terça-feira, 9 de agosto de 2011

Capítulo 18

Texto sem revisão.

Severino Conceição estava arisco em sua caminhada. Justamente resolveu mudar trajeto para tentar despistar quem poderia vir em seu encalce. Andando de passo largo, de sete léguas, já tinha certeza que estava sendo seguido, e mais certo ainda era seu pensamento de quem poderia ser.
Pensava:
  • Cleomar, sangue meu, só pode ser, quem mais de loucura poderia querer se embrenhar em caminho que não dá em nada e a morte espreita? Cleomar, Cleomar, susto tem que levar de novo para deixar de ter curiosidade.
  • Honorável amigo tem sempre muita hora para se fazer às coisas. Tempo sempre se acha. Sempre tem para quem quer fazer. Prioridades meu amigo de calças na mão às vezes. Hihihihiiiiii... Mas desta vez. Parece que Severino vai acabar se atrasando, e se atrasa, não cumpre contrato com coisa encontrada e perde história que vem acompanhando a muito. Sempre se dá jeito para o tempo. Tempo vem, tempo vai, mas desta vez, se atrasa, só próximo mês para ver de novo as maravilhas que a muito de certo esqueceram por lá. Preste bem a atenção no que vou te contar. Toda confusão que vem do mato agora, nada de diferença faz para o grande todo. Mas para a consciência de cada um, é mais do que importante. Insignificante é o que quero dizer. Mas já esta acontecendo e mesmo como qualquer resultado não faz diferença alguma para o que de maior tem sempre em encalço, melhor dizer que para Cleomar e Ceres, é crucial. Vida deles corre perigo. Será que agüentam outro susto? Chiiiii... Presta bem atenção no que Capitão do Mato faz, e volta e protege para que nada de errado aconteça, esse sim, parece ter em seu lado, olhos de lince que guiam seus passos, e cabeça de águia que sobrevoa até a escuridão, sabendo de verdade o que acontece em baixo. Presta atenção em detalhes que parecem nada ter a ver.
Com essas palavras de Ken, minha cabeça se confundia a cada instante mais e mais. Não tinha a menor idéia do que poderia acontecer. Mas acontecia a cada instante de forma a elucidar o fato.
  • Capitão Serere, que esta fazendo? Que caminho esquecido por Deus é esse? Onde vai dar essa trilha que parece não ter destino certo?
  • Tem-se medo de ir, por que veio. Se não tem fé, volte. Não adianta entrar em mata e querer seguir caminho onde olhos só vêem pequena distância. Aqui se anda de rumo e prumo. Ora para a direita, ora para a esquerda. Sem muita regra, só o instinto é que vale. Vou contar o que não sei, como se isso fosse possível. Mas conto o que sinto. Tem muita gente a espreita de Severino. Todos achando que poderão não ser descobertos. Mas, já o foram, e Severino já mudou caminho duas vezes da trilha do norte. Acho bom, seguir reto, cortar por cima mesmo em vez de embaixo. Vai sair na frente de qualquer forma. Não da volta e segue de perto.
  • Mas capitão, e se pegarem Severino nesse meio de nada?
  • Quem vai querer arriscar perder o prazer de poder descobrir o que ele vem fazer aqui de vez em sempre? Acha que tem desmiolado aqui querendo isso? Só levar Severino para além em troco de nem poder dizer seus mistérios? O que tem que acontecer vai acontecer quando descobrirem paradeiro da Gruta de Nossa Senhora da Conceição. Mas nessa hora já estaremos lá a sua espera. Tenho certeza, o que tem que acontecer vai acontecer por lá, anda, vamos, senão não chegamos.
Tempestade de bom tamanho se aproximava. Alguns pingos caíam de tempos em tempos, e de bom diâmetro. Foi a sorte. Severino passou por Cleomar e Ceres sem perceber. Achava que ambos estavam é atrás dele e não bem a sua frente.
  • Cleomar, ta dando certo, Severino passou e nem percebeu nossa presença de intruso. Mas continua de bico calado por que escuto ainda mais passos. São nossas iscas chegando. Vão passar também.
  • Ceres, isso eu não agüento de alegria. Vai funcionar, vai funcionar.
De certo que funcionou e bem demais. Mas a chuva, só essa atrapalhou um pouco. Capitão empreitado em meio da mata decidiu mudar rumo novamente com a chegada da chuva.
  • Darci presta atenção. Espera aqui que tenho que realizar outra tarefa a custo que providenciar que ninguém se perca nessa tempestade. Trilha vai apagar e quem não conhece como olho de tigre seus caminhos, de certo que não consegue chegar onde pretende. Melhor você ficar quieto a espera, eu volto em breve. Não saia daqui de maneira alguma. Eu volto, eu volto...
Assim Capitão saiu em rumo certeiro por outro caminho que parecia não dar em lugar algum, mas sabia o que estava acontecendo.
  • Venerável amigo de história. Esse momento é de muito cuidado. E tem mais uma coisa que preciso contar agora. Todos os políticos e os que dessa arte usam, uns falam mal do outro. Se, se unissem para fazer algo de bom seria bem melhor. Mas a competição entre eles traz o caos. Não querem fazer algo por um ideal que tanto proclamam. Querem sim, fazer por seus próprios brios, alimentar seus egos. E se podem, se deixamos, chiiii, de onde vim, melhor ficar quieto. Isso é outra história. Mas aqui até que se aplica. Todos correndo em busca de algo por que alguém disse que outro falou. Engraçado, ninguém em trilha estava na verdade onde estava por sua própria vontade. A não ser por Capitão que só tomava conta de todos e Ceres com Cleomar que armaram a confusão. Nossa, que estranha à vida. Às vezes a palavra de desacreditados pode valer mais que bom censo. Principalmente quando se diz o que queremos escutar. Mas a chuva, hiiihiihhiiii... Essa sim fez seu papel. Hora certa sempre natureza arrumando as coisas que homem tenta estragar de boa fé. Alias, honorável amigo, sabe o que é a fé? Então lhe digo. É a falta total da dúvida. Tem-se dúvida, não tem fé. E gelo não pode ser frito... Hihihihhhiii... Duvida?
Severino, cabra arretado como era, sabia como proceder em marcha de despistamento. Andou em forma de círculo por algum tempo que o atrasou ainda mais. Mas deu certo. De tanta volta que deu, acabou saindo atrás de Deorani, mas não deu volta o suficiente para pegar Deucídio que nem imaginava que estava em seu encalço. Achando que barulho antes na sua retaguarda, agora pouco adiante era Cleomar, não hesitou em alcançar sua presa. De passo mais largo seguiu certeiro para o abate. Por sua vez, Deorani desconfiado de barulho em popa, e já achando ter perdido caminho de Severino, resolveu esgueirar-se para não ser alcançado. De caçador a presa. Que fim mais triste. A chuva já se fazia intensa, e água formando lama em caminho sinuoso, tudo apagava. Pouco tempo precisava para mais rastro nenhum ficar. Em calada de dia, sabia Deorani que fim estava próximo. Sabia que a empreita já estava acabada e antes de se danar no mato, melhor seria correr e voltar, desonrado, mas com vida. E afinal, quem poderia dizer desse momento? Sem testemunha, oras, vale tudo a palavra, que de palavra não ia ter nada. Só conversa de história sem negação por falta de testemunho. Subiu ribanceira feito mula escapando de cobra. Severino, bem mais perto sentia o que sua caça queria, e subiu antes ainda de próprio pensamento cair sobre cabeça de Deorani. Com certeza, pegaria na volta. Em meio do caminho, enlameado e predestinado teve um susto. Sentado bem a sua frente estava Capitão. Parado como quem veio do nada dizia a Severino.

Propaganda boca a boca, avise os amigos.
Toda terça-feira, um novo capítulo.

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