quinta-feira, 9 de junho de 2011

Capítulo 3

Texto não revisado... correções serão bem vistas... 

Engano deles. Na encosta, a faminta pessoa olhou para a sua mula. Com muita sede e já se esvaindo a força, não teve dúvida. Sacrificou o animal debaixo do escaldante sol. Primeiro bebeu do sangue que jorrava por uma artéria. Saciando seu apetite com as vísceras, recompôs suas forças para o que ainda tinha que enfrentar.
O local em que se encontrava era proibitivo por natureza, sem água, sem caça, só espinho e sol. Resumindo, o lamento daquele ser que de nome usava o de Eli, digo que dormiu aquela noite na encosta, e ao amanhecer resolveu subir alguns metros para ver se conseguia avistar alguma coisa. Olhando de frente para o sol nascente, não é que de surpresa teve uma miragem? A meio céu, viu uma Santa que parecia pairar sobre a terra. A Santa com voz firme e doce manifestou-se para Eli: “Jovem, sou Nossa Senhora da Conceição, siga nessa direção que lhe aponto, e diga a todos que o paraíso ainda existe”. Para sua surpresa não é que encontrou um lindo vale verdejante bem perto de onde estava? Rumou para lá rapidamente. Saciou sua sede e comeu alguns vegetais que encontrou. Restabelecendo suas forças, ainda com um bom naco de vísceras da mula no lombo, tomou rumo certo para a fazenda em que vivia. A jagunçada sem esperança que voltasse alguém vivo de tal empreitada, já tinha dado em retirada no dia anterior.
Eli tornou-se centro das atenções quando retornou com sua fantástica história. Passaram-se vários anos, e muitos curiosos acabaram desaparecendo nas paragens do Rio Acima, à procura do “paraíso”.
O próprio Coronel Pedroso andou em busca desse lugar sem sucesso. Tanta gente entra, tanta gente sai da encruzilhada de Brejo Seco que acabou sendo formada uma vila não muito longe dali. Um entreposto para aventureiros que quisessem seguir o caminho da Santa Conceição. Beatos, mitômanos, e até um padre vieram em busca do tal “Paraíso”, mas sem sucesso.
A vila foi crescendo e ficando famosa. De início chamavam-na de Parada da Santa. O Coronel Pedroso, sabendo que aquelas terras não valiam nada, e em forma de gratidão a Eli por muito tempo de bom serviço prestado tirando-lhe de vários apuros, deu de presente boas léguas de terra onde estivera antes sem rumo. De papel passado e tudo. Eli, pessoa simples, tinha uma certa dificuldade em pronunciar certas palavras. E para o tabelião que fez a papelada da posse das léguas, ao mencionar o nome que queria dar ao lugar mencionou: “O luga vai chama Conceção dos Altos. Conceção por causa da Santa e Altos de modo que foi o pé de morro que me salvou também”.
E assim se fez, por vontade de uma pessoa simples, o lugarejo passou a ser conhecido por Conceção dos Altos, conforme já sabem. Mas a Santa nunca ninguém viu e o vale encantado de Shangrilá, menos ainda. Alias, Eli sumiu em suas terras. Entrou na mata e nunca mais voltou. Dizem os beatos que Eli encontrou sua querida santa e está morando no paraíso. Para os mais céticos, ele fugiu de desgosto pela sua invenção.
Eli passou a ser uma referencia de coragem para muitos e de loucura para outros. A única coisa que sei é que o lugarejo ainda existe e como homenagem a Eli, muitas pessoas batizam seus filhos com nomes que podem ser usados tanto por homens como por mulheres. Essa é a tradição do local, que ainda discute se Eli era homem ou mulher. O Coronel, pessoa que de certo saberia dizer, a muito já havia morrido. De viventes como testemunhas da época, ninguém sobrou. Coisa para mais de duzentos anos. Os filhos e os netos contavam histórias para as futuras gerações que confundiram a verdade e de fato, Eli homem ou mulher, ninguém mais sabe.


A paixão de Ceres era Deorani. Famosa pessoa vagabunda da cidade. Andava entre cantos e latas de lixo esperando um resto de comida. Tendo a vaidade por natureza, tal pessoa não se acanhava em pedir esmola para comprar novos pares de meias.
O que os unia de verdade era o danado do arroz branco bem solto. Quando ainda quente na panela, seu aroma atraía até os anjos. E por falar em anjos, foi assim que adivinhem quem localizou a parte que não vagabundeava da dupla divina? Ken? Muito bem, seguindo o relato de Ken, o arroz era algo majestoso e formoso. De verdade, a vagabundagem da referida pessoa foi em termos acanhada pela pureza desse cereal celestial. Deorani e Ceres. Até que poderia dar um bom casal, mas impossível. Um servia a Deus, outro, o diabo.
Todos os dias ao começar a cozinhar o danado do arroz em panela de ferro, alguns vagabundos da cidade rodeavam a casinha de um dos pares do casal mais estranho ainda que Severino Conceição e Darci Sebastião. À parte que não era da vagabundagem diariamente distribuía algumas porções de arroz para os menos favorecidos. Ano após ano, esse fato acabou por gerar um bom darma para essa pessoa, que embora não suporte a outra parte amante indiscreta, procurava tratar do assunto sem dar muita importância.
Ken, sempre se aproximava quando estava por aquelas paragens para saborear o tal do arroz. Como bom chinês, sabia do que se tratava em matéria de arroz. Jamais recusava uma porção. Assim passou a conhecer melhor Ceres e Deorani.
Um a metade do outro, mas não se ligavam por nada. Alias, uma das partes teimava em não querer. Pois, à parte que vagabundeava tinha até um cheiro não muito agradável. Sempre com escritos na mão, um dos pares andava pelos cantos a recitar poemas dos mais diversos.


Sobre Deorani e Ceres, mais tarde eu comento um pouco mais, principalmente os encontros entre Ceres e Cleomar. Verdadeiros devaneios intelectuais, onde ideias mirabolantes apareciam do nada para resolver as mais terríveis questões e problemas comuns a ambos.

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Toda terça-feira e quinta-feira um novo capítulo

Um comentário:

  1. Olá
    Lí seu recado no blog.
    Por gentileza, escreva para poetisamoderna@hotmail.com
    Quero fazer algumas perguntas antes de divulgar seu trabalho, no cafofo da Katita.

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