo se abriria a sua frente. Subiu um morrote e deslizou sem parar montanha abaixo como se destino certo tivesse de só parar em centro da terra junto com o Senhor das trevas. De tanto arranhão em sua pele e de tanto tombo nas nádegas, se não fosse de caráter firme e enérgico, certamente que teria chorado de desgosto por ver suas vestes desfragmentarem sem poder fazer nada.
Caminho difícil demais para qualquer um. Capitão optou por fazer outro quase que de retorno onde Darci se encontrava. Passando de banda pelo cativeiro de Darci chegaria depois, mas era só o que poderia fazer. Severino chegou finalmente quase em seu destino. Um rio seco de chão de areia branca, fofa e brilhante que a cada momento de sol que já aparecia ficava mais intensa, caminhou quase que correndo sobre essas paragens. Lugar magnífico, dizia Ken.
  • Honorável amigo de vilarejo sossegado, tal estrada de areias quentes de águas sumidas existe sim. Como se fosse talhado em pedra dos dois lados com mais de dois metros de altura, largo, fazia um caminho sinuoso, mas bem definido por entre escarpas que pareciam ser esculpida a mão. Sua areia quente com o sol ardente traz quase que impossível à caminhada descalço. Lindo lugar para se ter à certeza de que se vai a algum canto. A natureza não poderia ser tão pródiga em fazer tal caminho para acabar em nada. Mas se viajante desavisado e cansado em final de trilha desanimasse, com certeza apenas veria um monte de pedras a sua frente. Depois de longa curva, vem uma reta que parece acabar em um paredão de pedra. Esse, não pode ter sido feito pela natureza. Duas colunas verticais e uma horizontal formam um grande portal com um fundo de pedra que parece ser o fim. Mas fim de que? Ken sabe! Mas Ken pode dizer? Será? Hihihihihihhhiii... Espere e verá...
Severino já conhecia essa entrada e essa trilha a muito, mas sabia que para se chegar lá era um caminho muito difícil. Por isso raramente o usava. Cleomar e Ceres estavam acompanhando o caminho de Severino a duras penas. Mas com sacrifício e perseverança de gente determinada acabaram por chegar no rio de areias claras. Ficaram admirados com a paisagem.
  • Ceres, santa pessoa, que lugar, que honra poder estar em estrada de Santa Conceição.
  • Cleomar! Pare de delirar de novo, vinha bem até aqui. É só uma garganta estreita com areia no fundo.
  • Que nada, é a entrada para o paraíso...
E ficaram por algum tempo mais admirando o local que esbanjava esplendor que praticamente andando no encalço de sua presa. Por fim, a muito custo chegaram ao final da trilha.
  • Mas o que é isso Ceres?
  • Calma, não vamos nos desesperar. Parece ser só um paredão no final.
  • Pois é, mas como sair daqui sem voltar? Vê marcas de Severino no chão indicando que retornou?
  • Não, como pode. Atravessou a parede.
  • Não delira Cleomar. Ninguém atravessa paredes de rocha, não ainda.
Mas foi o que aconteceu. Sentados a uns 10 passos de distância do rochedo, deixaram a maravilha do lugar invadir suas almas. Acostumando com a paisagem, parecia que se deformava a cada instante. E o inesperado e inacreditável aconteceu. As sombras começaram a se fundir e onde parecia apenas uma rocha começou a tomar outras formas. Eram ilusões de ótica que o local proporcionava. E em breve notaram que seria mais do que possível transpor a pedra. Afinal, sombras e detalhes enganam os olhos. Aproximaram-se e encontraram a tão sonhada passagem. Entraram.
Severino quando penetrou pela gruta, foi direto andando pelo labirinto de rumo certeiro. De tanto andar por ali, cada vez um bocado, já tinha elaborado um mapa em sua cabeça. Conhecia como ninguém cada câmara, cada sala. Dirigiu-se para uma em especial que ficava em alguns níveis mais para cima. De tamanho descomunal era uma sala redonda com uma fenda no teto que parecia ter sido cortada por serrote de dez braços de força. No centro um altar com pedra polida como base. E em baixo uma caixa de pedra que guardava um imenso tesouro. Um crânio de cristal em tamanho natural, lindo e perfeito. Quem poderia ter feito aquilo não se tem idéia, nem mesmo Ken sabia, mas desconfiava.
  • Honorável amigo de santa história. Agora chegou a hora de saber de coisas que até aqui desconhecia. Sem muito jeito para rodeios, vou ser mais relator que autor. Nessas terras de ninguém a muito se conta histórias e lendas de um povo que em épocas remotas poderia ter vivido nesse local. Eles eram chamados de Caparaós. Mas essas colinas e morrotes e serras tem tantas histórias que nem sei por onde começar. Acho melhor, ser pelos Caparaós mesmo. Se andar pelas entranhas dessas grutas, vai encontrar como Severino encontrou, restos mortais em forma de esqueletos, muito antigos. Diz a lenda que Tamandaré que era o povoador da terra e seus familiares para fugirem da grande catástrofe que inundou toda a região, refugiou-se em terras mais altas. Tamandaré teve vários filhos e filhas e entre as meninas uma de causar inveja aos homens. De cabelo muito negro e dentes alvos se destacava pela beleza. Mas essa beleza teve um preço. Certa vez surgiu no povoado uma estrela brilhante com cores variadas, que soava tons melódicos e agradáveis. A população da época ficou deslumbrada com toda a harmonia que reinava na tribo. Mas, os visitantes da estrela brilhante, não deixaram de notar a beleza da jovem. O líder resolveu ficar com a filha de Tamandaré. Mas este, por sua vez, a tinha prometido ao Deus Rudá. Grande e admirável amigo Rudá, que abençoa os corações dos homens, dando-lhes a dádiva do amor. Sua filha esguia e rápida, na mata se escondia, perseguida sem piedade e já não vendo saída pediu a Rudá proteção. Esse, por sua vez atendendo ao pedido e vendo o desespero da jovem a transformou em pedra, que pode muito bem ser vista até hoje em forma de montanhas deitada com os seios para cima. Se essa tribo mais tarde se transformou em Caparaós não sei, nem preciso, tanto faz. Já passou. Mas para Severino e principalmente Capitão, é imprescindível adorável amigo.
De Severino Conceição, posso dizer que sabia muito bem o que fazer com o crânio de cristal. Colocava o mesmo, em cima da laje polida em uma base que perfeitamente se encaixava com o crânio. Exatamente às 12 horas de cada dia, o sol estando mais a pique, reentrava pela fresta do teto da gruta diretamente sobre o crânio. Esse ao absorver a luz a multiplicava em milhares de feixes coloridos para o seu interior. Ao olhar a têmpora de tal crânio, podia se ver imagens perfeitamente compostas de símbolos e coisas que mais pareciam hieróglifos. Santo Crânio abençoado. A cada dia, com a luz em certo grau, mas com certeza, diferente, mostrava e formava uma imagem diferente. Virando-se o crânio pela base, as figuras mudavam. Bastando para isso o operador entrar em contato físico com o crânio. A cada dia sete de cada mês, Severino andrógeno, visitava o local e operava o crânio. Mas desta vez, teria uma grata surpresa.
  • Cleomar! Sabe para onde esta indo? Esta ficando mais escuro que breu.
  • Sei sim, basta andar e em algum lugar chegamos. Santa Conceição não nos deixará afoitos nesse escuro.
  • Calma, desse jeito em lugar nenhum chega.
O interessante é que quanto mais andavam mais as galerias pareciam que iam ficando mais iluminadas. Aos poucos o breu foi se transformando em um tom acinzentado, passando para um azulado e finalmente uma mistura de azul com bordo. O que proporcionava uma visão não muito clara, mas perfeitamente considerável. Não tinham a menor idéia de onde estavam e nem para onde rumavam. Apenas andavam, andavam em silêncio é verdade. Mas andavam...
  • Honorável e admirável amigo das causas curtas. Tem sempre lembrado de tudo. Mas ainda tem muita história para contar. Não quero que isso se torne um imenso calhamaço de papel bem escrito. É preciso ter sempre mais conteúdo do que volume. De nada adianta muita coisa de pouca valia. Vamos ver, segurando em sua mão conto o que aconteceu com o Capitão do mato. Verdade é que ele mesmo nunca vai dizer. Nem pode. Ninguém iria acreditar mesmo? Mas o fato é de que seu pai, guerreiro da tribo dos Tupiniquins, saiu em caça por essas paragens há muito tempo, quando ainda a coragem se misturava com teimosia. Alias, coragem de nada adianta sem conhecimento. Andaram por tudo quanto é canto em busca de boa caça. Como estava escassa, foram muito além de portal onde se conhecia. Atravessando montanhas ao longe encontraram uma tribo de mulheres que apenas uma vez por ano deixavam os homens entrarem na lua cheia para a festança. Três dias de grande festejo. Deram sorte de serem os escolhidos e estarem por lá naquela ocasião. Durante esses dias eram convidados a reprodução. Maneira que a tribo achava para não entrar em extinção. Os homens como sempre, ganhavam uma pedra trabalhada para usarem como amuleto. Os filhos gerados nessa festança, se homens eram devolvidos ao pai que se comprometia em retornar após o nascimento para uma segunda festança que nunca existia. Se fosse uma menina, de certo que o pai nunca mais a veria. E seria iniciada como guerreira da tribo. Capitão do mato, não era filho de Caparaó como dizia. Era sim filho dessa tribo que nunca ninguém viu. Pobre Capitão, sem mãe. Só contava a ele mesmo sua sorte. Andava pelas matas em busca de rastros e de vestígios que pudessem leva-lo a origem de tal tribo. Nunca achou nem sequer pequena trilha de indícios. Até na gruta se emaranhou diversas vezes e nada encontrou, apenas túneis que nunca teve coragem de andar por estar demais fundo.

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terça-feira, 16 de agosto de 2011

Capítulo 19

  • Texto sem revisão

    Calma pessoa afoita. Disso nada leva. Deixe que sua presa saia de fininho que não se mexe com a vontade de se ter vingança pela desonra que sofre por ter sido empreitada em vez de encurralar.
  • Capitão, que faz aqui sentado em baixo de aguaceiro sem tamanho?
  • Vim em busca de algo que nem imagina e nem precisa saber. Mas já sabe. Sua caça. Vim para ter certeza de que nada de mal iria acontecer nem a você nem a ninguém. Segue seu caminho em paz que dou jeito para que ninguém te perturbe em santa caminhada. Vai, confia, já confiou antes. Sabe que mereço crédito.
E assim, Capitão do mato, mais do mato do que nunca convenceu Severino que mais ninguém estava por lá. Severino seguiu caminho descansando a alma. Enquanto isso, ainda tinha Deucídio, Cleomar e Ceres para uma brincadeira de pega. Capitão bem esfolado de tanto andar por mundo sem beira, sabia como fazer e induzir caminho a navegante a esmo. De forma que à distância de Deucídio era considerada ainda. Levando em conta que a chuva estragou a trilha, nada mais restava a este a não ser se perder. Capitão sabia disso, e tinha uma questão a resolver. Era um homem só. E decidir qual o caminho mais certo era permitir que ou um afundasse-se em lama para ter o perigo de nuca mais voltar, despistando Cleomar, ou arrumar caminho de retirante para cruzar com Deorani a modo de nada mais acontecer, e volta segura estava estabelecida. Mas isso era permitir que Cleomar e Ceres chegassem bem além na trilha, já a ponto de não ser mais possível à volta. E com certeza chegariam ao rio de areia onde pegadas de Severino estariam bem a vista, já que chuva esvaindo-se acabava sua tarefa ali. Pensou calmamente por alguns instantes e resolveu. Entre a vaidade de um segredo e a morte de gente, mesmo que não amistosa, prefiro ser chamado de não cumpridor da palavra do que responsável por rei urubu ter alimento e saciar seus desejos. Segui esguio pela mata cortando trilha feito macaco doido fugindo de onça. Sabia o caminho que Deorani seguiria certo para não se perder e chegar em alto de penhasco. Só tinha que estabelecer um trajeto onde Deucídio entraria em contato com Deorani. De dois, mais fácil à volta.
Deu certo. Arrumou trilha parecendo um desvio, Deucídio nem forma tomou de consciência para saber que seu caminho tinha sido mudado em curva, em traço para o cruzamento com Deorani. Mas assim aconteceu. Cruzaram. E forte diálogo aconteceu.
  • Deucídio? Que faz aqui?
  • Que faz aqui pergunto eu. Não disse para Ceres que deveria vir para vingar minha honra? Cá estou, e você o que faz?
  • Eu? Isso não interessa, só sei que sua presença aqui estragou minha empreita.
  • Eu estraguei? Você arma toda confusão e fica querendo jogar a culpa em mim? Já estava certo antes de desconfiar de sua palavra e agora mais ainda tenho a certeza da sua desonra.
  • Cabra! Vê como fala com pessoa que não conhece bem e não sabe do que é capaz. Respeito pessoa de Deus para desgraça não acontecer aqui. Se bem que se isso ocorrer, culpa de um ou de outro, vai acabar caindo nas costas de Severino mesmo, e o que acaba sendo bom em tudo isso, é que doce vingança ocorre, mesmo sem pegar Severino.
  • O quê? Era um embuste para me empreitar?
  • Claro que não homem. Seja mais honrado com suas calças e deixa de besteira e moleza abalar suas pernas. Não tem embuste nenhum aqui. Acaso meu caro, acaso te trouxe em meu caminho, para que te salve da desonra de se perder na mata e ser esquecido como um doido que saiu em busca do paraíso perdido. Mais um...
  • Claro que não. Minha idéia é bem mais do que essa. Vim de caminho certo em busca de coisa certa e você não vai me atrapalhar.
  • Atrapalhar? Quer ir para onde! Não vê que não tem mais nada em chão? Nem uma marquinha sobrou depois desse molhamento todo. Entre seguir em frente e tentar descobrir caminho certeiro e salvar sua vida do afogamento na poeira que certo em dias se fará novamente por aqui, optei por te ajudar cabra. E volta comigo para povoado que é coisa mais certa a se fazer nesse momento.
  • Honorável amigo de alma branca de pele morena. Como pessoas mudam de discurso a cada instante satisfazendo suas vontades e pouco se importando com o que de fato ocorreu. De alma ferida e rabo no meio das pernas passou a salvador. Esse é o verdadeiro homem macaco. Hihihihhhiiii... Muda a cada momento. Engraçado que só pode ver isso quem esta a cima disso. Você, eu e quem mais acompanha privilegiadamente essa história. Tem gente que não vai gostar de ler isso. E ainda mais, vais fazer força para dizer que isso é historia para chinês ver... Hiihihihihiiii... Trocadilho mais sem graça. De verdade o que queria era essa água toda bem firme por mais tempo. Para ter a certeza de nunca faltar e honorável amigo dourado de companhia certa poder trazer e aqui perpetuar sua espécie. Mas ainda não vai dar e terei que esperar por momento certo para derramar a vida em outro local. A pressa, meu caro amigo essa estraga tudo. Tem que sempre se ter paciência com o tempo que é implacável e sempre cumpre seu destino. De nada adianta lutar. O tempo não é o futuro nem o passado. A dor que sente é agora. Ninguém sente uma dor de ontem, nem a de amanhã. Se sente a do presente. O presente é a dádiva. O resto do tempo, não existe, só recordação de um passado e esperanças de um futuro. O que vale é o presente. O agora. Já!

    Propaganda boca a boca, avise os amigos.
    Toda terça-feira, um novo capítulo.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Capítulo 18

Texto sem revisão.

Severino Conceição estava arisco em sua caminhada. Justamente resolveu mudar trajeto para tentar despistar quem poderia vir em seu encalce. Andando de passo largo, de sete léguas, já tinha certeza que estava sendo seguido, e mais certo ainda era seu pensamento de quem poderia ser.
Pensava:
  • Cleomar, sangue meu, só pode ser, quem mais de loucura poderia querer se embrenhar em caminho que não dá em nada e a morte espreita? Cleomar, Cleomar, susto tem que levar de novo para deixar de ter curiosidade.
  • Honorável amigo tem sempre muita hora para se fazer às coisas. Tempo sempre se acha. Sempre tem para quem quer fazer. Prioridades meu amigo de calças na mão às vezes. Hihihihiiiiii... Mas desta vez. Parece que Severino vai acabar se atrasando, e se atrasa, não cumpre contrato com coisa encontrada e perde história que vem acompanhando a muito. Sempre se dá jeito para o tempo. Tempo vem, tempo vai, mas desta vez, se atrasa, só próximo mês para ver de novo as maravilhas que a muito de certo esqueceram por lá. Preste bem a atenção no que vou te contar. Toda confusão que vem do mato agora, nada de diferença faz para o grande todo. Mas para a consciência de cada um, é mais do que importante. Insignificante é o que quero dizer. Mas já esta acontecendo e mesmo como qualquer resultado não faz diferença alguma para o que de maior tem sempre em encalço, melhor dizer que para Cleomar e Ceres, é crucial. Vida deles corre perigo. Será que agüentam outro susto? Chiiiii... Presta bem atenção no que Capitão do Mato faz, e volta e protege para que nada de errado aconteça, esse sim, parece ter em seu lado, olhos de lince que guiam seus passos, e cabeça de águia que sobrevoa até a escuridão, sabendo de verdade o que acontece em baixo. Presta atenção em detalhes que parecem nada ter a ver.
Com essas palavras de Ken, minha cabeça se confundia a cada instante mais e mais. Não tinha a menor idéia do que poderia acontecer. Mas acontecia a cada instante de forma a elucidar o fato.
  • Capitão Serere, que esta fazendo? Que caminho esquecido por Deus é esse? Onde vai dar essa trilha que parece não ter destino certo?
  • Tem-se medo de ir, por que veio. Se não tem fé, volte. Não adianta entrar em mata e querer seguir caminho onde olhos só vêem pequena distância. Aqui se anda de rumo e prumo. Ora para a direita, ora para a esquerda. Sem muita regra, só o instinto é que vale. Vou contar o que não sei, como se isso fosse possível. Mas conto o que sinto. Tem muita gente a espreita de Severino. Todos achando que poderão não ser descobertos. Mas, já o foram, e Severino já mudou caminho duas vezes da trilha do norte. Acho bom, seguir reto, cortar por cima mesmo em vez de embaixo. Vai sair na frente de qualquer forma. Não da volta e segue de perto.
  • Mas capitão, e se pegarem Severino nesse meio de nada?
  • Quem vai querer arriscar perder o prazer de poder descobrir o que ele vem fazer aqui de vez em sempre? Acha que tem desmiolado aqui querendo isso? Só levar Severino para além em troco de nem poder dizer seus mistérios? O que tem que acontecer vai acontecer quando descobrirem paradeiro da Gruta de Nossa Senhora da Conceição. Mas nessa hora já estaremos lá a sua espera. Tenho certeza, o que tem que acontecer vai acontecer por lá, anda, vamos, senão não chegamos.
Tempestade de bom tamanho se aproximava. Alguns pingos caíam de tempos em tempos, e de bom diâmetro. Foi a sorte. Severino passou por Cleomar e Ceres sem perceber. Achava que ambos estavam é atrás dele e não bem a sua frente.
  • Cleomar, ta dando certo, Severino passou e nem percebeu nossa presença de intruso. Mas continua de bico calado por que escuto ainda mais passos. São nossas iscas chegando. Vão passar também.
  • Ceres, isso eu não agüento de alegria. Vai funcionar, vai funcionar.
De certo que funcionou e bem demais. Mas a chuva, só essa atrapalhou um pouco. Capitão empreitado em meio da mata decidiu mudar rumo novamente com a chegada da chuva.
  • Darci presta atenção. Espera aqui que tenho que realizar outra tarefa a custo que providenciar que ninguém se perca nessa tempestade. Trilha vai apagar e quem não conhece como olho de tigre seus caminhos, de certo que não consegue chegar onde pretende. Melhor você ficar quieto a espera, eu volto em breve. Não saia daqui de maneira alguma. Eu volto, eu volto...
Assim Capitão saiu em rumo certeiro por outro caminho que parecia não dar em lugar algum, mas sabia o que estava acontecendo.
  • Venerável amigo de história. Esse momento é de muito cuidado. E tem mais uma coisa que preciso contar agora. Todos os políticos e os que dessa arte usam, uns falam mal do outro. Se, se unissem para fazer algo de bom seria bem melhor. Mas a competição entre eles traz o caos. Não querem fazer algo por um ideal que tanto proclamam. Querem sim, fazer por seus próprios brios, alimentar seus egos. E se podem, se deixamos, chiiii, de onde vim, melhor ficar quieto. Isso é outra história. Mas aqui até que se aplica. Todos correndo em busca de algo por que alguém disse que outro falou. Engraçado, ninguém em trilha estava na verdade onde estava por sua própria vontade. A não ser por Capitão que só tomava conta de todos e Ceres com Cleomar que armaram a confusão. Nossa, que estranha à vida. Às vezes a palavra de desacreditados pode valer mais que bom censo. Principalmente quando se diz o que queremos escutar. Mas a chuva, hiiihiihhiiii... Essa sim fez seu papel. Hora certa sempre natureza arrumando as coisas que homem tenta estragar de boa fé. Alias, honorável amigo, sabe o que é a fé? Então lhe digo. É a falta total da dúvida. Tem-se dúvida, não tem fé. E gelo não pode ser frito... Hihihihhhiii... Duvida?
Severino, cabra arretado como era, sabia como proceder em marcha de despistamento. Andou em forma de círculo por algum tempo que o atrasou ainda mais. Mas deu certo. De tanta volta que deu, acabou saindo atrás de Deorani, mas não deu volta o suficiente para pegar Deucídio que nem imaginava que estava em seu encalço. Achando que barulho antes na sua retaguarda, agora pouco adiante era Cleomar, não hesitou em alcançar sua presa. De passo mais largo seguiu certeiro para o abate. Por sua vez, Deorani desconfiado de barulho em popa, e já achando ter perdido caminho de Severino, resolveu esgueirar-se para não ser alcançado. De caçador a presa. Que fim mais triste. A chuva já se fazia intensa, e água formando lama em caminho sinuoso, tudo apagava. Pouco tempo precisava para mais rastro nenhum ficar. Em calada de dia, sabia Deorani que fim estava próximo. Sabia que a empreita já estava acabada e antes de se danar no mato, melhor seria correr e voltar, desonrado, mas com vida. E afinal, quem poderia dizer desse momento? Sem testemunha, oras, vale tudo a palavra, que de palavra não ia ter nada. Só conversa de história sem negação por falta de testemunho. Subiu ribanceira feito mula escapando de cobra. Severino, bem mais perto sentia o que sua caça queria, e subiu antes ainda de próprio pensamento cair sobre cabeça de Deorani. Com certeza, pegaria na volta. Em meio do caminho, enlameado e predestinado teve um susto. Sentado bem a sua frente estava Capitão. Parado como quem veio do nada dizia a Severino.

Propaganda boca a boca, avise os amigos.
Toda terça-feira, um novo capítulo.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Mudança na publicação...

Senhores(as) leitores(as),
A partir deste capítulo as publicações acontecerão as terças-feiras.
Dia 09/08 um novo capítulo.
Obrigado,

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Capítulo 17

TExto sem revisão.

Capitão Serere andava ao lado de Darci e dizia:
  • Foi em dia dessa forma que resolvi conhecer terras de Nossa Senhora da Conceção. Armava tempestade e não chovia, e minha gente andava desiludida. Passávamos fome às vezes, mas tínhamos muita vontade de progredir, até que a seca assolou destino incerto para todos do povoado.
  • E como chegou a Capitão?
Indagou Darci.
  • Já que tem curiosidade, vou contar coisa que gente dessas bandas nem sabe. Acho que tem algo a ver com essa história de seguir e proteger Severino. Por isso, vou soltar a língua. Acontece que já era Capitão lá de onde vim. Só que era Capitão do Tambor. Sou Tupiniquim arretado e de boa esperança. Mas, da minha tradição e de meus conhecimentos, estão todos por serem perdidos por falta de língua. Antigos já não falam mais as palavras dos Deuses que os mais antigos ainda falavam. De medo que ficaram da morte. Quem falava, era perseguido, e de passagem para outro lado convidado. Os que eram bem mais antigos não mais ensinaram língua certa com palavras mágicas para os mais novos, e a tradição e o poema das palavras foi se perdendo. Agora o que restou fui eu, e mais alguns poucos.
  • Mas Capitão, que tem a ver isso com isso?
  • Espera pessoa de Deus, que verás a semelhança bem mais próxima do que nunca, quando chegar a hora de além de te contar sobre os Tupiniquins, falar a respeito dos Caparaós. Esses sim, acho que Severino descobriu.
  • O que? “Caparo” o que?
  • É assim, uma coisa a cada tempo. Primeiro o caso de sua curiosidade de ser eu Capitão. Sou mesmo, mas Capitão do Tambor. E era eu quem comandava a dança, nas festas religiosas, principalmente a do dia de Santa Conceição uns dois ou três dias. Meus companheiros buscavam no mato um mastro de boa envergadura. Com minhas vestes coloridas e com um cocar de arrebentar o céu, visitava todas as casas da aldeia conclamando os índios para a dança. As mulheres preparavam coaba que ingeríamos de maneira suave goela abaixo. Os convidados tocavam cassaca e eu meu tambor que a muito já não vejo. Naquela época, eu era o curandeiro, que fui deposto. Médico em aldeia, descrédito de minha crença. Ainda sei de muita coisa, e por isso conto a você esse destino. Hoje tal de Cacique é quem manda em tribo, e eu... Bem, estou aqui.
  • Capitão? Era chefe de toda aquela gente?
  • Sim, mas o destino da mesma forma que me colocou, tirou. Acontece que não sou mesmo Tupiniquim, ou sou, sei lá. Fui encontrado na mata, bem mais para cima da terra, em empreitada de meu pai, em busca de novas eras. O que se deu, foi que uns dizem, que eu era filho de meu pai com outra mulher de outra localidade. Por essas bandas mesmo. E outros dizem que essa história foi inventada para me proteger da fúria dos Caparaós.
  • Capara o que?
  • Caparaós, uns dizem que eu pertencia a essa tribo e fui raptado por meu pai e levado a tribo como filho. Então quando deposto, resolvi voltar para encontrar a história de verdade, mas muito tempo se passou, e apenas lendas sobraram. De certo, Caparaós, nada mais tem. Povo extinto, e minhas raízes, sem predominância por nem saber de onde vem.
  • Capitão, então quer dizer que Severino conheceu seus pais verdadeiros?
  • De onde tira essas histórias mirabolantes, jovem desbravador. Não tire suas conclusões. Nada consta dos autos de Santa Conceição tal feito. Nem Severino, nem ninguém sabem da verdade. Nem eu mesmo acredito que exista. Mas, sei que Severino encontrou algo de grande em mata deserta de gente, por ser inóspita. Dizem que os Caparaós vieram por essas bandas e habitavam essas paragens. Mas, nunca ninguém viu, ninguém sabe. Só história de gente antiga. Dizem que se entrevaram na terra, e de suicídio em andamento se atiraram ao mesmo tempo de um grande penhasco da morte. Outros dizem que estrelas do céu caíram, e quando ricochetearam no solo, levaram consigo toda a tribo que estava reunida. De certo, a certeza nesse caso, não existe. E é provável que não existirá nunca.
  • Mas, mas, mas e Severino? O que tem sangue meu com isso?
  • Sabe, não sabe. Mas também procura, e encontrou algo de grande. Faz muito sentido sua história. Faz mesmo sentido sua viagem todo mês.
  • Como sabe Capitão?
  • A mim confiou. Não teve jeito. Sabia que eu o pegara mesmo com seu caminho tortuoso. Teve que partilhar descoberta comigo. Sobre juramento de gente que tem palavra no fio do bigode, prometi só em caso de perigo de vida mostrar o santo lugar que Severino batizou de Gruta de Santa Conceição.
  • Gruta? Mas que grutas? Nunca ninguém achou nada por lá!
  • Mas existe, como existem vários caminhos para lá. E vamos por outro, que cruza o de Severino mais à frente. Parece-me que sua trilha preferida hoje não vai usar. Usará a trilha de fora. Onde Santo padre achou Cleomar. É por aquelas bandas de lá.
Agora temos a seguinte situação: Deorani seguindo Severino a curta distância, Deucídio seguindo Deorani, pensando que é Severino e Capitão do Mato seguindo a todos estando bem empreitado. E ainda, Ceres e Cleomar esperando Severino pela trilha de baixo. Acontece que desta vez, Severino resolveu justamente seguir esse caminho, e para o espanto da dupla, ele vinha bem em sua direção.
  • Cleomar, Cleomar, fique calado, tem gente vindo em nossa direção. Aqui por baixo. Não pode ser. Severino vem em galope certeiro e vai descobrir paradeiro da gente se não tomarmos cuidado.
  • Ceres presta bem atenção. Parece que vem Severino como uma quartelada de tanto barulho que faz. Melhor deitar em moita e esperar em muito silencio a passagem de furacão.

    Propaganda boca a boca, avise os amigos.
    Toda terça-feira e quinta-feira, um novo capítulo.