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Cleomar e Ceres perdidos na noite escura conversavam:
Cleomar e Ceres perdidos na noite escura conversavam:
- Ceres o que havemos de fazer agora? Como vamos sair desse impasse que você nos colocou? Bendito seja quem de coragem tiver para em nosso encalce encontrar nosso caminho e resgatar nossa alma. Ceres, Ceres, diga algo, onde você está?
- Cleomar! Estou aqui. Por de trás desta moita acoitado e cansado.
- Acoitado de que, ser irreverente que não quis escutar minhas preces?
- Preces? E desde quando você sabe rezar? Esta aqui nesse confim de mundo por que quis.
- Pois vou lhe contar uma coisa sua minhoca asquerosa. Nesse fim de mundo firmado de Deus, apenas eu posso tirar nós dois desse abismo bestial sem fronteiras definidas e que o azul do céu se confunde com o horizonte horrendo de tão belo. Fique, a saber, que por essas paragens já há muito tempo resido em pensamento e conheço cada espinho nojento e doloroso. Cada buraco de bicho lanterneiro maldito que acossa de vez em quando por essa terra sem fim. E apenas deixei-me ir para você não descobrir as intenções maléficas de Severino que de Santo não tem nada. Há muito estive desconfiando e só agora dei conta da verdade. Essa pessoa safardana pensa que me engana, mas não me engana não e...
- Chega, chega de tanto “bestiar” palavras sem condição de dizer o que se tem no peito agarrado a morte. A morte, aquela que encomendou nossa alma de perto e nos trouxe aqui de castigo por querer adentrar no sagrado mundo de Santa Conceição, que Deus a tenha e tenha piedade de nós. Cleomar, chega de asneiras e preste atenção.
- Ah? O que quer dizer?
- Cleomar veja desse modo enraizado. Estamos em um beco sem saída, voltar não dá, ir para frente é ir para o nada, ou quem sabe para a casa do capeta que empreita essa aventura que tomamos de assalto e estamos a invocar Santa Conceição para um caminho seguro indicar. Vamos nos aquietar e de trem tombado nessa moita que aqui me escoro vamos silenciar tudo o que possa entrar em nossa mente e rezar por Santa Conceição. Orar Cleomar, orar.
- Ceres! Orar de hora em hora...
E com isso deu uma risadinha amarela. Pegou seu saco com as tralhas e encostou-se à moita. Ali permaneceram pelo resto da noite em busca de luz para o dia seguinte.
No dia seguinte Cleomar e Ceres ainda tinham o que comer e beber, mas sabiam que o alimento sagrado ia acabar e racionar não adiantava muito, tinha muito pouco. Abismados e sem muitas idéias foi Cleomar quem trouxe a esperança. Em certas horas um ser genial que sempre no final um embuste, pegava sorrateiramente e acabava por destruir a imagem de um ser sem igual.
Assim que amanheceu o dia, dois corpos estirados na moita, meio abraçados, meio virados, de certo mesmo, enrolados. Acordaram e com expressão de gente já tombada, olhavam desoladamente em redor do nada.
- Ceres! Tive uma idéia nesse momento que pode salvar nossas vidas. Acordar nesse...
- Cleomar. Fecha essa matraca de bode velho e vê se abre a sacola e me dá um naco de pão dormido molhado em água.
- Ceres, que presunção e presta atenção no que digo. Sonhei com uma Santa que indicava o caminho. Apontava para cima e dizia: “para sair desse buraco o caminho é para cima, embora onde você esteja fique parecendo para baixo”.
- Não seja idiota, sonho nenhum pode nos tirar dessa, melhor é esperar pela amiga morte, que lá pela metade do dia deve já enviar seus representantes alados a nos catucar.
- Não seja idiota você, vou lhe contar o que é estar de cabeça para baixo. Quando estamos em um caminho errado e não sabemos, o que é errado fica parecendo certo e vice-versa. Em cima fica parecendo embaixo e conforme se pensa que se esta subindo, estamos descendo. Agora já está mais fácil do que nunca sair daqui.
- É? Como adorável resplandecer da sabedoria.
- Fácil, fácil, é só descobrir o caminho errado, saber que é o caminho errado e então vamos por eliminação saber qual é o certo.
- Adorável, adorei, tenho agora além de meus problemas ter que descobrir o que um gênio quer dizer.
- Ceres, você é a minha salvação, como não sabe para onde ir, é só eu me separar de você e estarei livre, livre... Hahahahaha!
Sim senhor, assim era Cleomar, de anjo a demônio em poucos instantes. Sempre começava bem, mas depois, como sempre se confundia. Ceres estava mesmo com a razão... E resolveu apontar um caminho, o sul, que estava mais próximo da saída. Mas Cleomar, agindo pela intuição ao ver Ceres se decidindo no rumo, saiu em disparada em direção oposta, para o norte, onde o nada o esperava.
- Cleomar volte aqui, volte.
E Ceres sem coragem para seguir só... De medo seguiu Cleomar mesmo sabendo do erro.
Severino estava de volta, o calendário já apontava para dia oito. O interessante era que sua investida demorava um dia e meio para cruzar as veredas e chegar ao destino marcado. Mas seu retorno se dava em apenas um pouco mais de oito horas de marcha.
Ken sabia a resposta, mas nesse momento o que mais interessava era o alvoroço que estava acontecendo no povoado de Conceção dos Altos.
A cidadela estava em uma mistura de pânico e alvoroço. Darci Sebastião gritava pelas ruas em disparada: “volta Cleomar, volta. Papai já te perdoou”.
Deorani na praça em cima do coreto incitava parte da população local colocando a culpa do sumiço em Cleomar...
- Povo de Conceção, já sabem mais do que eu o que aconteceu, mas não sabem por que aconteceu e lhes conto. A culpa do sumiço de Ceres é Severino. Cadê, como sempre, sumiu. Nem da conta de um membro da família. Todos nós sabemos das desavenças que existem entre sua família e Ceres. Pobre mendicância que de mal não pratica nenhum, a não ser pedir um punhado de comida. Povo de Conceção, apelo agora para que me escutem com os olhos bem abertos e fiquem atentos com o que vou contar, pois um dia poderá acontecer com vocês também. Ceres foi com Cleomar para o meio da mata e lá só Deus sabe o que pode ter acontecido quando os horrendos e descabidos se uniram.
Colabore, chame os amigos
Terça-feira e quinta-feira, tem mais
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