quinta-feira, 30 de junho de 2011

Capítulo 9

Texto não revisado... correções serão bem vistas... 

Ceres disse para o Padre que iriam esperar Severino depois do Desfiladeiro da Morte e que o seguiriam por baixo, no pé dos barrancos e sempre com uma distância apreciável. Desse modo para quem não tem experiência em perseguição fica fácil se perder, ou no mínimo perder a trilha. Fez o que ninguém havia feito, seguiu em direção ao desfiladeiro e depois de passar sua parte mais aguda desceu e seguiu rumo norte por baixo, como Ceres havia dito. Em pouco tempo encontrou vestígios de caminhada já passada há alguns dias. Seguiu e seguiu com os fiéis em procissão. O dia acabou e todos dormiram com velas acessas na mata.
Assim que raiou o dia, partiram em direção certa em busca do desconhecido. E para o espanto de todos, o Padre acabava de encontrar dois corpos moribundos estirados na mata espinhenta e horrenda de Rio Acima.
Ao retornarem para a cidade com os dois corpos mais mortos do que vivos Severino caiu de joelho no solo da praça ao pé da escadaria da igreja.
  • Que Deus me perdoe por desafiar seu cervo fiel e destemido. Que Deus me castigue se considerar que minhas palavras foram de má fé. E por fim, que Deus abençoe esse Padre bendito e que seja tua carne eterna diante de todos. E que santo possa ser declarado um dia. Deus abençoe o Padre.
A cidade comovida gritava aos brados: “viva o Padre. Viva” e seu nome fora citado em pouco tempo pelos quatro cantos da região.
Ken acompanhava tudo mais do que atentamente. Sempre beliscando um punhado de arroz que carregava no bolso. O chinês não queria se envolver de forma alguma. Apenas apreciava cada momento saboreando cada situação, para depois mais tarde poder simplesmente estar contando a mim.
Padre se tornando herói trouxe novos forasteiros para a cidade. Todos queriam conhecer o Senhor que havia livrado pessoas da morte. Suas missas passaram a ser de casa cheia. Mais gente chegando do que saindo, mas com isso a cidade estava inchando.
Ceres e Cleomar juravam de pés juntos que a Santa os haviam salvado. Contavam:
  • Eu juro por tudo que é mais sagrado e espantoso desse mundão afora que o que salvou nossas vidas foi algo maior do que qualquer um pode imaginar.
Isso dizia Cleomar. E continuava em uma conversa em um banco da praça a alguns transeuntes, amigos e curiosos:
  • Nós estávamos mais do que de mãos ateadas. Parecia o inferno vestido de cinza. Nada de nada para qualquer lado que se encontrava horizonte. O demo deveria estar à espreita em todo canto a espera de nossa requebrada. Queria mesmo era o nosso catumbi de forma arrojada e desprezível. No começo da peleja pela vida ainda tínhamos forças para respaldar nossos pensamentos em Nossa Senhora da Conceição. Mas com o passar dos dias de sol tenebroso foi-se esvaindo a perseverança de se encontrar o caminho da salvação. Nesses dias de valente caminhada pelas lacunas da verdade, o fim olhava bem próximo do acerto. Era mais do que certo a morte. Até rei urubu sondava nossas paragens a fim de vasculhar nossas mentes para saber ao certo o dia do previsto. Mas nossa Santa Nossa Senhora não deixou. O demo se aproximou feroz em uma noite de escuridão sem lua. De madrugada a bicharada da noite que é escassa pelas bandas de lá se calou. Acordados! Com fome estávamos e sem água, de boca com trecos brancos nos cantos cheirávamos a desconfiança de que algum de certo estava à espreita no mato. Era o Demo safado tentando aguçar nossa vontade. Lutamos com todas as forças pelo que vinha. Nada se via, apenas o silêncio escuro da noite. Já sem os trens, que de peso grande abandonamos no caminho. Entrincheirados ficamos em uma vala rasa. Já era a cova definitiva para o lacaio, mas resistimos. No céu vimos buracos que se abriam e dentro deles demônios incontáveis que pareciam pular em nossos ombros. Sacudimos o corpo como se queimando pólvora em direção do matuto. Lá estava ele bem a nossa frente. De chifre na mão queria mais do que a alma. Queria o cerne do corpo. O coração. Saímos da vala em debandada assustada e sem rumo. De certo, aí nos perdemos mais. Os espinhos nos arranhavam e a cada gota de sangue jorrada o capão ria alto em minha cabeça. Por fim, mais cansados e imundos do que nunca, de certo nem o diabo ia nos querer fedendo tanto no inferno, fugimos e escapamos da morte por bem pouco. Rezamos o resto da noite e pedíamos para que a luz nas trevas fosse aparecendo. E para nós um caminho certeiro fosse trilhado. Mas caminho de vida e não de desencarne. E foi o que aconteceu. Bendito seja a Luz maravilhosa que dia seguinte no poente de resplendor apareceu para indicar a Santo Padre que o dia da gloria estava chegando. Bendito seja Santo Padre que seguiu a Santa Luz de Santa Conceição. E de Santa Clara que alumiou nossas almas. Santo Padre achou por que a outra Santa quis indicar para ele a distância certeira de um tiro de salvação.
Já Ceres era mais sensato e parecia não ter delirado tanto. Em outro canto da praça contava a mesma história:
  • Que de noite e de dia tudo era a mesma escuridão. Tontura e zumbido no ouvido não faltava a atear sem parar. Sem mesmo já saber de que dia se tratava, só andava de teima que tínhamos de querer viver. O mais assustador mesmo foi quando Cleomar se emaranhou no mato atrás de não sei o que. Gritava afoito o nome de Santa Clara e de tudo mais que lembrava de Santo. Espantado estava eu com tamanha desnudes. De corpo nu parecendo corpo açoitado de galho de marmelo, via-se em sua face o desespero. Queria e parecia que iria pular de um barranco. Pulei primeiro com fraca força que ainda tinha em cima de seus ombros. Em uma vala caímos. Eu por cima do corpo de Cleomar. De fôlego agitado gritava em desespero: “sai demo, bicho chinfrim, em cima de mim só Santa Clara, urubu tinhoso, vá na derradeira arrancada pro seu inferno de mentira”. Foi uma luta sem trégua acalmar Cleomar. Mas, antes do derradeiro suspiro de consciência, ou de devaneio, ainda saiu em disparada pela mata. Deu trabalho botar a roupa e calçar botas na pessoa agente de Deus, conforme Cleomar mesmo dizia. Respeitei a ocasião. Melhor dizer que vontade não dava nenhuma de tanta fome e indignação pela situação. O mais acanhado foi depois quando voltou os sentidos da besta que se instalara no corpo. Sem jeito, ficava a espreitar o mato como esperando um treco saindo de dentro e pulando em seu pescoço. Foi duro, mas acabou. De verdade o que sempre falamos é a Santa luz que de longe vimos juntos e disso os nossos depoimentos são unânimes em dizer que Santa Conceição operou mais um milagre. Só ela para indicar ao Santo Padre o derradeiro paradeiro da morte certa que estava por vir. Na tarde, na pior delas, a luz apareceu ao longe. Indicou o caminho certo tanto para Santo Padre como para nós perdidos de vida e já ficando sem alma. Mas, finalmente, tudo terminado. Sem dor, sem sofrimento maior, a não ser pelos dias de agonia de Deorani, Severino, Darci e todos os outros envolvidos que embora não tenham encontrado o caminho certo da trilha, ajudaram com suas rezas a Santo Padre.

    Serviço gratuíto é assim mesmo.... o povo indica boca a boca.... obrigado por estarem me ajudando....

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