Meu Nome é Ken
Dia no nascimento
Em que dia, em que tempo, em que lugar afinal. Pela janela apenas nuvens. Sons e mensagens invadem minhas memórias. Ontem estava tão bem, mas hoje...
Peixe adestrador
“Minha experiência com peixes começou quando eu ainda era menino. Adorava ficar olhando eles nadarem de um lado para o outro. Resolvi então que já era chegada a hora de tê-los bem mais próximos de mim. Comecei a criá-los. Não tinha problemas, comecei a ter. Ora uma coisa, ora outra. E já estava desistindo quando minha vida foi mudada por um grande e lindo peixe dourado. Peixe muito sem vergonha. Me pegou direitinho. Sempre a minha caça. Sempre querendo tirar uma com minha cara. Safado mesmo. Não podia fazer nada. Na primeira vez que o vi, senti que deveria ser seu dono. Mas as coisas não foram bem assim que aconteceram. E ele é quem me dominou. Chiii..., deixa-me sair correndo agora. Grande honorável amigo dourado está a minha procura”.
A História Começa
Em verdade eu lhes digo, da verdade nada sei. Quem me contou foi Ken. Alias, o próprio ficou com muita dificuldade em poder esclarecer o que de verdade estava acontecendo. Sempre soube que deveria ser uma coisa ou outra. Mas neste caso, quem poderia dizer a verdade? Ken?
Em meados do ano de Nosso Senhor, Ken me procurou para contar essa historia. Recebi a incumbência de ter que relatar a todos para não mais haver dúvida. Mas, parece-me que depois desse tempo todo, a dúvida só aumentou.
Vamos ao que interessa para poder com a razão e intuição compreender o que estava acontecendo. Seria um caso desses para não mais ser mencionado. Mas, tinha que ser. Não poderia uma história assim ficar na escuridão. O público deve saber, e a quem interessa, mais ainda.
Os envolvidos nada falam. Nada dizem. Dizem que não sabem ao certo quem é Ken.
E por dizer isso, descobrir a identidade de cada um é o grande a fazer dessa história, que bem acabada, acaba de começar seu fim.
Falo agora de Severino Conceição, Darci Sebastião, Cleomar, esses todos irmãos, ou irmãs conforme queiram. Fora outros que não mencionarei nesse instante, para não confundi-los ainda mais.
A confusão toda começou na data de nascimento de Darci e Conceição. Casal de gêmeos, estes que até hoje tenho muita dificuldade em distinguir seus verdadeiros sexos. O caso se deu por desatenção do pai que na hora do registro dos nomes das crianças, se confundiu todo e acabou trocando tudo.
Na noite em questão do nascimento, saíram gêmeos da barriga da boa mãe. Incrível. Mas no sertão é assim. Quando menos se espera lá estão adorando mais um casal.
Já se desconfiava do fato, o que não se podia adivinhar era a confusão que isso iria trazer a vida cotidiana da velha cidade de Conceção dos Altos. Sim, isso mesmo, Conceção. Nas paragens do Rio Acima, bem perto do Brejo Seco, lugar de passagem de muitos, entre eles Ken, que se deliciou com essa história.
Geusimar e Iraci foram os pais. Mas, o pai que era meio analfabeto fez uma baita confusão com o nome das crianças.
Uma deveria chamar-se Darci Conceição e o outro Sebastião Severino. Acho que já entenderam o que aconteceu. Os nomes foram trocados na hora do registro. Conceição foi uma homenagem a pequena cidade, e mais tarde conto porque desse nome. O que não conto é quem é Ken. Para isso ele não me deu sua autorização. Apenas deixou mencionar seu codinome e outros pequenos detalhes de sua vida particular, que aqui nada interessa, apenas para ilustrar a personalidade de Ken.
Mas, a personalidade que mais interessa mesmo é a das pessoas gêmeas, que ainda não acabei de relatar o início da confusão toda.
Geusimar e Iraci, os genitores de Severino e Darci, estavam deveras felizes com o acontecimento. Mas, e agora, um Severino e outro Darci. O casal de gêmeos era de sexos opostos, mas mesmo assim, a natureza em um capricho extraordinário, resolveu colaborar para a confusão instalada e os fez devidamente gêmeos e quase idênticos, a não ser pelo sexo, que acabou não sendo a diferença e sim a igualdade deles. Não mudaram de sexo, apenas personalidades estranhas para nosso bem viver. E se forem ao contrário do que pensamos que eles deveriam ser, nada importa para ambos, que de natural já se acostumaram com o fato que também colaboraram para que acontecesse, e em muitas ocasiões, tiraram grande proveito.
Adoravam Geusimar e Iraci, nunca houve conflito entre eles, se bem que o pai morreu bem antes da mãe.
Mas, quem era a mãe e quem era o pai, Ken nunca falou. Geusimar, Iraci, não importa. Já estava feito e pronto.
As crianças quando eram, pequenas, e muito dependentes dos pais, usavam cada qual uma cor de roupa. Uma rosa e outra azul. Assim parecia estar resolvido o problema da confusão de identidade. Mas justamente foi dessa maneira que tudo começou. Quando as crianças estavam em idade de começar a fazer algumas peripécias, inocentemente trocavam as roupas, isso por volta de quando deixaram as fraldas.
A troca de roupa foi a mais culpada pela situação. Um fingindo ser o outro, acabavam por imitar seus gestos e seu comportamento para se fazer passar por tal. Por muitos anos foi acontecendo tal fato. De início, ainda se podia identificar que estavam trocando de identidade, mas suas artimanhas foram tantas, que já na adolescência nada mais se podia fazer, e nem se podia perceber. Dessa forma, cada qual tomou as características do outro. Fundindo duas, em uma personalidade totalmente estranha para nossos conceitos.
Próximo capítulo: terça-feira, 7/6
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