terça-feira, 2 de agosto de 2011

Capítulo 17

TExto sem revisão.

Capitão Serere andava ao lado de Darci e dizia:
  • Foi em dia dessa forma que resolvi conhecer terras de Nossa Senhora da Conceção. Armava tempestade e não chovia, e minha gente andava desiludida. Passávamos fome às vezes, mas tínhamos muita vontade de progredir, até que a seca assolou destino incerto para todos do povoado.
  • E como chegou a Capitão?
Indagou Darci.
  • Já que tem curiosidade, vou contar coisa que gente dessas bandas nem sabe. Acho que tem algo a ver com essa história de seguir e proteger Severino. Por isso, vou soltar a língua. Acontece que já era Capitão lá de onde vim. Só que era Capitão do Tambor. Sou Tupiniquim arretado e de boa esperança. Mas, da minha tradição e de meus conhecimentos, estão todos por serem perdidos por falta de língua. Antigos já não falam mais as palavras dos Deuses que os mais antigos ainda falavam. De medo que ficaram da morte. Quem falava, era perseguido, e de passagem para outro lado convidado. Os que eram bem mais antigos não mais ensinaram língua certa com palavras mágicas para os mais novos, e a tradição e o poema das palavras foi se perdendo. Agora o que restou fui eu, e mais alguns poucos.
  • Mas Capitão, que tem a ver isso com isso?
  • Espera pessoa de Deus, que verás a semelhança bem mais próxima do que nunca, quando chegar a hora de além de te contar sobre os Tupiniquins, falar a respeito dos Caparaós. Esses sim, acho que Severino descobriu.
  • O que? “Caparo” o que?
  • É assim, uma coisa a cada tempo. Primeiro o caso de sua curiosidade de ser eu Capitão. Sou mesmo, mas Capitão do Tambor. E era eu quem comandava a dança, nas festas religiosas, principalmente a do dia de Santa Conceição uns dois ou três dias. Meus companheiros buscavam no mato um mastro de boa envergadura. Com minhas vestes coloridas e com um cocar de arrebentar o céu, visitava todas as casas da aldeia conclamando os índios para a dança. As mulheres preparavam coaba que ingeríamos de maneira suave goela abaixo. Os convidados tocavam cassaca e eu meu tambor que a muito já não vejo. Naquela época, eu era o curandeiro, que fui deposto. Médico em aldeia, descrédito de minha crença. Ainda sei de muita coisa, e por isso conto a você esse destino. Hoje tal de Cacique é quem manda em tribo, e eu... Bem, estou aqui.
  • Capitão? Era chefe de toda aquela gente?
  • Sim, mas o destino da mesma forma que me colocou, tirou. Acontece que não sou mesmo Tupiniquim, ou sou, sei lá. Fui encontrado na mata, bem mais para cima da terra, em empreitada de meu pai, em busca de novas eras. O que se deu, foi que uns dizem, que eu era filho de meu pai com outra mulher de outra localidade. Por essas bandas mesmo. E outros dizem que essa história foi inventada para me proteger da fúria dos Caparaós.
  • Capara o que?
  • Caparaós, uns dizem que eu pertencia a essa tribo e fui raptado por meu pai e levado a tribo como filho. Então quando deposto, resolvi voltar para encontrar a história de verdade, mas muito tempo se passou, e apenas lendas sobraram. De certo, Caparaós, nada mais tem. Povo extinto, e minhas raízes, sem predominância por nem saber de onde vem.
  • Capitão, então quer dizer que Severino conheceu seus pais verdadeiros?
  • De onde tira essas histórias mirabolantes, jovem desbravador. Não tire suas conclusões. Nada consta dos autos de Santa Conceição tal feito. Nem Severino, nem ninguém sabem da verdade. Nem eu mesmo acredito que exista. Mas, sei que Severino encontrou algo de grande em mata deserta de gente, por ser inóspita. Dizem que os Caparaós vieram por essas bandas e habitavam essas paragens. Mas, nunca ninguém viu, ninguém sabe. Só história de gente antiga. Dizem que se entrevaram na terra, e de suicídio em andamento se atiraram ao mesmo tempo de um grande penhasco da morte. Outros dizem que estrelas do céu caíram, e quando ricochetearam no solo, levaram consigo toda a tribo que estava reunida. De certo, a certeza nesse caso, não existe. E é provável que não existirá nunca.
  • Mas, mas, mas e Severino? O que tem sangue meu com isso?
  • Sabe, não sabe. Mas também procura, e encontrou algo de grande. Faz muito sentido sua história. Faz mesmo sentido sua viagem todo mês.
  • Como sabe Capitão?
  • A mim confiou. Não teve jeito. Sabia que eu o pegara mesmo com seu caminho tortuoso. Teve que partilhar descoberta comigo. Sobre juramento de gente que tem palavra no fio do bigode, prometi só em caso de perigo de vida mostrar o santo lugar que Severino batizou de Gruta de Santa Conceição.
  • Gruta? Mas que grutas? Nunca ninguém achou nada por lá!
  • Mas existe, como existem vários caminhos para lá. E vamos por outro, que cruza o de Severino mais à frente. Parece-me que sua trilha preferida hoje não vai usar. Usará a trilha de fora. Onde Santo padre achou Cleomar. É por aquelas bandas de lá.
Agora temos a seguinte situação: Deorani seguindo Severino a curta distância, Deucídio seguindo Deorani, pensando que é Severino e Capitão do Mato seguindo a todos estando bem empreitado. E ainda, Ceres e Cleomar esperando Severino pela trilha de baixo. Acontece que desta vez, Severino resolveu justamente seguir esse caminho, e para o espanto da dupla, ele vinha bem em sua direção.
  • Cleomar, Cleomar, fique calado, tem gente vindo em nossa direção. Aqui por baixo. Não pode ser. Severino vem em galope certeiro e vai descobrir paradeiro da gente se não tomarmos cuidado.
  • Ceres presta bem atenção. Parece que vem Severino como uma quartelada de tanto barulho que faz. Melhor deitar em moita e esperar em muito silencio a passagem de furacão.

    Propaganda boca a boca, avise os amigos.
    Toda terça-feira e quinta-feira, um novo capítulo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário