terça-feira, 30 de agosto de 2011

Capítulo 21

TExto sem revisão

Enquanto isso Ceres e Cleomar se perdiam ainda mais.
  • Ceres! Vamos voltar, Santa Clara e Santa Conceição de verdade não pode estar aqui tão fundo. Apenas estamos descendo e nada mais.
  • Cleomar! Tem algo na frente, veja. Tem clarão feito dia que parece estar saindo de paredes, em pedras. Tem barulho de murmúrio. Será o paraíso distante dos homens e Santa Conceição que veio nos receber?
  • Tem razão, minha fé me leva onde quero ir. Eu sabia que íamos conseguir. Vamos, anda rápido feito flecha certeira. Temos que nos apresentar a Santa Clara que iluminou nosso caminho e pedir que coloque nossos nomes em santo livro.
  • Isso vamos, sem volta para a luz mais intensa que de tão clara e distante parece estar a nossa espera. Lindo túnel, linda luz, vamos, vamos...
E de mãos dadas entraram pela garganta do túnel.
Capitão Serere estava já na porta da entrada da gruta. Quando viu Severino saindo.
  • Capitão! Chegou aqui em boa hora. Devemos repousar nossos ossos para ainda de madrugada partir em direção a povoado.
  • Cara pessoa conterrânea. Vendo vosso corpanzil tão disposto, vejo que nem descanso é preciso a vosmecê. Carece de ter cuidado ainda. Há de chegar, se é que já não chegou Ceres com Cleomar.
  • Cleomar? Que diabos está acontecendo? Não ia mandar de caminho certeiro para o povoado Cleomar e quem mais viesse?
  • É verdade pessoa conterrânea. Mas devo advertir que de disparada encontrei, mas cabras pelo caminho. Darci que larguei em acento de bosque e Deucídio com Deorani que despachei de volta para sertania de lugar seguro.
  • Cleomar? Capitão! Não pode ser. Só se estavam bem atrás de mim e pensei que fosse voz. Haaaa! De certo que eram eles mesmos a andar de rastro. Pego Ceres e Cleomar e faço um monte de nada em dois tempos.
  • Mas Severino, que tem sempre honra lavada. A modo que pergunto por onde foi que vosmecê entrou na danada da gruta?
  • Capitão! Não sei se sabe, mas tem caminho mais certo pelo penhasco do lado de baixo. Pela estrada das areias quentes. Mas acesso é bem mais difícil que domar mula brava.
  • Então vai ver que Cleomar entrou por esse lado também.
  • Com certeza Capitão. Não fica longe daqui. Vamos dar a volta que chegamos lá com dia bem claro e com bastante luz ainda.
  • Severino! Tem mais uma coisa que acho que não percebeu por preocupação de encontrar agora Cleomar. É Darci que se largo na moita para passar noite inteira é capaz de desconfiar que aconteceu alguma coisa e querer sair de encalço na minha perseguição. Melhor eu voltar e trazer Darci até aqui.
  • Não Capitão. Seria deveras perigoso mais gente ainda nessas bandas. Segredo certo de quem sabe isso é o Capitão e um danado de um Chinês que a muito não vejo. Deixe Darci pra lá.
  • Mas e se ele se perde Severino? Não vai ficar com remorsos?
  • Capitão! Veja lá. Ta certo que é homem honrado. Mas veja lá o perigo. Remorso não há de existir. Darci é mais valente do que eu em mata. Não tem por que se preocupar. Deixa. Vais estar mais do que bem acostumado. E depois, se uma cobrinha ou outra aparecer, com certeza vai ter janta de carne fresca por lá.
  • Ta certo Severino. Vamos ao encalço de Cleomar que é mais certo de entrar em buraco errado e nunca mais sair.
Assim fizeram. Deram uma baita volta que era bem mais seguro que retornar pela gruta por caminhos tortuosos. Encontraram os rastros de Cleomar e de Ceres bem perto da entrada da gruta. Mas, espantosamente, não existiam rastros do portal para dentro. Como se tivessem voado. Sumiram. Sem deixar pistas. Até parecia que um enorme urubu rei, voando baixo, com suas garras havia levado os dois para bem mais longe. A surpresa era grande, sem saberem o que fazer resolveram entrar pela gruta e procurar por outros rastros. Passando horas, sem nada encontrar, o que se podia fazer era voltar em busca de Darci para uma empreita mais certeira. Voltaram.
  • Grande Darci Sebastião, que a glória de ser grande nunca se afaste de vosmecê.
  • Capitão! Vejo que demorou. Mas a demora foi em boa hora. Por aqui até que apareceu cobra de veneno maldoso. Mas não sei por que. Quando me viu, fugiu como se tivesse visto a morte de perto. Estava até pensando em seguir o verme. Mas, prometi a Capitão que não arredava pé e fiquei quieto em meu canto atento para ver se o petisco voltava.
  • Não disse Capitão. Darci quase que arruma uma janta de primeira.
  • Mas que fazem aqui? Severino, já esta de volta? Não seria amanhã vosso regresso?
  • Sim Darci, mas tive que mudar planos. Capitão me disse que Cleomar se enroscou em meu pé e foi parar dentro de uma gruta.
  • Não seja arrevesado Severino Conceição. Capitão já me falou dos Caparaós e da gruta que esperança tinha de ser o paraíso. Mas vejo que pode se tornar nosso inferno.
  • Capitão! Acho que andou falando demais.
  • Calma Severino, Darci é sangue do seu sangue. Tem direito de saber bem mais do que isso.
  • Isso o que? (diz Darci.).
  • Agora não vai dar tempo para prosa. Temos que voltar para a gruta em busca de Cleomar e Ceres. Ah, se pego, mato. E Capitão ajuda. Não ajuda?
  • De certo que sim Severino. Mas antes tenho que levar de volta para a vila. Lá tem destino certo para Ceres. Deixa comigo que sei o que faço.
Desse modo voltaram para a gruta em busca de Cleomar e Ceres. Mas, já adianto que nada encontram. Nem rastro e nem nada.
De volta na vila de Santa Conceção dos Altos, de cabeça baixa, estavam sem esperanças de encontrar seus derradeiros desaparecidos. A cidadela parecia toda mudada. Sem padre, sem murmúrios pela praça. Estava faltando algo. E esse algo era Ceres que de alguma forma sempre se encostava a alguém para uma prosa. A praça era seu lar. Agora vazia.
  • Honorável amigo de tantas horas. Melhor seria dizer, de tantas páginas. Hihihihih... Parece que história está chegando ao fim. Mas ainda tem coisas para esclarecer. Pouco importa se o que os outros estão a fazer está certo ou errado. O que importa é o que eu mesmo estou fazendo. Faz-se o bem, sinto-me bem, se faço mal, sinto-me mal. Quem está preocupado com o que os outros estão fazendo, não tem tempo para olhar para si próprio. E o importante é estarmos bem em primeiro lugar, conosco. O resto é só conseqüência. O pior mesmo é não acontecer nada. E foi isso que aconteceu na vila por algum tempo. Gente entrando, gente saindo da trilha em busca de paradeiro de Cleomar e de Ceres. Mas nada acharam. Nem mesmo a gruta. Segredo que Severino, Darci e o Capitão, seguraram até a morte. Triste fim de tantos acontecimentos, mas o mais importante é o que sobrou. A lição meu honorável amigo. Isso sim é sabedoria. Não se importem com o que não tem importância. Não queimem idéia a querer descobrir coisas que não servem para nada. Isso é só falatório. E tem político que fala... Hihihihihi... Agora tenho que partir em busca de lago sagrado para derramar meu bom e amigo peixe dourado. Só falta ele para eu me desligar da minha escravidão. Teimei, achei que era bom para mim, final das contas? Fiquei foi com mais responsabilidade à toa do que precisava. Quando honorável amigo dourado sair em passeio em busca de companheira em lago de águas azuis e mornas, estarei mais perto de mim mesmo. Finalmente liberto. Como Ceres e Cleomar estão agora. Só queriam o paraíso e de uma forma ou de outra encontraram. Sejam felizes. Deorani tem que aprender que se não tem mais mendicância para saborear seu arroz, que de bom era bom mesmo, é por culpa sua própria.
Escutando esses dizeres do amado amigo que estava por partir, resolvi seguir o seu caminho por algum tempo para ver se descobria algo mais. O chinesinho não queria terminar a história, não queria falar mais. Andava como que com pressa de chegar a lugar distante sem rumo e sem volta. Nessa angustiante caminhada lado a lado com exuberante inteligência chinesa, pude notar que embrenhávamos pelo mato. Apenas às vezes dizia:
  • Anda, anda honorável amigo. Ainda é tempo de chegar aonde poucos chegaram. Venha, já que está disposto. Mas não se espante. Tem hora para tudo e de tão fantástico melhor é não contar, melhor é mostrar de vez e pronto. Mas tem hora certa de se chegar e de partir. Se perder o bonde, perde até a vida às vezes. Anda, anda.
Assim eu seguia atento e por onde passava parecia já conhecer. Às vezes corria feito doido mata adentro, às vezes pausava caminhada inóspita. Mas a paisagem me era familiar. Morros, montanhas, leitos de areia...
Quando eu menos esperava não era que estávamos de frente para um enorme paredão de pedra! Parecia ser o fim de uma jornada sem rumo. Não tinha mais a menor idéia de onde estávamos. Ken tinha consigo uma corda dourada que parecia lhe assegurar a maneira de como regressar. Incrível era isso. Pela virgem Maria e pelo amor de Pai Tomáz. Seria aqui então o local onde Ceres e Cleomar se perderam? Ken saberia onde eles estariam?
  • Honorável amigo de tantas penas. Chegou momento mágico de despedida. Agora como cada sentença é uma cabeça não me adianta prosseguir. Veja você mesmo o fim de cada um como quiser. Daqui para frente para mim é daqui para traz. O desconhecido que para mim já conheço é uma coisa. E como uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa você mesmo tem que ver para crer. Vá, e siga, e acabe de contar como entendeu. O que eu entendi até aqui é isso que você descreveu. Mas o que daqui para frente aconteceu é conclusão e está por sua conta. Não adianta querer a sua compreensão igual a minha. Não dá. Hihihihi! Parece loucura, mas de certa maneira é mesmo. Vai, que para traz eu volto e siga o caminho da tua intuição.
Assim, honorável amigo amarelo de corpo, e branco e preto de alma virou de costas e partiu. Pensei que ficaria, a saber, do destino de seu honorável amigo peixe dourado. Uma pena, mas isso eu termino depois. Por hora, melhor concentrar em tentar contar o que eu presenciei. Se vão acreditar, não digo que sim. Mas juro por tudo que é mais sagrado de que é o que aconteceu. Pelo menos para mim.

Propaganda boca a boca, avise os amigos.
Toda terça-feira, um novo capítulo.

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