terça-feira, 28 de junho de 2011

Capítulo 8

  •  Cleomar, quanto ainda temos de água?
  • Um pouco mais para uns dois dias racionando e não deixando pingar nada.
  • E a comida?
  • Dá para o mesmo tempo, depois disso, melhor encontrar algum lugar logo.
O dia estava quente demais. Quando entardeceu e o canto dos poucos pássaros escasseou, tiveram que encontrar um outro local para passar mais uma noite. Resumindo o suplício do acaso, depois de vários dias de sua perdição estavam já entrando em desespero. Cleomar e Ceres famintos. Estavam entrando em um estágio que comeriam qualquer coisa. E isso literalmente. Olheiras fundas, a pele amarelada, e o sol na cabeça completava o quadro de desespero.
Ceres, um ser exausto abaixou as calças, sentou nos calcanhares e defecou. A fome era tanta que após o ato, se debruçou em cima do pequeno monte e comeu suas próprias fezes.
Cleomar olhando aquilo lambeu os lábios, retirou uma caneca de sua bolsa, urinou e bebeu. Ceres fez o mesmo, mas quando ia beber Cleomar investiu contra, e a caneca derramou. Pularam no solo e lamberam a terra úmida, mas o que apenas conseguiram foi encher suas gargantas de mais pó.
Desolados, sentaram meio encostados, meio desmaiados, e ali permaneceram por bom tempo.
No início da noite daquele que parecia ser o derradeiro dia, vira no horizonte uma luz diferente que parecia chamar para uma viajem sem volta. A luz aos poucos se aproximava como querendo espiar o que estava acontecendo.
  • Ceres, o que é isso?
  • Cleomar! Deve ser a Santa que veio nos salvar, e em vez da dona morte nos levar de vez para o buraco, Santa Conceição veio intervir e salvar nossas almas.
  • Será?
  • Só pode ser, Cleomar, tem que ser. Arrume forças e vamos ao seu encontro, é nossa última esperança.
  • Vamos então Ceres.
E assim, os dois corpos moribundos e fétidos seguiram em direção a luz, mas apenas alguns passos deram e caíram desmaiados no pobre solo seco da região.
Ken estava ainda na igreja quando resolveu sair para ver mais de perto como andava a expedição de Severino e Deorani.
Severino e Darci dividiram sua tropa em duas fileiras. Andaram pelo resto do dia em busca de sinais, mas nada encontraram, apenas as pegadas do próprio Severino. Vendo que não teriam sucesso, pois a noite já estava baixando, resolveram voltar e iniciar as buscas no dia seguinte.
Por sua vez, Deorani, em busca frenética, saía sua tropa mais preparada. Levaram água e comida para vários dias e alguns equipamentos. Ao cair da noite dormiram no mato.
Nesse passo, passaram uma semana de buscas e nada foi encontrado. Nem Severino, nem Darci e nem Deorani haviam tido uma graça nessa empreita. Só o que restava era chorar pela alma dos seres desaparecidos.
Mas o padre parecia a cada dia mais nervoso. Andava de um lado para o outro em passo mais do que apertado. Parecia estar a espera por notícias, e estava, mas sua preocupação com algo que ninguém imaginava o que poderia ser era bem maior.
Rezava, orava, e de hora em hora saía da igreja e dava uma volta pela cidade.
Ken me contou a respeito de uma das orações do padre que acabou escutando meio sem querer.
“Grande Pai que a tudo vê e protege. Sabe que nesse caso não posso interferir. Que estava sob juramento. E que não posso revelar o caminho secreto que de virada saíram para essa viagem sem volta. Que Deus Pai me envie um Santo Protetor para me aliviar essa dor e poder encaminhar meus pensamentos em direção de uma solução derradeira e verdadeira para essa situação. Como posso? Como resolvo isso? Serei julgado por essas mortes se ocorrerem? Meu Deus dê noticias de como posso resolver essa questão”.
Padre sabia para onde havia saído de rumo os empreiteiros da morte. Mas não podia contar. Sabia, pois, Ceres havia se confessado um dia antes da viagem para o rumo que haveriam de tomar e qual a finalidade da aventura. O Padre aconselhou que não fizesse essa viagem, mas como podem ver de nada adiantou. E agora o dilema. Não podia contar sobre a confissão mesmo sabendo que poderia ajudar. Então o que fazer? No instante em que o Padre terminava sua oração, entrou pela porta Darci de fala mansa feita jumento bravo.
  • Nada de nada seu Padre. Ainda hoje estava com esperança de poder encontrar pelo menos um vestígio que fosse, de um rastro que fosse, mas nada seu padre.
Entra na igreja também Severino logo em seguida, com passos delicados e de mão na cintura.
  • Então seu Padre, cadê a sua reza? Para que serviu? Ficou esse tempo todo aqui fazendo oração de velha chorona e não resolveu nada. Um homem a mais no mato poderia ser a diferença.
Essas foram às palavras que de verdade esclareceram as próximas ações do Padre. Gritou:
  • É isso, só Deus pode encontra-los. E eu como seu mensageiro hei de faze-lo. Saio agora em direção certa com os fiéis que aqui estão e queiram partir em romaria em busca da carne que se encontra em pavor, mas que vai encontrar a santa luz de Santa Clara.
Assim o Padre sai da igreja mais desacreditado do que nunca, mas com fé de que sabia de verdade onde estavam ambos.

Toda terça e toda quinta espero vc por aqui... mas, com uma condição, traga mais gente com você.... 

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