terça-feira, 6 de setembro de 2011

Capítulo 22

Texto sem revisão

Aproximando-me do paredão imenso de pedra pude notar assim como Ken havia dito que havia uma passagem. Rumei para dentro sem hesitar. Lugar estranho, cheio de entradas e becos, mas segui firme por um trecho que parecia ser mais largo. E não é que ao final de um dos túneis deparei-me com uma luz? Pensei ser uma saída, mas não era. Era uma passagem. E que passagem. Aproximei-me e ao deslocar-me por entre o vão vi o invisível. Uma paisagem maravilhosa. Era realmente uma saída, mas para um outro mundo. Estando eu no alto de um penhasco pude avistar ao longe uma aldeia de índios, água em abundância e a mata mais verde do que nunca. Brejo seco nunca foi assim. Andei por verdes trilhas algum tempo sem rumo, até que uns bandos de índios me cercaram. Resmungavam algo que não entendia. Apenas entendi que estava preso. Segui com eles em direção a aldeia. Colocaram-me em uma de suas moradias e me largaram lá. Pensei ser o fim. Mas não era.
À noite, notei que havia festa no lugar. Não sendo eu a comida a ser servida, tudo bem. Com muita custa, dormi exausto. Pela manhã notei que alguém vinha em minha direção. Presenciei uma cena que pensei jamais poder acreditar. Uma pessoa enorme de olhos firmes e parecendo um camponês irlandês veio ao meu encontro. Indagou um belo discurso:
  • Cara pessoa isolada em mundo distante. Deixe que me apresente se assim permitir. Sou quem vai encomendar seu recado de prisioneiro a essa gente estranha para seus olhos de coração maravilhoso e de alma pura. Vou ser também seu merecedor de confiança, se assim for de agrado, para modos de poder tirar vosmecê dessa situação de quase morte. Se interessar viver de verdade escuta e não pergunta nada. Responde quando solicitado, antes que ponta de faca corte seu umbigo e daqui saia voando para sempre. Sem retorno é a ida de volta quando perde cordão da esperança. Vão começar a dizer coisas estranhas e perguntar a viajante como foi que apareceu e achou aqui. Depois em seqüência perguntarão de guardião. Ainda, mais adiante dependendo de resposta sua perguntarão o que veio fazer por essas bandas sagradas de Nossa Senhora da Conceição, e se é fugitivo das guerreiras. Por final, vão indagar sobre um tal, que é decisivo em sua sentença, se conhece, ou se sabe paradeiro.
  • Um tal?
Perguntei. E de responda veio:
  • Já está quase condenado. A primeira instrução de mala em trem que te dei foi, não pergunte nada, responda.
Virou de costas e saiu. Um pisar forte, uma postura sóbria. Mas uma tez bonita, uma fala elegante, calma e simples. Sem ódio, sem rancor, sem medos. Pessoa muito interessante. Parecia-me um anjo. Ao chegar uns metros para fora de minha cela, parou, virou e retornou dizendo:
  • Tens até amanhã para pensar no que vão te perguntar. Seja breve e seja puro de coração, bravo como um leão, astuto como uma águia e livre feito um passarinho. Porque se assim não for, seu destino é o estômago de urubu rei. Este bichão está por toda parte. Até mesmo aqui tem, para fazer a limpeza, e levar em sua pança os dejetos dos que não acreditaram na sabedoria. Peça a Nossa Senhora da Conceição para te ajudar. Pode ser que de certo. Só um saiu daqui que tenho conhecimento, só um. Mas voltou e esta a rodar por aí em encanto de mata e estudo da vida. Pessoa essa que é muito reverenciada nessas paragens. Eli, se estiver lá, na sua hora pode te explicar as leis desse lugar que são bem poucas, mas duras. Aproveite oportunidade. Pode ser que consiga. Poucos vieram, poucos conseguiram. Um deles se tornou irmão de sangue de olhos puxados como dizem por aqui. Se quiser ter uma chance, não durma, não coma, não beba. Purifique sua alma com o rogo de sofrimento para depois do calvário, seguir em estrada de leito ameno.
Até parece que depois dessas palavras eu de verdade conseguiria dormir. Estava mais apavorado do que nunca. Acho que é por isso que Ken não quis vir. Faz falta sua presença, sua confiança. Mas, essa é há minha hora, e minha chance. Mas chance do que? O dia passou e nada me foi servido. Nem de beber, nem nada. Meu estômago parecia não sentir. A fome não existia. Continuava preso. A noite caiu em silêncio, e quando bem escuro pude ouvir uma enorme festa que acontecia um pouco longe. Madrugada, o teto da minha cela parecia transparente e as estrelas cintilavam como me apreciando. O dia raiando, e minha hora chegando. Desespero. Nada adianta. Medo. Não resolve. Essa é a hora, esse é o dia.
Ao raiar do dia o que parecia uma porta se abriu e apareceram dois enormes índios com uma outra pessoa que parecia não ser dali. Só o que disse foi:
  • Quando isso terminar, depois da sentença final, vai poder por certo de verdade, pelo menos uma vez, experimentar um delicioso prato de arroz. Daqueles do qual só eu mesmo sei como são. Saudades meu caro, Saudades, mas não troco nem mesmo delicioso arroz, por permanência aqui. Logo hei de casar. Se quiser, pode assistir a cerimônia, antes do jantar. Depois, tem que tomar decisão.
Com isso me vieram a memória às palavras de Ken que proferia a respeito da comida mais comida do mundo. O arroz. Levaram-me ao centro da aldeia, um lugar simples, mas de beleza exuberante de natural. Inúmeras pessoas eu via em minha volta a me acompanhar curiosos meu enfado. O estranho é que eu não conseguia distinguir se eram homens ou mulheres. De corpos cobertos o aspecto físico era de rara beleza. Mas, sem adornos e sem saias ou outra vestimenta para identificar os sexos, era impossível dizer quem era quem. Sentei diante de uma coisa que parecia ser um trono. A minha esquerda, umas pessoas me olhavam sentadas em linha. A minha direita um local com um banco baixo e ao lado desse banco à pessoa a qual havia falado comigo na noite anterior. A cada lado do trono duas outras coisas que não sei se eram mesas ou outras coisas, mas que pessoas ficavam por de traz. Começou um corre corre. A ordem se estabeleceu, o silêncio implacável da verdade se manifestou e pessoas começaram a tomar seus lugares. A minha frente, no trono sentou um enorme ser. De tão branco parecia albino, mas não tinha contornos. Parecia se fundir com a paisagem. Era quem iria comandar o que não sei. Deu um sinal a quem estava ao meu lado com um dos dedos e essa pessoa se manifestou.
  • Tem o direito e o dever de permanecer calado e só se manifestar quando solicitado. Isso implica em obediência e é ponto final. Também por hora tem o direito a um esclarecimento. Agora é a hora de falar. Indague o que quiser. Mas cuidado. A pergunta pode decepar seu umbigo de imediato e o fim mais próximo do que imagina.
Minha tenção era enorme. Não sabia como agir. Nervoso, sem saber o que dizer esperavam por uma primeira palavra. Ai meu umbigo. Pensei por instantes e resolvi falar o que sentia:

Propaganda boca a boca, avise os amigos.
Toda terça-feira, um novo capítulo.

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