quinta-feira, 30 de junho de 2011

Capítulo 9

Texto não revisado... correções serão bem vistas... 

Ceres disse para o Padre que iriam esperar Severino depois do Desfiladeiro da Morte e que o seguiriam por baixo, no pé dos barrancos e sempre com uma distância apreciável. Desse modo para quem não tem experiência em perseguição fica fácil se perder, ou no mínimo perder a trilha. Fez o que ninguém havia feito, seguiu em direção ao desfiladeiro e depois de passar sua parte mais aguda desceu e seguiu rumo norte por baixo, como Ceres havia dito. Em pouco tempo encontrou vestígios de caminhada já passada há alguns dias. Seguiu e seguiu com os fiéis em procissão. O dia acabou e todos dormiram com velas acessas na mata.
Assim que raiou o dia, partiram em direção certa em busca do desconhecido. E para o espanto de todos, o Padre acabava de encontrar dois corpos moribundos estirados na mata espinhenta e horrenda de Rio Acima.
Ao retornarem para a cidade com os dois corpos mais mortos do que vivos Severino caiu de joelho no solo da praça ao pé da escadaria da igreja.
  • Que Deus me perdoe por desafiar seu cervo fiel e destemido. Que Deus me castigue se considerar que minhas palavras foram de má fé. E por fim, que Deus abençoe esse Padre bendito e que seja tua carne eterna diante de todos. E que santo possa ser declarado um dia. Deus abençoe o Padre.
A cidade comovida gritava aos brados: “viva o Padre. Viva” e seu nome fora citado em pouco tempo pelos quatro cantos da região.
Ken acompanhava tudo mais do que atentamente. Sempre beliscando um punhado de arroz que carregava no bolso. O chinês não queria se envolver de forma alguma. Apenas apreciava cada momento saboreando cada situação, para depois mais tarde poder simplesmente estar contando a mim.
Padre se tornando herói trouxe novos forasteiros para a cidade. Todos queriam conhecer o Senhor que havia livrado pessoas da morte. Suas missas passaram a ser de casa cheia. Mais gente chegando do que saindo, mas com isso a cidade estava inchando.
Ceres e Cleomar juravam de pés juntos que a Santa os haviam salvado. Contavam:
  • Eu juro por tudo que é mais sagrado e espantoso desse mundão afora que o que salvou nossas vidas foi algo maior do que qualquer um pode imaginar.
Isso dizia Cleomar. E continuava em uma conversa em um banco da praça a alguns transeuntes, amigos e curiosos:
  • Nós estávamos mais do que de mãos ateadas. Parecia o inferno vestido de cinza. Nada de nada para qualquer lado que se encontrava horizonte. O demo deveria estar à espreita em todo canto a espera de nossa requebrada. Queria mesmo era o nosso catumbi de forma arrojada e desprezível. No começo da peleja pela vida ainda tínhamos forças para respaldar nossos pensamentos em Nossa Senhora da Conceição. Mas com o passar dos dias de sol tenebroso foi-se esvaindo a perseverança de se encontrar o caminho da salvação. Nesses dias de valente caminhada pelas lacunas da verdade, o fim olhava bem próximo do acerto. Era mais do que certo a morte. Até rei urubu sondava nossas paragens a fim de vasculhar nossas mentes para saber ao certo o dia do previsto. Mas nossa Santa Nossa Senhora não deixou. O demo se aproximou feroz em uma noite de escuridão sem lua. De madrugada a bicharada da noite que é escassa pelas bandas de lá se calou. Acordados! Com fome estávamos e sem água, de boca com trecos brancos nos cantos cheirávamos a desconfiança de que algum de certo estava à espreita no mato. Era o Demo safado tentando aguçar nossa vontade. Lutamos com todas as forças pelo que vinha. Nada se via, apenas o silêncio escuro da noite. Já sem os trens, que de peso grande abandonamos no caminho. Entrincheirados ficamos em uma vala rasa. Já era a cova definitiva para o lacaio, mas resistimos. No céu vimos buracos que se abriam e dentro deles demônios incontáveis que pareciam pular em nossos ombros. Sacudimos o corpo como se queimando pólvora em direção do matuto. Lá estava ele bem a nossa frente. De chifre na mão queria mais do que a alma. Queria o cerne do corpo. O coração. Saímos da vala em debandada assustada e sem rumo. De certo, aí nos perdemos mais. Os espinhos nos arranhavam e a cada gota de sangue jorrada o capão ria alto em minha cabeça. Por fim, mais cansados e imundos do que nunca, de certo nem o diabo ia nos querer fedendo tanto no inferno, fugimos e escapamos da morte por bem pouco. Rezamos o resto da noite e pedíamos para que a luz nas trevas fosse aparecendo. E para nós um caminho certeiro fosse trilhado. Mas caminho de vida e não de desencarne. E foi o que aconteceu. Bendito seja a Luz maravilhosa que dia seguinte no poente de resplendor apareceu para indicar a Santo Padre que o dia da gloria estava chegando. Bendito seja Santo Padre que seguiu a Santa Luz de Santa Conceição. E de Santa Clara que alumiou nossas almas. Santo Padre achou por que a outra Santa quis indicar para ele a distância certeira de um tiro de salvação.
Já Ceres era mais sensato e parecia não ter delirado tanto. Em outro canto da praça contava a mesma história:
  • Que de noite e de dia tudo era a mesma escuridão. Tontura e zumbido no ouvido não faltava a atear sem parar. Sem mesmo já saber de que dia se tratava, só andava de teima que tínhamos de querer viver. O mais assustador mesmo foi quando Cleomar se emaranhou no mato atrás de não sei o que. Gritava afoito o nome de Santa Clara e de tudo mais que lembrava de Santo. Espantado estava eu com tamanha desnudes. De corpo nu parecendo corpo açoitado de galho de marmelo, via-se em sua face o desespero. Queria e parecia que iria pular de um barranco. Pulei primeiro com fraca força que ainda tinha em cima de seus ombros. Em uma vala caímos. Eu por cima do corpo de Cleomar. De fôlego agitado gritava em desespero: “sai demo, bicho chinfrim, em cima de mim só Santa Clara, urubu tinhoso, vá na derradeira arrancada pro seu inferno de mentira”. Foi uma luta sem trégua acalmar Cleomar. Mas, antes do derradeiro suspiro de consciência, ou de devaneio, ainda saiu em disparada pela mata. Deu trabalho botar a roupa e calçar botas na pessoa agente de Deus, conforme Cleomar mesmo dizia. Respeitei a ocasião. Melhor dizer que vontade não dava nenhuma de tanta fome e indignação pela situação. O mais acanhado foi depois quando voltou os sentidos da besta que se instalara no corpo. Sem jeito, ficava a espreitar o mato como esperando um treco saindo de dentro e pulando em seu pescoço. Foi duro, mas acabou. De verdade o que sempre falamos é a Santa luz que de longe vimos juntos e disso os nossos depoimentos são unânimes em dizer que Santa Conceição operou mais um milagre. Só ela para indicar ao Santo Padre o derradeiro paradeiro da morte certa que estava por vir. Na tarde, na pior delas, a luz apareceu ao longe. Indicou o caminho certo tanto para Santo Padre como para nós perdidos de vida e já ficando sem alma. Mas, finalmente, tudo terminado. Sem dor, sem sofrimento maior, a não ser pelos dias de agonia de Deorani, Severino, Darci e todos os outros envolvidos que embora não tenham encontrado o caminho certo da trilha, ajudaram com suas rezas a Santo Padre.

    Serviço gratuíto é assim mesmo.... o povo indica boca a boca.... obrigado por estarem me ajudando....

terça-feira, 28 de junho de 2011

Capítulo 8

  •  Cleomar, quanto ainda temos de água?
  • Um pouco mais para uns dois dias racionando e não deixando pingar nada.
  • E a comida?
  • Dá para o mesmo tempo, depois disso, melhor encontrar algum lugar logo.
O dia estava quente demais. Quando entardeceu e o canto dos poucos pássaros escasseou, tiveram que encontrar um outro local para passar mais uma noite. Resumindo o suplício do acaso, depois de vários dias de sua perdição estavam já entrando em desespero. Cleomar e Ceres famintos. Estavam entrando em um estágio que comeriam qualquer coisa. E isso literalmente. Olheiras fundas, a pele amarelada, e o sol na cabeça completava o quadro de desespero.
Ceres, um ser exausto abaixou as calças, sentou nos calcanhares e defecou. A fome era tanta que após o ato, se debruçou em cima do pequeno monte e comeu suas próprias fezes.
Cleomar olhando aquilo lambeu os lábios, retirou uma caneca de sua bolsa, urinou e bebeu. Ceres fez o mesmo, mas quando ia beber Cleomar investiu contra, e a caneca derramou. Pularam no solo e lamberam a terra úmida, mas o que apenas conseguiram foi encher suas gargantas de mais pó.
Desolados, sentaram meio encostados, meio desmaiados, e ali permaneceram por bom tempo.
No início da noite daquele que parecia ser o derradeiro dia, vira no horizonte uma luz diferente que parecia chamar para uma viajem sem volta. A luz aos poucos se aproximava como querendo espiar o que estava acontecendo.
  • Ceres, o que é isso?
  • Cleomar! Deve ser a Santa que veio nos salvar, e em vez da dona morte nos levar de vez para o buraco, Santa Conceição veio intervir e salvar nossas almas.
  • Será?
  • Só pode ser, Cleomar, tem que ser. Arrume forças e vamos ao seu encontro, é nossa última esperança.
  • Vamos então Ceres.
E assim, os dois corpos moribundos e fétidos seguiram em direção a luz, mas apenas alguns passos deram e caíram desmaiados no pobre solo seco da região.
Ken estava ainda na igreja quando resolveu sair para ver mais de perto como andava a expedição de Severino e Deorani.
Severino e Darci dividiram sua tropa em duas fileiras. Andaram pelo resto do dia em busca de sinais, mas nada encontraram, apenas as pegadas do próprio Severino. Vendo que não teriam sucesso, pois a noite já estava baixando, resolveram voltar e iniciar as buscas no dia seguinte.
Por sua vez, Deorani, em busca frenética, saía sua tropa mais preparada. Levaram água e comida para vários dias e alguns equipamentos. Ao cair da noite dormiram no mato.
Nesse passo, passaram uma semana de buscas e nada foi encontrado. Nem Severino, nem Darci e nem Deorani haviam tido uma graça nessa empreita. Só o que restava era chorar pela alma dos seres desaparecidos.
Mas o padre parecia a cada dia mais nervoso. Andava de um lado para o outro em passo mais do que apertado. Parecia estar a espera por notícias, e estava, mas sua preocupação com algo que ninguém imaginava o que poderia ser era bem maior.
Rezava, orava, e de hora em hora saía da igreja e dava uma volta pela cidade.
Ken me contou a respeito de uma das orações do padre que acabou escutando meio sem querer.
“Grande Pai que a tudo vê e protege. Sabe que nesse caso não posso interferir. Que estava sob juramento. E que não posso revelar o caminho secreto que de virada saíram para essa viagem sem volta. Que Deus Pai me envie um Santo Protetor para me aliviar essa dor e poder encaminhar meus pensamentos em direção de uma solução derradeira e verdadeira para essa situação. Como posso? Como resolvo isso? Serei julgado por essas mortes se ocorrerem? Meu Deus dê noticias de como posso resolver essa questão”.
Padre sabia para onde havia saído de rumo os empreiteiros da morte. Mas não podia contar. Sabia, pois, Ceres havia se confessado um dia antes da viagem para o rumo que haveriam de tomar e qual a finalidade da aventura. O Padre aconselhou que não fizesse essa viagem, mas como podem ver de nada adiantou. E agora o dilema. Não podia contar sobre a confissão mesmo sabendo que poderia ajudar. Então o que fazer? No instante em que o Padre terminava sua oração, entrou pela porta Darci de fala mansa feita jumento bravo.
  • Nada de nada seu Padre. Ainda hoje estava com esperança de poder encontrar pelo menos um vestígio que fosse, de um rastro que fosse, mas nada seu padre.
Entra na igreja também Severino logo em seguida, com passos delicados e de mão na cintura.
  • Então seu Padre, cadê a sua reza? Para que serviu? Ficou esse tempo todo aqui fazendo oração de velha chorona e não resolveu nada. Um homem a mais no mato poderia ser a diferença.
Essas foram às palavras que de verdade esclareceram as próximas ações do Padre. Gritou:
  • É isso, só Deus pode encontra-los. E eu como seu mensageiro hei de faze-lo. Saio agora em direção certa com os fiéis que aqui estão e queiram partir em romaria em busca da carne que se encontra em pavor, mas que vai encontrar a santa luz de Santa Clara.
Assim o Padre sai da igreja mais desacreditado do que nunca, mas com fé de que sabia de verdade onde estavam ambos.

Toda terça e toda quinta espero vc por aqui... mas, com uma condição, traga mais gente com você.... 

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Capítulo 7

Texto não revisado... correções serão bem vistas... 

Nesse momento o padre da paróquia local que a tudo assistia entrou em cena e resolveu tentar apaziguar as coisas.
  • Êpa! Pera lá, gente! Não é bem assim não. Vamos com calma e em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo tentar encontrar Ceres e Cleomar. Deorani inflamou-se com a questão e coloca palavras duras, mas que não devem ser levadas em consideração nem por mim nem por Deus, pois está escrito em seus olhos que quer mais do que ninguém encontrar a resposta para o sumiço. Deorani, vá com calma, eu imploro por Santa Clara que ilumine nossos caminhos e esclareça essa questão.
Nesse exato instante eis que surge na parada Severino Conceição e com seu vozeirão fez-se escutar:
  • Mas que diabos esta acontecendo aqui?
Colocou as duas mãos na cintura, levantou e abaixou os ombros e continuou com voz mais firme ainda:
  • Que negócio é esse de dizerem que eu dei sumiço em Ceres? Deorani! Escuta aqui! Ta de caso com Ceres e por isso está de tão grande ódio contra mim? Ou será que foi por não ter te convidado para meu jantar, onde apenas as pessoas honradas dessa vila participaram! O padre estava lá!
Deorani assombrou-se e não deixou por menos:
  • Fala grossa “desmunheca” de uma figa. Se for mentira o que digo que prove. E tem mais, quem quiser saber da verdade que se junte comigo nessa tropa e venha em direção ao norte em busca dos desaparecidos.
Padre não podia deixar as coisas piorarem e tentou mediar:
  • Calma gente! Estão todos nervosos com o acontecido e temos que manter a calma. Vamos para a igreja e...
Darci interrompeu com o seu falar manso e fino, subindo as escadas, feito uma mula sem beira:
  • Igreja padre? Igreja coisa nenhuma! Que meus conterrâneos me repudiem se eu estiver de erro. Mas se não estiver aceitem o que digo de bom coração. O caso é que Deorani, não sabe mais como atingir minha família e tenta caluniar meu lar de todas as formas.
Severino interveio e não entendendo muito bem o que acontecia pediu explicações. Delicadamente sacando de seu lenço cor-de-rosa do pescoço, passou a seda pelo rosto para secar o suor da testa.
  • Darci! Vai desembuchando logo e conta de uma vez por todas o que está acontecendo com Cleomar que ainda não entendi direito.
Deorani não deixou por menos.
  • Não entendeu por que não quis, alias, já até sabe, onde está um, está outro, se é que Cleomar já não está a salvo em sua casa saboreando quem sabe sangue do...
O padre novamente tenta interceder.
  • “Crendospai”. Divino seja. Abençoado seja Nosso Senhor. Deorani! Não vamos alimentar com mais ódio esse dilema de acusação sem beira.
Darci Sebastião tomou a palavra, puxando o padre fortemente pelo braço. Mas com a voz doce feito um canário não tinha quem resistisse.
  • Severino, eu conto a você de imediato o que está acontecendo. Cleomar e Ceres sumiram desde umas horas antes de você sair para sua empreitada. Não se sabe para onde nem para que. Sabe-se apenas que sumiram. Raptados, passeando, ninguém sabe.
Severino de olhos arregalados, assustado e pego desprevenido não deixou por menos. Partiu para um ataque frontal.
  • Que? Então é isso. Povo de Conceção prestem mais atenção ainda nisso que agora lhes digo para não serem mais enganados com palavras de gente que só pensa em si e em seu... (disse o final dessa frase olhando para Deorani). Bem capaz de Deorani ter engabelado Cleomar e feito assim gato e sapato de tal pessoa. Acho que em breve vão pedir o dinheiro do resgate, mas pago o dobro do que me pedirem para quem primeiro me trouxer notícias do paradeiro de Cleomar. Quanto a Ceres, como pessoa envolvida no sumiço, não merece minha atenção.
O povo se agitou e muitos já dispostos a de imediato começar a busca só não o fizeram por Deorani encabeçar novamente um discurso.
  • Escutem se me consideram de verdade gente como vocês. Coloco aqui minha palavra em jogo e prometo sumir da cidade se provarem que Ceres tem algo a ver com essa história toda. E, para que não seja negada a minha palavra, peço que me sigam em romaria pelas matas do norte em busca do quem sabe cadáver de Ceres.
O padre se comove.
  • Creia Deus pai todo poderoso. Que isso não seja permitido. Que a vida esteja entre eles e que os encontremos com vida e sãos.
O público se dividiu. Uma parte seguiu Severino e Darci a outra debandou para o lado de Deorani.
Cada um para um canto, cada qual em uma direção. Prontos a descobrirem o paradeiro de ambos.
Ken a tudo assistia do alto da torre da igreja que não era tão alta assim. Pensativo observava com deleite de quem sabe as respostas, mas não pode interferir. Contou-me que já sabia da resolução do caso antes mesmo de acontecer o ocorrido. E disse-me com antecedência de que o padre era quem iria desvendar o caso. O padre? O único que não saiu em busca de ninguém?
A única coisa que fez foi organizar uma celebração de preces em vigília para conseguir uma graça do divino. E em silêncio absoluto aguarda notícias dos fatos.
Severino Conceição e Darci Sebastião rapidamente mobilizaram uma patrulha com vários membros. Saíram em duas direções diferentes divididos em duas equipes. Severino Conceição melhor do que ninguém conhecia a região e se dependesse disso, Cleomar e Ceres estavam salvos.
Deorani mais rápido ainda organizou seu comandado para irem ao encalço de Ceres. Em rumo ao norte.

Aqui só tem propaganda boca a boca... me ajude....
terça-feira e quinta-feira, um novo capítulo....

terça-feira, 21 de junho de 2011

Capítulo 6

Texto não revisado... correções serão bem vistas... 

Cleomar e Ceres perdidos na noite escura conversavam:
  • Ceres o que havemos de fazer agora? Como vamos sair desse impasse que você nos colocou? Bendito seja quem de coragem tiver para em nosso encalce encontrar nosso caminho e resgatar nossa alma. Ceres, Ceres, diga algo, onde você está?
  • Cleomar! Estou aqui. Por de trás desta moita acoitado e cansado.
  • Acoitado de que, ser irreverente que não quis escutar minhas preces?
  • Preces? E desde quando você sabe rezar? Esta aqui nesse confim de mundo por que quis.
  • Pois vou lhe contar uma coisa sua minhoca asquerosa. Nesse fim de mundo firmado de Deus, apenas eu posso tirar nós dois desse abismo bestial sem fronteiras definidas e que o azul do céu se confunde com o horizonte horrendo de tão belo. Fique, a saber, que por essas paragens já há muito tempo resido em pensamento e conheço cada espinho nojento e doloroso. Cada buraco de bicho lanterneiro maldito que acossa de vez em quando por essa terra sem fim. E apenas deixei-me ir para você não descobrir as intenções maléficas de Severino que de Santo não tem nada. Há muito estive desconfiando e só agora dei conta da verdade. Essa pessoa safardana pensa que me engana, mas não me engana não e...
  • Chega, chega de tanto “bestiar” palavras sem condição de dizer o que se tem no peito agarrado a morte. A morte, aquela que encomendou nossa alma de perto e nos trouxe aqui de castigo por querer adentrar no sagrado mundo de Santa Conceição, que Deus a tenha e tenha piedade de nós. Cleomar, chega de asneiras e preste atenção.
  • Ah? O que quer dizer?
  • Cleomar veja desse modo enraizado. Estamos em um beco sem saída, voltar não dá, ir para frente é ir para o nada, ou quem sabe para a casa do capeta que empreita essa aventura que tomamos de assalto e estamos a invocar Santa Conceição para um caminho seguro indicar. Vamos nos aquietar e de trem tombado nessa moita que aqui me escoro vamos silenciar tudo o que possa entrar em nossa mente e rezar por Santa Conceição. Orar Cleomar, orar.
  • Ceres! Orar de hora em hora...
E com isso deu uma risadinha amarela. Pegou seu saco com as tralhas e encostou-se à moita. Ali permaneceram pelo resto da noite em busca de luz para o dia seguinte.
No dia seguinte Cleomar e Ceres ainda tinham o que comer e beber, mas sabiam que o alimento sagrado ia acabar e racionar não adiantava muito, tinha muito pouco. Abismados e sem muitas idéias foi Cleomar quem trouxe a esperança. Em certas horas um ser genial que sempre no final um embuste, pegava sorrateiramente e acabava por destruir a imagem de um ser sem igual.
Assim que amanheceu o dia, dois corpos estirados na moita, meio abraçados, meio virados, de certo mesmo, enrolados. Acordaram e com expressão de gente já tombada, olhavam desoladamente em redor do nada.
  • Ceres! Tive uma idéia nesse momento que pode salvar nossas vidas. Acordar nesse...
  • Cleomar. Fecha essa matraca de bode velho e vê se abre a sacola e me dá um naco de pão dormido molhado em água.
  • Ceres, que presunção e presta atenção no que digo. Sonhei com uma Santa que indicava o caminho. Apontava para cima e dizia: “para sair desse buraco o caminho é para cima, embora onde você esteja fique parecendo para baixo”.
  • Não seja idiota, sonho nenhum pode nos tirar dessa, melhor é esperar pela amiga morte, que lá pela metade do dia deve já enviar seus representantes alados a nos catucar.
  • Não seja idiota você, vou lhe contar o que é estar de cabeça para baixo. Quando estamos em um caminho errado e não sabemos, o que é errado fica parecendo certo e vice-versa. Em cima fica parecendo embaixo e conforme se pensa que se esta subindo, estamos descendo. Agora já está mais fácil do que nunca sair daqui.
  • É? Como adorável resplandecer da sabedoria.
  • Fácil, fácil, é só descobrir o caminho errado, saber que é o caminho errado e então vamos por eliminação saber qual é o certo.
  • Adorável, adorei, tenho agora além de meus problemas ter que descobrir o que um gênio quer dizer.
  • Ceres, você é a minha salvação, como não sabe para onde ir, é só eu me separar de você e estarei livre, livre... Hahahahaha!
Sim senhor, assim era Cleomar, de anjo a demônio em poucos instantes. Sempre começava bem, mas depois, como sempre se confundia. Ceres estava mesmo com a razão... E resolveu apontar um caminho, o sul, que estava mais próximo da saída. Mas Cleomar, agindo pela intuição ao ver Ceres se decidindo no rumo, saiu em disparada em direção oposta, para o norte, onde o nada o esperava.
  • Cleomar volte aqui, volte.
E Ceres sem coragem para seguir só... De medo seguiu Cleomar mesmo sabendo do erro.
Severino estava de volta, o calendário já apontava para dia oito. O interessante era que sua investida demorava um dia e meio para cruzar as veredas e chegar ao destino marcado. Mas seu retorno se dava em apenas um pouco mais de oito horas de marcha.
Ken sabia a resposta, mas nesse momento o que mais interessava era o alvoroço que estava acontecendo no povoado de Conceção dos Altos.
A cidadela estava em uma mistura de pânico e alvoroço. Darci Sebastião gritava pelas ruas em disparada: “volta Cleomar, volta. Papai já te perdoou”.
Deorani na praça em cima do coreto incitava parte da população local colocando a culpa do sumiço em Cleomar...
  • Povo de Conceção, já sabem mais do que eu o que aconteceu, mas não sabem por que aconteceu e lhes conto. A culpa do sumiço de Ceres é Severino. Cadê, como sempre, sumiu. Nem da conta de um membro da família. Todos nós sabemos das desavenças que existem entre sua família e Ceres. Pobre mendicância que de mal não pratica nenhum, a não ser pedir um punhado de comida. Povo de Conceção, apelo agora para que me escutem com os olhos bem abertos e fiquem atentos com o que vou contar, pois um dia poderá acontecer com vocês também. Ceres foi com Cleomar para o meio da mata e lá só Deus sabe o que pode ter acontecido quando os horrendos e descabidos se uniram.

    Colabore, chame os amigos
    Terça-feira e quinta-feira, tem mais

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Capítulo 5

Texto não revisado... correções serão bem vistas... 

Severino Conceição que já não acreditava muito em coisas do além, teve uma surpresa muito grande quando pela primeira vez, viu Ken. Foi em uma de suas andanças pelos interiores de Rio Acima. A cada mês, destinava três dias de sua vida a uma longa e solitária caminhada pela mata, ou pelo o que restava dela. Em pleno jejum, dizia não comer nada. Saia por volta da manhã do dia seis de cada mês regressava sempre no dia oito pela tarde. Nunca falhava e não existia bom ou mau tempo que o intimidasse. Os habitantes de Conceção dos Altos ficavam intrigados com essas fugidas de Severino Conceição. Alguns diziam que Severino havia encontrado o paraíso tão sonhado e todo mês ia fazer uma devoção à santa.
Quem de verdade sabia melhor do que ninguém essa história era Ken. Em suas andanças veio parar na encruzilhada de Brejo Seco. Onde essa história parece sempre começar e retornar. Nessa encruzilhada, não conhecendo as paragens, sentou e descansou por algum tempo. Encontrou um transeunte que acabou lhe contando toda a história de Conceção dos altos, e seus personagens. Deslumbrado com as façanhas do vilarejo resolveu conhecer de perto.
Andando discretamente pela cidade, não foi difícil detectar a presença de Ceres, Severino e Darci. Mas Severino foi quem mais lhe chamou a atenção. A Severino passou a acompanhar diariamente e mais fácil ainda foi descobrir o que fazia em suas andanças pela mata hostil e emaranhada de Rio Acima.
Severino Conceição saía para sua caminhada apenas com os trajes do corpo. Ninguém nunca se atreveu ir ao seu encalço para ver em que “banda” ia dar. Isso era mais um enigma da cidade que ninguém se atrevia a perguntar. Severino sempre desviava do assunto e dizia que não importava e era para cada um cuidar da sua própria vida.
Ken também ficou muito intrigado com as atitudes de antes e depois de cada caminhada de Severino Conceição. Em certa manhã, Ken resolveu que já estava na hora de descobrir o que o ilustre morador de Conceção dos Altos andava aprontando. Sorrateiramente, saiu em uma perseguição anônima. Severino Conceição, como sempre fazia, se dirigiu para o norte. Até certo ponto, todos os habitantes daquele lugarejo sabiam que Severino passava. Mas do Penhasco da Morte para frente, nunca ninguém se atreveu a passar.
Penhasco da Morte como o próprio nome dizia, era perigoso. Uma pequena trilha que subia por um grande monte de pedra, com desfiladeiros imensos, era a marca registrada desse lugar. Seguir alguém por ele, só mesmo Ken para conseguir. Um escorregão, uma desatenção por menor que fosse e pronto, já era motivo suficiente para nunca mais se poder voltar. Severino subiu e desceu o penhasco, atravessou uma grande planície e se emaranhando cada vez mais pela mata, quase estava impossível de ser seguido de tão longe. Mas Ken, astuto e experiente colhedor de arroz, usou de todas as suas habilidades para perseguir o forasteiro. Depois de uma noite mal dormida em solo duro, a caminhada prosseguiu. Por volta do meio dia não é que Severino Conceição chega a um fantástico local. Um pequeno altar com a imagem de Nossa Senhora da Conceição em uma gruta que aparentava ser rasa. Mas ao se aproximar, percebia-se que de rasa não tinha nada. A primeira câmara era redonda, em suas laterais saíam túneis baixos em todas as direções. Um verdadeiro labirinto. Mas Severino Conceição sabia de verdade onde estava andando e se enfiava caverna adentro sempre aparentando muita certeza do que queria.
Ken entrou na caverna. Mas, escura e fria acabou se perdendo. Andava de um lado para o outro sem conseguir saber de verdade onde estava. O interessante é que como ele relata, parecia sempre que existia uma luz no final de cada túnel. O que o fazia andar em direções diversas em busca de uma saída. Mas no final do imenso corredor o que se encontrava eram outras galerias, cada qual com mais um punhado de túneis levando as novas galerias.
Ken, se vendo em circunstância amedrontadora, clamou por ajuda e passou a gritar por pedido de socorro. Severino tomou um susto quando de dentro de uma das galerias escutou o bramido. Respondeu ao chamado, mas não conseguia localizar de onde vinha o pedido. Conhecendo muito bem o local não foi difícil localizar Ken, que ficou surpreso.
De fato, Severino teve que deixar seus afazeres para atender a Ken. Este depois de salvo passou a se apresentar, e pelo resto do dia conversaram muito, coisas que eu e você de imediato não entenderíamos. Mas, o que mais interessa, é saber que a cada viagem, Severino voltava mais aliviado, melhor, mais forte. Mais consciente das coisas que deveria fazer. Ken adorou tanto o que viu, que prometeu não contar nada a ninguém.
Mas esse fato na cidade era um verdadeiro enigma. Ceres estava mais do que certo de que o paraíso estava escondido por aquelas paragens e estava disposto a encontra-lo. Esse era o seu maior pensamento. Coragem para enfrentar a mata não tinha, mas se alguém fosse junto, há... Daí seria diferente. Ceres passou a especular com Cleomar o que acontecia nas viagens de Severino. Cleomar não tinha como saber, embora tivesse grande curiosidade.
Em uma conversa mais atenta com Cleomar, Ceres acaba o convencendo a seguir Severino a partir de trás do penhasco da morte. Como todos sabiam que a subida e descia do monte era imprescindível, esperariam escondidos na planície por Severino. E assim fizeram, mas se deram muito mal. Severino com passo mais ligeiro que uma mula desembestada, não foi páreo para os dois negligentes. Antes que descem conta do que estava acontecendo, se embrenharam de tal forma na mata que de lá não mais conseguiam sair. Nem sinal de penhasco, nem nada, apenas sol, e mata fechada e seca. Andaram por muitas léguas, sem direção e sem caminho certo. Trilha já não tinha mais aberta. Enroscavam-se em cipós e galhos espinhosos. Arranhados, doloridos finalmente deram conta do fato ocorrido. Estavam perdidos. A noite caiu e com ela o medo e a incerteza de se não ter mais forças para o retorno. Pouco alimento e pouca água para eles restavam. A morte, lenta e gradual parecia ser a medida certa para ambos. Que horror, que façanha, tudo um grande erro.

Se chegou até aqui é por gostra da estória... não seja egoísta, avise os amigos
Toda terça-feira e quinta-feira um novo capítulo

terça-feira, 14 de junho de 2011

Capítulo 4

Texto não revisado... correções serão bem vistas... 

Só para terem uma idéia de como era o comportamento de Cleomar, anuncio aqui uma de suas passagens mais notórias. Não que as outras sejam de menor importância, mas essa em especial como poderão notar, dá toda as características da personalidade mais do que maluca de Cleomar.
Certa vez, Cleomar cismou que era uma pessoa de muita importância. Vivia andando para baixo e para cima a esmo, indagando a todos quais os seus piores problemas. Para isso ele teria uma solução, é lógico, com a devida autorização da pessoa danada. Bem, em certa manhã, totalmente mais do que atacado, estava com uma baita dor de barriga. Não saiu de casa naquele pedaço de dia. Estava amargurado. Em seus pensamentos apenas a questão de que tinha que resolver os problemas da humanidade, principalmente um, que o atormentava a todo instante. “Se a maioria das pessoas somente pensam asneiras o tempo todo, isso faz com que elas mesmas se danem toda. Não seria melhor então não permitir que pensassem?” E nisso meditava, meditava até não conseguir pensar em mais nada. Pensava em como conseguir uma distração para que as pessoas não pensassem mais em coisas que de verdade apenas traria mais complicações para a própria pessoa. Nisso, sentindo fortes dores de barriga, correu para o banheiro. Cleomar sentado no vaso sanitário pensava, mas não obtinha resposta. Nisso, esvaziando seu intestino, sentiu uma presença estranha se aproximando da porta do banheiro. Pela fresta da porta viu uma sombra. Era um serviçal da casa. Que ao bater na porta, exclamou: “Cleomar, acabei de limpar o banheiro, e ainda não coloquei o rolo de papel higiênico. Alias, não tem aqui na casa, tem que ir comprar”. Cleomar revoltado respondeu aos gritos: “Isso não se faz a uma pessoa na minha posição”. No resto do dia, saiu repetindo pelas ruas da pequena cidade essa mesma frase. Os transeuntes ficavam curiosos para saber o que poderia ter acontecido. Mas ele não explicava e apenas fazia um tremendo dramalhão.
Ceres e Cleomar tinham muita afinidade, e num momento de lucidez de ambos a história de como Ceres veio parar em Conceção dos Altos foi contada e entendida.
Aconteceu o seguinte. Cansado da vida da cidade, sem conseguir descobrir a razão de porque teria que viver, e passar por conflitos que tinha, saiu em busca das respostas. Deu cabeçada para todo lado. Andou de porta em porta em busca do que procurava. Mas cada vez mais encontrava dúvidas. A questão da vida para Ceres nessa época era de primordial relevância. Não sentia prazer em coisas corriqueiras que as pessoas comuns como eu e você adoramos. Dançar não era seu forte. Achava uma idiotice bailes e festas, onde pessoas se encontravam para simplesmente mostrar uma roupa nova, um namorado novo, um carro de luxo, um “papo furado”. Manifestações populares, nunca se deu conta de que existiam. Detestava quando verdadeiras massas se reunião para festejar alguma coisa. Sentia-se mal diante desses fatos. Era bem diferente de todos que conhecemos. Uma pessoa feita bichinho do mato, mas que morava em cidade. E agora, estava querendo encontrar a sua turma. Amigos e amigas fiéis nunca teve. Sempre conhecia pessoas novas, mas logo acabava o encanto. Do sexo oposto até que gostava, mas nunca deu certo com ninguém. Tipo arreitado e pouco sociável não dava muita trela para quem quer que fosse, apenas para agradar. Gostava. Se, gostava. Se não, dizia logo e pouco se importava com opiniões diferentes. Dessa parte pelo menos era de muita autenticidade. E esse era um ponto forte em seu caráter bem formado, mas já naquela época com uma certa tendência para uns afazeres menos considerados.
Na sua busca pela verdade de sua vida, conheceu muitas pessoas interessantes, e de mais valia, aprendeu muita coisa que para nós, simples mortais, não faz o menor sentido. Não vou aqui colocar o conteúdo desse aprendizado para que não entre em questão se Ceres já naquela época estava ficando meio demente. De tanto estudar teorias filosóficas, mestres em ascensão, ideais religiosos, conseguiu com muito esforço, finalizar um pensamento bem certo a respeito de como deveria ser uma conduta perfeita. Dessa forma, caminhando em sentido de obter uma nova vida, e deixando tudo que conhecia para trás, conseguiu reformular suas idéias, seus pensamentos. Usou algo para isso, que muito bem conhecemos. Para ser criado o novo, às vezes, temos que destruir as coisas que já são ultrapassadas. Em resumo, abrir espaço para novos tempos. Se criarmos a idéia de que pessoas são casas. E se imaginarmos uma única pessoa como sendo um casebre, para se construir uma mansão nesse lugar teremos que demolir o casebre com muita certeza. Esse ponto foi o crucial para Ceres. Chegando a essa conclusão, definiu suas metas e estava mesmo se direcionando para destruir por completo a pessoa antiga, Ceres. A segunda etapa era construir uma nova pessoa. A primeira etapa conseguiu fazer, mas a segunda, por ter pressa e por não ter boa orientação, acabou falhando e caindo em erro, resultando em um ser cheio de conhecimento, mas para o mesmo, não tinha nenhuma serventia. Era agora um “saco de batatas”.
Desolando-se da vida, sem forças para um recomeço, certa vez encontrando com outros vagabundos, chegou a seu conhecimento a historieta da Santa Conceição. De imediato se dirigiu para o local, ora de carona em carroceria de caminhão, ora andando, chegou em Conceção dos Altos para encontrar finalmente o “Paraíso”. Seu estado era lamentável. Sem dinheiro, sem forças para trabalhar a verdade é que já estava se acostumando com o sofrimento, e nem mais o percebia. Isso acontece com muita gente. Eu. Você. Quantas coisas são ruins e pensamos que não nos afeta. Isso porque já nos acostumamos com certos fatos, e denota nossa incapacidade de compreender o que mais nos faz mal.
Conceção dos Altos agora era o lar de Ceres. Recebia alimento de Deorani e tinha finalmente alguém, Cleomar. Louco por louco, deixemo-los para lá um pouco mais.
Ken era um exímio criador de peixe. Pelo menos de um. O seu grande peixe dourado. Ele sempre pensava que animais de estimação eram para seu encanto. Mas não imaginava que tal bichinho o fosse fazer de escravo. Não queria de maneira alguma aquele hóspede em sua casa. Mas ganhara de um amigo uma tigela com o venerável peixe dourado. Grandes amigos se tornaram. Mas Ken não se conformava de ter sido domesticado pelo sábio peixinho. O caso começou quando Ken resolveu tampar a tigela para evitar que um salto mais desastrado pudesse dar fim a vida do seu mais novo companheiro. Colocou uma toalhinha em cima da tigela, mas como o meio acabava afundando e chegando a água, colocou dois pauzinhos em cima para apoiar o tecido leve. O amigo dourado dava pequenos saltos que com a presença do novo elemento, acabava acertando com a cabeça o objeto que atravessava a tigela fazendo algum barulho. Ken para amenizar a situação corria até o recipiente e colocava alguma comida para o bicho esperto e manhoso. Acreditava assim estar resolvendo o problema. Mas, o problema começou aí. O tinhoso do peixe percebeu que poderia controlar Ken, e o fez de verdade. Todas as vezes que tinha fome, saltava de cabeça no pau e Ken saía correndo para alimentá-lo. Desse dia em diante Ken começou a ser treinado pelo peixe, e se tornando um verdadeiro escravo. Finalmente quem pensava ser o dominador, era o dominado. Vivia correndo de um canto para o outro sempre à procura de algo para passar o tempo, mas no final os dois tinham que se debater cara a cara. E cada vez mais Ken estava ficando dependente do vício do venerável amigo dourado.
Dependente mesmo estava Ceres. Em uma de suas andanças a procura pelo desconhecido, encontrou um grupo. Foi lá que começou a se danar todo. Descobriu que para certas coisas existiam caminhos mais curtos para se chegar ao objetivo desejado. Mas o preço cobrado por isso ninguém informou antes que fosse tarde. Fazia suas orações diariamente. Não tinha “mole com ele não”. Mas, certo estágio psicológico não atingia. Nesse grupo que ingressara, e por sinal o último até então, aprendeu a manipular certas substâncias para atingir determinados estágios emocionais que para ele era a mais completa novidade. Substâncias químicas em um corpo pode fazer muito estrago, e fez mesmo. Encantado-se com os resultados obtidos exagerou demais em alguns momentos no uso indiscriminado que fazia, na ânsia de obter melhores resultados. Mas a natureza não salta e como pulou etapas, se danou e dessa vez, muito mesmo. E o fim da picada foi quando resolveu usar canábis por ser mais barata e ter resultados semelhantes a outras ervas que fumava e ingeria em forma de chá. Viciado ficou. Lamentável essa situação, mas não havia mais nada que se poderia fazer. Até Ken dizia isso. Fim da picada para Ceres?

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quinta-feira, 9 de junho de 2011

Capítulo 3

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Engano deles. Na encosta, a faminta pessoa olhou para a sua mula. Com muita sede e já se esvaindo a força, não teve dúvida. Sacrificou o animal debaixo do escaldante sol. Primeiro bebeu do sangue que jorrava por uma artéria. Saciando seu apetite com as vísceras, recompôs suas forças para o que ainda tinha que enfrentar.
O local em que se encontrava era proibitivo por natureza, sem água, sem caça, só espinho e sol. Resumindo, o lamento daquele ser que de nome usava o de Eli, digo que dormiu aquela noite na encosta, e ao amanhecer resolveu subir alguns metros para ver se conseguia avistar alguma coisa. Olhando de frente para o sol nascente, não é que de surpresa teve uma miragem? A meio céu, viu uma Santa que parecia pairar sobre a terra. A Santa com voz firme e doce manifestou-se para Eli: “Jovem, sou Nossa Senhora da Conceição, siga nessa direção que lhe aponto, e diga a todos que o paraíso ainda existe”. Para sua surpresa não é que encontrou um lindo vale verdejante bem perto de onde estava? Rumou para lá rapidamente. Saciou sua sede e comeu alguns vegetais que encontrou. Restabelecendo suas forças, ainda com um bom naco de vísceras da mula no lombo, tomou rumo certo para a fazenda em que vivia. A jagunçada sem esperança que voltasse alguém vivo de tal empreitada, já tinha dado em retirada no dia anterior.
Eli tornou-se centro das atenções quando retornou com sua fantástica história. Passaram-se vários anos, e muitos curiosos acabaram desaparecendo nas paragens do Rio Acima, à procura do “paraíso”.
O próprio Coronel Pedroso andou em busca desse lugar sem sucesso. Tanta gente entra, tanta gente sai da encruzilhada de Brejo Seco que acabou sendo formada uma vila não muito longe dali. Um entreposto para aventureiros que quisessem seguir o caminho da Santa Conceição. Beatos, mitômanos, e até um padre vieram em busca do tal “Paraíso”, mas sem sucesso.
A vila foi crescendo e ficando famosa. De início chamavam-na de Parada da Santa. O Coronel Pedroso, sabendo que aquelas terras não valiam nada, e em forma de gratidão a Eli por muito tempo de bom serviço prestado tirando-lhe de vários apuros, deu de presente boas léguas de terra onde estivera antes sem rumo. De papel passado e tudo. Eli, pessoa simples, tinha uma certa dificuldade em pronunciar certas palavras. E para o tabelião que fez a papelada da posse das léguas, ao mencionar o nome que queria dar ao lugar mencionou: “O luga vai chama Conceção dos Altos. Conceção por causa da Santa e Altos de modo que foi o pé de morro que me salvou também”.
E assim se fez, por vontade de uma pessoa simples, o lugarejo passou a ser conhecido por Conceção dos Altos, conforme já sabem. Mas a Santa nunca ninguém viu e o vale encantado de Shangrilá, menos ainda. Alias, Eli sumiu em suas terras. Entrou na mata e nunca mais voltou. Dizem os beatos que Eli encontrou sua querida santa e está morando no paraíso. Para os mais céticos, ele fugiu de desgosto pela sua invenção.
Eli passou a ser uma referencia de coragem para muitos e de loucura para outros. A única coisa que sei é que o lugarejo ainda existe e como homenagem a Eli, muitas pessoas batizam seus filhos com nomes que podem ser usados tanto por homens como por mulheres. Essa é a tradição do local, que ainda discute se Eli era homem ou mulher. O Coronel, pessoa que de certo saberia dizer, a muito já havia morrido. De viventes como testemunhas da época, ninguém sobrou. Coisa para mais de duzentos anos. Os filhos e os netos contavam histórias para as futuras gerações que confundiram a verdade e de fato, Eli homem ou mulher, ninguém mais sabe.


A paixão de Ceres era Deorani. Famosa pessoa vagabunda da cidade. Andava entre cantos e latas de lixo esperando um resto de comida. Tendo a vaidade por natureza, tal pessoa não se acanhava em pedir esmola para comprar novos pares de meias.
O que os unia de verdade era o danado do arroz branco bem solto. Quando ainda quente na panela, seu aroma atraía até os anjos. E por falar em anjos, foi assim que adivinhem quem localizou a parte que não vagabundeava da dupla divina? Ken? Muito bem, seguindo o relato de Ken, o arroz era algo majestoso e formoso. De verdade, a vagabundagem da referida pessoa foi em termos acanhada pela pureza desse cereal celestial. Deorani e Ceres. Até que poderia dar um bom casal, mas impossível. Um servia a Deus, outro, o diabo.
Todos os dias ao começar a cozinhar o danado do arroz em panela de ferro, alguns vagabundos da cidade rodeavam a casinha de um dos pares do casal mais estranho ainda que Severino Conceição e Darci Sebastião. À parte que não era da vagabundagem diariamente distribuía algumas porções de arroz para os menos favorecidos. Ano após ano, esse fato acabou por gerar um bom darma para essa pessoa, que embora não suporte a outra parte amante indiscreta, procurava tratar do assunto sem dar muita importância.
Ken, sempre se aproximava quando estava por aquelas paragens para saborear o tal do arroz. Como bom chinês, sabia do que se tratava em matéria de arroz. Jamais recusava uma porção. Assim passou a conhecer melhor Ceres e Deorani.
Um a metade do outro, mas não se ligavam por nada. Alias, uma das partes teimava em não querer. Pois, à parte que vagabundeava tinha até um cheiro não muito agradável. Sempre com escritos na mão, um dos pares andava pelos cantos a recitar poemas dos mais diversos.


Sobre Deorani e Ceres, mais tarde eu comento um pouco mais, principalmente os encontros entre Ceres e Cleomar. Verdadeiros devaneios intelectuais, onde ideias mirabolantes apareciam do nada para resolver as mais terríveis questões e problemas comuns a ambos.

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terça-feira, 7 de junho de 2011

Capítulo 2

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Mas, voltando ao caso de Ken, sua principal responsabilidade acabou sendo Cleomar. Vamos as descrições físicas de cada pessoa para entenderem melhor o que lhes digo.
Severino Conceição tinha como principal característica uma voz daquelas de locutor de rádio. Sua vestimenta era igual à de um cangaceiro, com direito a chapéu de couro com estrelas bordadas e tudo mais. Um facão na cinta, alpargatas quase que vinte e quatro horas por dia no pé, calças de boca reta e curta. Mas o principal de sua vestimenta e que chamou muito a atenção de Ken, e de outros quando não o conhecia era um lido e brilhante lenço de seda rosa enrolado no pescoço.
Seu falar era enérgico e bem acentuado. Tinha a firmeza de um governante autoritário em sua oração. Era capaz de fazer os mais cabeçudos mudarem de opinião com uma simples explicação de convencimento. Cá para nós, Ken me alertou várias vezes sobre isso. Dizia que era um dom muito perigoso esse de Severino Conceição e que deveria ficar atento se encontra um tipo assim.
Essa era a forma de como se apresentava ao público, bem pelo menos em parte. Sem gesticular era um verdadeiro “cabra macho sim senhor”, mas lembrei-me de uma coisa agora. Cabra é fêmea de bode. E, ao gesticular era totalmente outra pessoa. Enquanto falava até bravamente, gesticulava com uma delicadeza e uma finura de dar inveja a qualquer professor de boas maneiras. Bom de prosa. E Ken me falou que esse seu jeito estranho de ser era o seu id. Isso de certa maneira até o abençoava.
O dedo mínimo da mão ao comer sempre ficava esticado. Quando parava em algum lugar, com a mão sempre muita bem feita com unhas pintadas de vermelho ou rosa, ia direto para a cintura, que pelos trajes que usava dá a impressão de serem bem finas. Talvez um engano, mas Ken poderia afirmar isso?
Seus traços fisionômicos eram tão delicados como o de uma pétala de rosas. Sobrancelhas finas, mas não tinham marcas de serem aparadas. Sinal de barba nenhum. Alias, Darci Sebastião também não tinha esse sinal. Já que eram gêmeos, o que um tinha o outro também.
Ao caminhar era de uma elegância e suavidade. Dedos longos e finos, suas mãos eram um destaque ao se expressar.
Agora em relação à Darci Sebastião, tudo ao invés. Sua fala era mansa e meiga. Falava como uma fada. Incapaz de levantar a voz a quem quer que seja. Sempre com muita atenção, cordial, pessoa afetiva. Mas ao sentar em uma mesa para comer, um verdadeiro bicho do mato. Segurava o garfo feito uma colher de pedreiro. Babava, cuspia no chão e só fechava a boca quando acabava, e sabia-se disso pelo arroto que soltava à mesa. Fétido e nojento envergonhava Cleomar. Andava sempre de terninho. Com roupa impecável. Tinha como marca registrada beijar a tudo e a todos de forma indiscriminada. Quanto a isso, fazia com o maior carinho. Só, que tinha a mão meio pesada, e seus gestos bem grosseiros. Uma pessoa caipirona ao andar, de traços rudes. Um abraço seu seria quase a morte para os mais desprevenidos. Usava uma enxada como ninguém. Parecia uma mula para trabalhar em serviços mais pesados
Com sua fala mansa encantava e era capaz de acalmar a besta mais indomável.
Esses dois seres tinham como maior preocupação e atenção à vida de Cleomar.
Por sua vez, Cleomar era um misto entre os dois. A confusão de criança acabou por afetar sua mente. Sem saber quando criança, quem era um e quem era outro, pois uma de suas diversões (a do casal de gêmeos) era confundir a cabecinha de Cleomar.
Seus cabelos bem apanhados eram cheios e vistosos. Curtos ao certo, mas não a ponto de descobrir a orelha. Um brinco que sempre usava do lado direito era sua marca registrada. Era pessoa de traços e hábitos normais. Sem nada que se mereça um destaque. A não ser que sempre tinha idéias avançadas demais para a época, para não dizer outra coisa. Afinal, Ken pode afirmar isso.
E por falar em Ken, saibam de uma coisa. Sujeito esperto. Chinês arretado. Responsável por uma imensa plantação de arroz em sua terra natal, não abria mão de uma boa soneca a qualquer hora do dia. Sempre dizia que não era sono profundo. Apenas uma pausa para recreação e aprendizagem, já que com esse ato tinha sonhos interessantes e muitos deles bem reais.
Ken, homem muito respeitado em sua vila. Morava em uma província do lado oeste da China e certa vez, resolveu fazer uma penitência atravessando o imenso país amarelo de joelhos para chegar a grande estátua de Buda. A maior de todas. Andou por mais de ano dando três passos, deitando no solo rezando e levantando. Isso uma infinidade de vezes. Conta ele, que seu pai saiu com essa missão e nunca mais retornou. Envergonhado fez o mesmo para lavar a honra da família, e ao retornar foi aceito como um Lama. Ken sempre gostou do lado oculto da vida, foi Ceres quem o viu pela primeira vez na pacata cidade de Conceção dos Altos. Lá em Brejo seco.
Para falar um pouco mais do que posso a respeito de Ken, resta salientar que era um filósofo de bom coração. Homem de grande poder de concentração e meditava com muita facilidade. E ao contrário do que muita gente pensa, meditar para ele era pensar em absolutamente nada.
A encruzilhada de Brejo Seco levava a várias localidades. De verdade qualquer caminho escolhido por um viajante, o levaria a desespero pelas dificuldades que encontraria.
Mas, ao norte era o atalho para Conceção dos Altos. A cidade de Ceres e Deorani.
Conceção dos Altos recebeu esse nome dado por uma pessoa da fazenda do Coronel Pedroso que passava pelo local antes mesmo de existir um povoado ali.
Conta à história que tal pessoa, sendo perseguida por uma jagunçada, correu de mula para as paragens de Brejo Seco. Conhecendo bem o local e já sem esperanças de salvamento, em retirada única e certeira, resolveu em apelo a Nossa Senhora da Conceição, se embrenhar pela mata ao norte. Mesmo sabendo de que não encontraria santa alma viva por aqueles lados, com seu trem seguiu o rumo da salvação. Já há vários dias, em desengano de caminho certo, e andando a esmo, chegou a uma encosta. Já não sabia mais se andavam ainda à sua caça ou não. A jagunçada, experiente e não tendo pretensão de cometer erros, descansou seus cavalos em Brejo Seco e ali permaneceram por vários dias para ter a certeza de que o ser da fazenda do tal Coronel não voltaria. Pensaram: “sem água e sem comida, ninguém, por mais valentia que tenha, poderia sobreviver nesse sertão desolado por Deus”.

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Próximo capítulo, 09/06/2011

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Capítulo 1

Meu Nome é Ken



Dia no nascimento


Em que dia, em que tempo, em que lugar afinal. Pela janela apenas nuvens. Sons e mensagens invadem minhas memórias. Ontem estava tão bem, mas hoje...


Peixe adestrador



“Minha experiência com peixes começou quando eu ainda era menino. Adorava ficar olhando eles nadarem de um lado para o outro. Resolvi então que já era chegada a hora de tê-los bem mais próximos de mim. Comecei a criá-los. Não tinha problemas, comecei a ter. Ora uma coisa, ora outra. E já estava desistindo quando minha vida foi mudada por um grande e lindo peixe dourado. Peixe muito sem vergonha. Me pegou direitinho. Sempre a minha caça. Sempre querendo tirar uma com minha cara. Safado mesmo. Não podia fazer nada. Na primeira vez que o vi, senti que deveria ser seu dono. Mas as coisas não foram bem assim que aconteceram. E ele é quem me dominou. Chiii..., deixa-me sair correndo agora. Grande honorável amigo dourado está a minha procura”.


A História Começa



Em verdade eu lhes digo, da verdade nada sei. Quem me contou foi Ken. Alias, o próprio ficou com muita dificuldade em poder esclarecer o que de verdade estava acontecendo. Sempre soube que deveria ser uma coisa ou outra. Mas neste caso, quem poderia dizer a verdade? Ken?
Em meados do ano de Nosso Senhor, Ken me procurou para contar essa historia. Recebi a incumbência de ter que relatar a todos para não mais haver dúvida. Mas, parece-me que depois desse tempo todo, a dúvida só aumentou.
Vamos ao que interessa para poder com a razão e intuição compreender o que estava acontecendo. Seria um caso desses para não mais ser mencionado. Mas, tinha que ser. Não poderia uma história assim ficar na escuridão. O público deve saber, e a quem interessa, mais ainda.
Os envolvidos nada falam. Nada dizem. Dizem que não sabem ao certo quem é Ken.
E por dizer isso, descobrir a identidade de cada um é o grande a fazer dessa história, que bem acabada, acaba de começar seu fim.
Falo agora de Severino Conceição, Darci Sebastião, Cleomar, esses todos irmãos, ou irmãs conforme queiram. Fora outros que não mencionarei nesse instante, para não confundi-los ainda mais.
A confusão toda começou na data de nascimento de Darci e Conceição. Casal de gêmeos, estes que até hoje tenho muita dificuldade em distinguir seus verdadeiros sexos. O caso se deu por desatenção do pai que na hora do registro dos nomes das crianças, se confundiu todo e acabou trocando tudo.
Na noite em questão do nascimento, saíram gêmeos da barriga da boa mãe. Incrível. Mas no sertão é assim. Quando menos se espera lá estão adorando mais um casal.
Já se desconfiava do fato, o que não se podia adivinhar era a confusão que isso iria trazer a vida cotidiana da velha cidade de Conceção dos Altos. Sim, isso mesmo, Conceção. Nas paragens do Rio Acima, bem perto do Brejo Seco, lugar de passagem de muitos, entre eles Ken, que se deliciou com essa história.
Geusimar e Iraci foram os pais. Mas, o pai que era meio analfabeto fez uma baita confusão com o nome das crianças.
Uma deveria chamar-se Darci Conceição e o outro Sebastião Severino. Acho que já entenderam o que aconteceu. Os nomes foram trocados na hora do registro. Conceição foi uma homenagem a pequena cidade, e mais tarde conto porque desse nome. O que não conto é quem é Ken. Para isso ele não me deu sua autorização. Apenas deixou mencionar seu codinome e outros pequenos detalhes de sua vida particular, que aqui nada interessa, apenas para ilustrar a personalidade de Ken.
Mas, a personalidade que mais interessa mesmo é a das pessoas gêmeas, que ainda não acabei de relatar o início da confusão toda.
Geusimar e Iraci, os genitores de Severino e Darci, estavam deveras felizes com o acontecimento. Mas, e agora, um Severino e outro Darci. O casal de gêmeos era de sexos opostos, mas mesmo assim, a natureza em um capricho extraordinário, resolveu colaborar para a confusão instalada e os fez devidamente gêmeos e quase idênticos, a não ser pelo sexo, que acabou não sendo a diferença e sim a igualdade deles. Não mudaram de sexo, apenas personalidades estranhas para nosso bem viver. E se forem ao contrário do que pensamos que eles deveriam ser, nada importa para ambos, que de natural já se acostumaram com o fato que também colaboraram para que acontecesse, e em muitas ocasiões, tiraram grande proveito.
Adoravam Geusimar e Iraci, nunca houve conflito entre eles, se bem que o pai morreu bem antes da mãe.
Mas, quem era a mãe e quem era o pai, Ken nunca falou. Geusimar, Iraci, não importa. Já estava feito e pronto.
As crianças quando eram, pequenas, e muito dependentes dos pais, usavam cada qual uma cor de roupa. Uma rosa e outra azul. Assim parecia estar resolvido o problema da confusão de identidade. Mas justamente foi dessa maneira que tudo começou. Quando as crianças estavam em idade de começar a fazer algumas peripécias, inocentemente trocavam as roupas, isso por volta de quando deixaram as fraldas.
A troca de roupa foi a mais culpada pela situação. Um fingindo ser o outro, acabavam por imitar seus gestos e seu comportamento para se fazer passar por tal. Por muitos anos foi acontecendo tal fato. De início, ainda se podia identificar que estavam trocando de identidade, mas suas artimanhas foram tantas, que já na adolescência nada mais se podia fazer, e nem se podia perceber. Dessa forma, cada qual tomou as características do outro. Fundindo duas, em uma personalidade totalmente estranha para nossos conceitos.

Próximo capítulo: terça-feira, 7/6