quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Capítulo 24


  • Ken é para você aquele que te jogou na fogueira, e de verdade te jogou mesmo. Aí está você. Mas para nós é quem prepara e traz novos viajantes que tenham algo a aprender. É mais do que amigo, é um guia dos caminhos que te trouxeram aqui. Passou por um portal mágico que só é aberto mediante algumas circunstâncias. Quem as controlam são os viajantes. Eles determinam se pode ou não ser aberto pela quantidade de virtudes que conduzem. Pelo fato da curiosidade ter impulsionado sua visita, quase que por isso mesmo te levou ao desastre. Pulou pelas costas do guardião, assim como Ceres e Cleomar. Mas em breve receberás dois convites. Aceitando trancará o seu destino. Por hora quero dizer que Ceres e Cleomar encontram-se em perfeito estado de harmonia. Isso necessariamente não como você imagina. Mas como é. E como não é com você, não te diz respeito e só com convite dos mesmos para participar. Quanto ao outro convite se tiver coragem aceite. Tens que voltar ao guardião e rever todas as suas posições diante do esqueleto da sabedoria. Mesmo aterrorizante é quando a lógica parece não existir e a intuição se manifesta ainda mais profundamente.
As crianças jogavam tanta lenha na fogueira que as labaredas já começavam a transpor a minha altura. O calor nesse momento era quase insuportável, mas ao invés de pensar em resistir, apenas me concentrava nas palavras de Eli e quando de vez em outra pensava em prosperidade apenas. Eli continuou...
  • Se sua coragem o segue e a razão fala mais alto em seu coração, basta dizer sim, que irá parar exatamente onde já deveria estar a muito tempo e nunca encarou pela forma que imagina. Fortunato ser da justiça o acompanhará e assegurará seu direito diante de qualquer atrocidade que você mesmo pode causar ao seu ser. Nada aqui é causado por outros. Apenas você controla seus pensamentos. Saiba pensar. Saberá viver. Assim como Ken que conta história como ninguém. Boa dádiva. Deseja continuar e se propor a enfrentar o guardião?
Nesse instante as chamas me agrediam tão violentamente que pensei em desistir. Ao pensar nisso as chamas aumentaram. Olhei para a minha pele a vi em carne. Deformada. Mas ainda tinha algumas forças para resistir. Estava enfraquecendo rapidamente e tinha poucas frações de segundo para decidir. E se disse-se sim e as chamas consumissem todo o meu corpo? E se disse-se não e fosse expurgado para o inferno? Quanto mais dúvidas eu tinha mais as chamas aumentavam. Senti-me forçado a dizer sim. Empurravam-me para fora da fogueira, mas eu resistia. Disse sim.
Ao dizer isso, meu corpo realmente se desintegrou em pó e me vi em outro lugar, parecia distante, mas bem iluminado. Uma sala repleta de luz com um altar no meio. De forma circular não haviam entradas nem saídas. Apenas gigantescas paredes de pedra a minha volta. Estava só e teria que enfrentar não sei quem e nem onde. O que fazer? Senti alguém se aproximando de mim. Olhei de relance e vi a imagem de um mateiro. Um homem de aparência rude. Com um traje cheio de panos que caiam aos pedaços, mas não eram farrapos. Olhou fixamente para mim e me dirigiu a palavra.
  • Venha até mim viajante, se tem coragem.
Obedeci, meio tremulo. Sabia que não era tempo para fraquezas. Tentei demonstrar coragem e audácia. Mas o que ouvi em seguida foi desconcertante.
  • Não adianta fingir nessa banda de cá. Nesse templo da sabedoria tudo se sabe. Nada se esconde. Tudo está pairando pelo ar. Basta saber como captar a mensagem para entender todo o universo. Venha até esse altar. A luz já quase está presente e é chegada a hora para a sua revelação. Tem-se coragem, veja a alma da caveira.
Dirigi-me ao centro do ambiente e pude observar que existia um crânio em tamanho natural de cristal postado no meio do altar. Uma fenda na superfície do teto deixava entrar um magnífico raio de luz. Fui instruído para tocar o crânio. Então era isso. Ele de fato existia. Pelo menos nesse mundo. Que interessante. Por isso ninguém o achava e não encontravam a entrada da caverna. As virtudes, isso sim faltava para os forasteiros. Um toque na cabeça brilhante. Incrível. Imagens holográficas apareciam em todas as direções. De todas as épocas, de todos os povos. Era o conhecimento supremo da humanidade. Nem adianta tentar explicar. Assim como Ken fez comigo, tenho que fazer com outros para mostrar essa verdade. Incrível. Admirado estava. E quanto mais eu pensava em Ken, mais imagens ao seu respeito apareciam. Notável amigo chinês de palavras longas e sensatas. Conseguiu o seu intuito. Realmente me fez vergada por essas bandas e inoculou em mim a fagulha da verdade. Essa sim é uma virtude de imenso poder. Agora eu entendia. De nada vale saber sobre Severino, Ceres, Cleomar, Darci, e todos os outros como Deorani, Eli, e muitos mais que nem nesta história estão. O que são, são. O que penso que são, não importa. Só atrapalha. Se tiver virtudes podem entrar pelo portal e estar exatamente aqui um dia também. Se não tem, azaro deles. Nada muda para mim. Alias, as palavras de Ken, sempre foram nesse sentido. Por isso me contou toda essa história. Mas entre o real e o impossível, ou melhor, dizendo, o imaginável, onde será que realmente estou? Aconteceu-se há muito tempo atrás, como posso estar aqui e ver de fato o que aconteceu como se fosse hoje, ou ontem? A realidade e o tempo não são coisas que andam paralelamente. Devem estar atreladas as nossas memórias, e se assim é, então, todo o tempo esta bem a minha frente, nesse exato momento. Basta saber como utilizar. Agora entendo, e não tenho a menor pretensão de passar esse conhecimento a vocês. Não adianta. É como o gosto de um doce exótico. Só sabe o sabor quem experimentou. Essa é a verdadeira experiência. Experimentem também um dia e transportem o portal se tiverem virtudes para isso. A maior de todas as lições que tive nessa história mirabolante de Ken é a razão de poder estar onde eu quiser para fazer o que bem entendo respeitando aqui as poucas leis que são postadas. Mas e quanto ao segundo convite. Ele acontecerá? Será que é real? Realidade? Isso tem a ver mais com o que quero do que com o que penso. Realidade é algo que se pode imaginar. Criar. Fantástico. Posso ter tudo que quero e tenho muito mais do que preciso.
Enquanto o raio de luz solar entrava pela fresta, meus pensamentos vagavam em milhões de informações e esclarecimentos. E com o passar de alguns segundos, a luz se deslocou e nada mais foi possível. Agora entendo porque Severino não fez questão de encontrar pessoas sumidas na caverna misteriosa. Já sabia e não queria interferir. Isso, não interferir. Proteger se preciso, mas não interferir ao meu gosto. Quando o feixe de luz se desfez, voltei para o centro da fogueira que queimava cada vez mais forte. Notei que estava mesmo a ponto de derreter. De surpresa, entre as labaredas vi a imagem de Ken. Ele dizia:
  • Honorável amigo de cuca quase fervendo. Hiiiiii... Se tiver mesmo o prazer de estar onde está, a dor não incomoda. O peso fica leve. Mas, se não tem, chiiiii... Vai estar com problemas. Queima que é mais fácil. Dissolve o que não presta e o combustível do sofrimento acaba. Quanto mais pensa, mais queima. Hiiiii... Desse jeito vai ter churrasquinho de honorável amigo de caneta magra agora servido no casamento de Ceres com Cleomar. Linda festa vai acontecer. Tem que estar lá. O convite já está feito. Tente que consegue. Mas antes purifica a alma, aproveita o fogo que tanto forja como queima.
Com essas palavras, sua imagem se desfez. E com isso entendi perfeitamente o que quis dizer. Inclusive sobre o casamento. Então é isso, separar as virtudes dos meus defeitos. Isso faz sofrer. Mas tem que ser extirpado. Assim o fiz em pensamentos que me conduziram a uma purificação de estrema coragem. Sentia-me cada vez mais leve e a fogueira, por mais lenha que as crianças jogavam, não queimavam mais com tanta energia. Foi assim até sumir a última brasa. Andei por cima do carvão apagado. De pés descalços. Parecia flutuar. O vento levava as cinzas ao longe. Parecendo querer encontrar outro para reacender. Fui em direção a Eli que me aguardava em outro lado da pequena praça. Estava tudo decorado e uma grande festa seria realizada. Sim, o casamento dos dois. E tive o privilégio de assistir. Entraram por um lugar que parecia ser uma rua estreita de mãos dadas. Agora sim, distinguia os sexos de ambos. Ele com uma camisa azul e uma calça também azul clara e ela de vestido branco, liso, sem renda ou apetrechos, mas de uma singular beleza. Do que posso contar é que de fato se casaram. E juraram a eterna castidade entre ambos. Se um dia tiverem um filho, esse com certeza se chamará Aguimar. Realizada a cerimônia, a grande festa começou. E para meu espanto, estava sendo consagrado nessa festa como irmão do povo Caparaó, como muitos querem entender. Pensei que seria convidado a ficar e me estabelecer. Mas ao contrário disso, apenas adormeci em um canto quando minhas energias já se faziam amenas.


Dia no nascimento



Em que dia, em que tempo, em que lugar afinal. Pela janela apenas nuvens. Sons e mensagens invadem minhas memórias. Ontem estava tão bem, mas hoje... Pensando melhor, vejo que ontem já passou e que a perspectiva do amanhã me trás a sensação de que poderei estar bem melhor do que hoje... Afinal...


Fim da novela.... gostou? Fique atento, será que vai ter mais?

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Capítulo 23

  •  Que estranho. Cá estou sem rumo e sem beira, para o que parece ser um julgamento de algo que não sei o que é. Agora querem que eu pergunte, quando me é instruído para não perguntar. O desejo de saber do que se trata é grande, mas não é prudente. A prudência por hora é o mais recomendado, e sendo assim, e se mandam que eu faça, devo obedecer, mesmo sabendo que é contraditório em minha lógica. Se me calo, morro, se pergunto, morro. Então morro de cabeça erguida e sem medo. E digo. Se me prende, é por que tens medo de mim. Tem-se medo é por que sou ameaça. Se for ameaça. Precisam saber como vim, se encontrei obstáculos, o que vim fazer, se sou enviado de alguém e se conheço determinada pessoa. Oras. Assim sendo, só o que posso dizer é que se querem saber de algo perguntem que responderei de coração aberto e peito erguido. Meu umbigo me arrasta. Minha cabeça me dirige. Mas minhas ordens são para indagar, então indagarei. Qual é a primeira pergunta?
Senti em todos que estavam em minha volta uma grande surpresa. Não esperavam por aquilo. Parecia ter me saído bem, e de verdade saí mesmo. O estranho era que ninguém se manifestava oralmente. Olhavam uns para os outros e pareciam se comunicar por telepatia. Alguns minutos de silêncio e o ser que estava em minha frente acenou de novo para o interprete, que de imediato se manifestou.
  • Como veio parar nesse lugar?
  • Vim por intermédio de um amigo, que de esperto já devia saber da existência desse ritual e me deixou a sorte um pouco atrás de onde me encontraram. Mas, também, se a verdade preza devo dizer que vim por que quis.
  • Você encontrou alguém nesse lugar antes de nós?
  • Não.
  • O que veio fazer aqui?
  • Agora é que são elas. Parece-me que essa comunidade é bem diferente de tudo que conheço. São pessoas estranhas que vejo, não sei dizer se são homens ou se são mulheres. São apenas pessoas e agem como tais. Vim, porque do lado de lá da fronteira, conheci alguém, ou alguns que eram bem assim mesmo. E que por sorte, se perderam nesse lugar. Ou estão aqui, ou estão já nas profundezas. São dois perdidos que procuravam o paraíso. Se acharam, não sei. Também nunca os vi de corpo e alma. Um outro, aquele, que mencionei primeiro, foi que me falou a respeito, e que me indicou esse caminho.
Então dei com o pensamento em outras coisas mais carnais. Ken estaria usando minha ingenuidade para descobrir os fatos? Alias, quem estaria fazendo isso? Esse chinês ardiloso estaria me queimando na fogueira? Mas, continuei.
  • Procuro mesmo é Ceres e Cleomar. Que procura o Paraíso perdido de Santa Conceição.
Meu interrogatório continuou com mais uma pergunta do meu interlocutor.
  • Você tem algum filho de sangue que sumiu em genitura?
Surpreendi-me com a pergunta. Agora querem até saber se tenho filhos. Respondi que não e nada mais comentei. E veio a derradeira e última.
  • Por certeza, se conhece alguém que conhece esse lugar, e se fez tudo direitinho para você chegar até aqui atrás desses tais, já ouviu falar de um tal Capitão do Tambor. Sabe dizer onde anda ele e o que tem feito?
  • Também digo por certeza é outro que não conheço como pessoa em carne. Mas, por ouvir dizer da boca do fulano, sei que é quem anda há muito tempo por entra e sai dessas cavernas que separam os dois mundos.
Com isso, todos se retiraram e eu fiquei ali sentado, parado, sem saber o que fazer. Reuniram-se em um outro local por longo período. Enquanto isso, eu tomava uma chuva fina no corpo. Limpava a minha pele do suor e a alma dos pensamentos. Frio não sentia, calor de forma alguma era empecilho. Apenas passei horas na garoa grossa, pensando em nada. Um vazio. Um tempo.
Voltaram na mesma formação de quando partiram. Parecia começar tudo de novo, mas agora era um desfecho final. O interprete se aproximou, pediu que eu ficasse-se em pé e em minha volta foi acessa uma fogueira. Algumas crianças seguravam feixes de lenha. Uns tocos grossos outros mais finos. O chefe da tribo fez um sinal com a cabeça, parecendo que era para eu entender que ele era quem mandava. A fogueira foi acesa. E nisso um outro interprete prosseguiu com o seu diálogo.
  • Caro não irmão de sangue ainda. Se suportar a dor do que vem poderá suportar coisa bem maior. Por isso, o que conto, a cada ponto se torna um fado maior conforme logo vai sentir na pele abrasante. Não se desespere. Se desejar sair, não esmoreça, pule o quanto antes para fora. Se tiver forças para continuar, encontrará o que veio procurar. Sendo sim ou não a resposta, ela se manifestará e sua dúvida será extirpada desse mundo e de qualquer outro mundo. Tem sempre que ter em mente que a cada resposta minha, assegura um conhecimento seu, e um fardo a mais para levar. Enquanto continuar em silêncio e imóvel, continuarei a falar e contar sobre coisas que nem pensa em existir. Tenha fé que alcançará o supremo degrau de cima. Meu nome é Eli, já estou aqui há mais tempo que você possa imaginar. Alias, tudo aqui é imaginação. Se quiser que sejamos índios seremos. Se quiser que sejamos pobres, seremos. Se quiser que sejamos anjos, seremos. O que somos de real não importa nada para você, pois, você é quem criou essa imagem. Quando vim parar aqui, demorei em acostumar e de imediato não me deixaram sair. Para a minha própria segurança. Hoje posso ir e vir, mas não me interesso mais pelas coisas mundanas e passo meus dias por essas bandas a refletir e tentar progredir. Difícil, pois o progresso só vem com a experiência. E como aqui tudo é perfeito, nada acontece, não posso ser testado. Outrora, você passa por esse teste.
Nesse instante as crianças em minha volta jogaram um bocado de lenha na fogueira. O calor aumentou um tantinho. Suportável. E continuou Eli...

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terça-feira, 6 de setembro de 2011

Capítulo 22

Texto sem revisão

Aproximando-me do paredão imenso de pedra pude notar assim como Ken havia dito que havia uma passagem. Rumei para dentro sem hesitar. Lugar estranho, cheio de entradas e becos, mas segui firme por um trecho que parecia ser mais largo. E não é que ao final de um dos túneis deparei-me com uma luz? Pensei ser uma saída, mas não era. Era uma passagem. E que passagem. Aproximei-me e ao deslocar-me por entre o vão vi o invisível. Uma paisagem maravilhosa. Era realmente uma saída, mas para um outro mundo. Estando eu no alto de um penhasco pude avistar ao longe uma aldeia de índios, água em abundância e a mata mais verde do que nunca. Brejo seco nunca foi assim. Andei por verdes trilhas algum tempo sem rumo, até que uns bandos de índios me cercaram. Resmungavam algo que não entendia. Apenas entendi que estava preso. Segui com eles em direção a aldeia. Colocaram-me em uma de suas moradias e me largaram lá. Pensei ser o fim. Mas não era.
À noite, notei que havia festa no lugar. Não sendo eu a comida a ser servida, tudo bem. Com muita custa, dormi exausto. Pela manhã notei que alguém vinha em minha direção. Presenciei uma cena que pensei jamais poder acreditar. Uma pessoa enorme de olhos firmes e parecendo um camponês irlandês veio ao meu encontro. Indagou um belo discurso:
  • Cara pessoa isolada em mundo distante. Deixe que me apresente se assim permitir. Sou quem vai encomendar seu recado de prisioneiro a essa gente estranha para seus olhos de coração maravilhoso e de alma pura. Vou ser também seu merecedor de confiança, se assim for de agrado, para modos de poder tirar vosmecê dessa situação de quase morte. Se interessar viver de verdade escuta e não pergunta nada. Responde quando solicitado, antes que ponta de faca corte seu umbigo e daqui saia voando para sempre. Sem retorno é a ida de volta quando perde cordão da esperança. Vão começar a dizer coisas estranhas e perguntar a viajante como foi que apareceu e achou aqui. Depois em seqüência perguntarão de guardião. Ainda, mais adiante dependendo de resposta sua perguntarão o que veio fazer por essas bandas sagradas de Nossa Senhora da Conceição, e se é fugitivo das guerreiras. Por final, vão indagar sobre um tal, que é decisivo em sua sentença, se conhece, ou se sabe paradeiro.
  • Um tal?
Perguntei. E de responda veio:
  • Já está quase condenado. A primeira instrução de mala em trem que te dei foi, não pergunte nada, responda.
Virou de costas e saiu. Um pisar forte, uma postura sóbria. Mas uma tez bonita, uma fala elegante, calma e simples. Sem ódio, sem rancor, sem medos. Pessoa muito interessante. Parecia-me um anjo. Ao chegar uns metros para fora de minha cela, parou, virou e retornou dizendo:
  • Tens até amanhã para pensar no que vão te perguntar. Seja breve e seja puro de coração, bravo como um leão, astuto como uma águia e livre feito um passarinho. Porque se assim não for, seu destino é o estômago de urubu rei. Este bichão está por toda parte. Até mesmo aqui tem, para fazer a limpeza, e levar em sua pança os dejetos dos que não acreditaram na sabedoria. Peça a Nossa Senhora da Conceição para te ajudar. Pode ser que de certo. Só um saiu daqui que tenho conhecimento, só um. Mas voltou e esta a rodar por aí em encanto de mata e estudo da vida. Pessoa essa que é muito reverenciada nessas paragens. Eli, se estiver lá, na sua hora pode te explicar as leis desse lugar que são bem poucas, mas duras. Aproveite oportunidade. Pode ser que consiga. Poucos vieram, poucos conseguiram. Um deles se tornou irmão de sangue de olhos puxados como dizem por aqui. Se quiser ter uma chance, não durma, não coma, não beba. Purifique sua alma com o rogo de sofrimento para depois do calvário, seguir em estrada de leito ameno.
Até parece que depois dessas palavras eu de verdade conseguiria dormir. Estava mais apavorado do que nunca. Acho que é por isso que Ken não quis vir. Faz falta sua presença, sua confiança. Mas, essa é há minha hora, e minha chance. Mas chance do que? O dia passou e nada me foi servido. Nem de beber, nem nada. Meu estômago parecia não sentir. A fome não existia. Continuava preso. A noite caiu em silêncio, e quando bem escuro pude ouvir uma enorme festa que acontecia um pouco longe. Madrugada, o teto da minha cela parecia transparente e as estrelas cintilavam como me apreciando. O dia raiando, e minha hora chegando. Desespero. Nada adianta. Medo. Não resolve. Essa é a hora, esse é o dia.
Ao raiar do dia o que parecia uma porta se abriu e apareceram dois enormes índios com uma outra pessoa que parecia não ser dali. Só o que disse foi:
  • Quando isso terminar, depois da sentença final, vai poder por certo de verdade, pelo menos uma vez, experimentar um delicioso prato de arroz. Daqueles do qual só eu mesmo sei como são. Saudades meu caro, Saudades, mas não troco nem mesmo delicioso arroz, por permanência aqui. Logo hei de casar. Se quiser, pode assistir a cerimônia, antes do jantar. Depois, tem que tomar decisão.
Com isso me vieram a memória às palavras de Ken que proferia a respeito da comida mais comida do mundo. O arroz. Levaram-me ao centro da aldeia, um lugar simples, mas de beleza exuberante de natural. Inúmeras pessoas eu via em minha volta a me acompanhar curiosos meu enfado. O estranho é que eu não conseguia distinguir se eram homens ou mulheres. De corpos cobertos o aspecto físico era de rara beleza. Mas, sem adornos e sem saias ou outra vestimenta para identificar os sexos, era impossível dizer quem era quem. Sentei diante de uma coisa que parecia ser um trono. A minha esquerda, umas pessoas me olhavam sentadas em linha. A minha direita um local com um banco baixo e ao lado desse banco à pessoa a qual havia falado comigo na noite anterior. A cada lado do trono duas outras coisas que não sei se eram mesas ou outras coisas, mas que pessoas ficavam por de traz. Começou um corre corre. A ordem se estabeleceu, o silêncio implacável da verdade se manifestou e pessoas começaram a tomar seus lugares. A minha frente, no trono sentou um enorme ser. De tão branco parecia albino, mas não tinha contornos. Parecia se fundir com a paisagem. Era quem iria comandar o que não sei. Deu um sinal a quem estava ao meu lado com um dos dedos e essa pessoa se manifestou.
  • Tem o direito e o dever de permanecer calado e só se manifestar quando solicitado. Isso implica em obediência e é ponto final. Também por hora tem o direito a um esclarecimento. Agora é a hora de falar. Indague o que quiser. Mas cuidado. A pergunta pode decepar seu umbigo de imediato e o fim mais próximo do que imagina.
Minha tenção era enorme. Não sabia como agir. Nervoso, sem saber o que dizer esperavam por uma primeira palavra. Ai meu umbigo. Pensei por instantes e resolvi falar o que sentia:

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terça-feira, 30 de agosto de 2011

Capítulo 21

TExto sem revisão

Enquanto isso Ceres e Cleomar se perdiam ainda mais.
  • Ceres! Vamos voltar, Santa Clara e Santa Conceição de verdade não pode estar aqui tão fundo. Apenas estamos descendo e nada mais.
  • Cleomar! Tem algo na frente, veja. Tem clarão feito dia que parece estar saindo de paredes, em pedras. Tem barulho de murmúrio. Será o paraíso distante dos homens e Santa Conceição que veio nos receber?
  • Tem razão, minha fé me leva onde quero ir. Eu sabia que íamos conseguir. Vamos, anda rápido feito flecha certeira. Temos que nos apresentar a Santa Clara que iluminou nosso caminho e pedir que coloque nossos nomes em santo livro.
  • Isso vamos, sem volta para a luz mais intensa que de tão clara e distante parece estar a nossa espera. Lindo túnel, linda luz, vamos, vamos...
E de mãos dadas entraram pela garganta do túnel.
Capitão Serere estava já na porta da entrada da gruta. Quando viu Severino saindo.
  • Capitão! Chegou aqui em boa hora. Devemos repousar nossos ossos para ainda de madrugada partir em direção a povoado.
  • Cara pessoa conterrânea. Vendo vosso corpanzil tão disposto, vejo que nem descanso é preciso a vosmecê. Carece de ter cuidado ainda. Há de chegar, se é que já não chegou Ceres com Cleomar.
  • Cleomar? Que diabos está acontecendo? Não ia mandar de caminho certeiro para o povoado Cleomar e quem mais viesse?
  • É verdade pessoa conterrânea. Mas devo advertir que de disparada encontrei, mas cabras pelo caminho. Darci que larguei em acento de bosque e Deucídio com Deorani que despachei de volta para sertania de lugar seguro.
  • Cleomar? Capitão! Não pode ser. Só se estavam bem atrás de mim e pensei que fosse voz. Haaaa! De certo que eram eles mesmos a andar de rastro. Pego Ceres e Cleomar e faço um monte de nada em dois tempos.
  • Mas Severino, que tem sempre honra lavada. A modo que pergunto por onde foi que vosmecê entrou na danada da gruta?
  • Capitão! Não sei se sabe, mas tem caminho mais certo pelo penhasco do lado de baixo. Pela estrada das areias quentes. Mas acesso é bem mais difícil que domar mula brava.
  • Então vai ver que Cleomar entrou por esse lado também.
  • Com certeza Capitão. Não fica longe daqui. Vamos dar a volta que chegamos lá com dia bem claro e com bastante luz ainda.
  • Severino! Tem mais uma coisa que acho que não percebeu por preocupação de encontrar agora Cleomar. É Darci que se largo na moita para passar noite inteira é capaz de desconfiar que aconteceu alguma coisa e querer sair de encalço na minha perseguição. Melhor eu voltar e trazer Darci até aqui.
  • Não Capitão. Seria deveras perigoso mais gente ainda nessas bandas. Segredo certo de quem sabe isso é o Capitão e um danado de um Chinês que a muito não vejo. Deixe Darci pra lá.
  • Mas e se ele se perde Severino? Não vai ficar com remorsos?
  • Capitão! Veja lá. Ta certo que é homem honrado. Mas veja lá o perigo. Remorso não há de existir. Darci é mais valente do que eu em mata. Não tem por que se preocupar. Deixa. Vais estar mais do que bem acostumado. E depois, se uma cobrinha ou outra aparecer, com certeza vai ter janta de carne fresca por lá.
  • Ta certo Severino. Vamos ao encalço de Cleomar que é mais certo de entrar em buraco errado e nunca mais sair.
Assim fizeram. Deram uma baita volta que era bem mais seguro que retornar pela gruta por caminhos tortuosos. Encontraram os rastros de Cleomar e de Ceres bem perto da entrada da gruta. Mas, espantosamente, não existiam rastros do portal para dentro. Como se tivessem voado. Sumiram. Sem deixar pistas. Até parecia que um enorme urubu rei, voando baixo, com suas garras havia levado os dois para bem mais longe. A surpresa era grande, sem saberem o que fazer resolveram entrar pela gruta e procurar por outros rastros. Passando horas, sem nada encontrar, o que se podia fazer era voltar em busca de Darci para uma empreita mais certeira. Voltaram.
  • Grande Darci Sebastião, que a glória de ser grande nunca se afaste de vosmecê.
  • Capitão! Vejo que demorou. Mas a demora foi em boa hora. Por aqui até que apareceu cobra de veneno maldoso. Mas não sei por que. Quando me viu, fugiu como se tivesse visto a morte de perto. Estava até pensando em seguir o verme. Mas, prometi a Capitão que não arredava pé e fiquei quieto em meu canto atento para ver se o petisco voltava.
  • Não disse Capitão. Darci quase que arruma uma janta de primeira.
  • Mas que fazem aqui? Severino, já esta de volta? Não seria amanhã vosso regresso?
  • Sim Darci, mas tive que mudar planos. Capitão me disse que Cleomar se enroscou em meu pé e foi parar dentro de uma gruta.
  • Não seja arrevesado Severino Conceição. Capitão já me falou dos Caparaós e da gruta que esperança tinha de ser o paraíso. Mas vejo que pode se tornar nosso inferno.
  • Capitão! Acho que andou falando demais.
  • Calma Severino, Darci é sangue do seu sangue. Tem direito de saber bem mais do que isso.
  • Isso o que? (diz Darci.).
  • Agora não vai dar tempo para prosa. Temos que voltar para a gruta em busca de Cleomar e Ceres. Ah, se pego, mato. E Capitão ajuda. Não ajuda?
  • De certo que sim Severino. Mas antes tenho que levar de volta para a vila. Lá tem destino certo para Ceres. Deixa comigo que sei o que faço.
Desse modo voltaram para a gruta em busca de Cleomar e Ceres. Mas, já adianto que nada encontram. Nem rastro e nem nada.
De volta na vila de Santa Conceção dos Altos, de cabeça baixa, estavam sem esperanças de encontrar seus derradeiros desaparecidos. A cidadela parecia toda mudada. Sem padre, sem murmúrios pela praça. Estava faltando algo. E esse algo era Ceres que de alguma forma sempre se encostava a alguém para uma prosa. A praça era seu lar. Agora vazia.
  • Honorável amigo de tantas horas. Melhor seria dizer, de tantas páginas. Hihihihih... Parece que história está chegando ao fim. Mas ainda tem coisas para esclarecer. Pouco importa se o que os outros estão a fazer está certo ou errado. O que importa é o que eu mesmo estou fazendo. Faz-se o bem, sinto-me bem, se faço mal, sinto-me mal. Quem está preocupado com o que os outros estão fazendo, não tem tempo para olhar para si próprio. E o importante é estarmos bem em primeiro lugar, conosco. O resto é só conseqüência. O pior mesmo é não acontecer nada. E foi isso que aconteceu na vila por algum tempo. Gente entrando, gente saindo da trilha em busca de paradeiro de Cleomar e de Ceres. Mas nada acharam. Nem mesmo a gruta. Segredo que Severino, Darci e o Capitão, seguraram até a morte. Triste fim de tantos acontecimentos, mas o mais importante é o que sobrou. A lição meu honorável amigo. Isso sim é sabedoria. Não se importem com o que não tem importância. Não queimem idéia a querer descobrir coisas que não servem para nada. Isso é só falatório. E tem político que fala... Hihihihihi... Agora tenho que partir em busca de lago sagrado para derramar meu bom e amigo peixe dourado. Só falta ele para eu me desligar da minha escravidão. Teimei, achei que era bom para mim, final das contas? Fiquei foi com mais responsabilidade à toa do que precisava. Quando honorável amigo dourado sair em passeio em busca de companheira em lago de águas azuis e mornas, estarei mais perto de mim mesmo. Finalmente liberto. Como Ceres e Cleomar estão agora. Só queriam o paraíso e de uma forma ou de outra encontraram. Sejam felizes. Deorani tem que aprender que se não tem mais mendicância para saborear seu arroz, que de bom era bom mesmo, é por culpa sua própria.
Escutando esses dizeres do amado amigo que estava por partir, resolvi seguir o seu caminho por algum tempo para ver se descobria algo mais. O chinesinho não queria terminar a história, não queria falar mais. Andava como que com pressa de chegar a lugar distante sem rumo e sem volta. Nessa angustiante caminhada lado a lado com exuberante inteligência chinesa, pude notar que embrenhávamos pelo mato. Apenas às vezes dizia:
  • Anda, anda honorável amigo. Ainda é tempo de chegar aonde poucos chegaram. Venha, já que está disposto. Mas não se espante. Tem hora para tudo e de tão fantástico melhor é não contar, melhor é mostrar de vez e pronto. Mas tem hora certa de se chegar e de partir. Se perder o bonde, perde até a vida às vezes. Anda, anda.
Assim eu seguia atento e por onde passava parecia já conhecer. Às vezes corria feito doido mata adentro, às vezes pausava caminhada inóspita. Mas a paisagem me era familiar. Morros, montanhas, leitos de areia...
Quando eu menos esperava não era que estávamos de frente para um enorme paredão de pedra! Parecia ser o fim de uma jornada sem rumo. Não tinha mais a menor idéia de onde estávamos. Ken tinha consigo uma corda dourada que parecia lhe assegurar a maneira de como regressar. Incrível era isso. Pela virgem Maria e pelo amor de Pai Tomáz. Seria aqui então o local onde Ceres e Cleomar se perderam? Ken saberia onde eles estariam?
  • Honorável amigo de tantas penas. Chegou momento mágico de despedida. Agora como cada sentença é uma cabeça não me adianta prosseguir. Veja você mesmo o fim de cada um como quiser. Daqui para frente para mim é daqui para traz. O desconhecido que para mim já conheço é uma coisa. E como uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa você mesmo tem que ver para crer. Vá, e siga, e acabe de contar como entendeu. O que eu entendi até aqui é isso que você descreveu. Mas o que daqui para frente aconteceu é conclusão e está por sua conta. Não adianta querer a sua compreensão igual a minha. Não dá. Hihihihi! Parece loucura, mas de certa maneira é mesmo. Vai, que para traz eu volto e siga o caminho da tua intuição.
Assim, honorável amigo amarelo de corpo, e branco e preto de alma virou de costas e partiu. Pensei que ficaria, a saber, do destino de seu honorável amigo peixe dourado. Uma pena, mas isso eu termino depois. Por hora, melhor concentrar em tentar contar o que eu presenciei. Se vão acreditar, não digo que sim. Mas juro por tudo que é mais sagrado de que é o que aconteceu. Pelo menos para mim.

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terça-feira, 23 de agosto de 2011

Capítulo 20

Texto sem revisão

Capitão Serere fez sua opção. Cleomar e Ceres seguiram Severino que pensava que era Capitão bem as suas costas. Darci estava seguro em um pé de morro qualquer desde que não se aventurasse por banda estranha. Capitão sabia disso. E só faltava resolver a questão de como abordar Severino informando sobre Cleomar e Ceres.
Severino caminhava depressa demais para forasteiros destreinados conseguirem segui-lo de perto. Sabia que já tardava a hora do seu encontro com luz divina, e para manter seu compromisso tinha que acelerar mais. Resolveu fazer novo caminho para mais rápido chegar, mas este mais difícil. Abriu trecho de trilha a peito nu entre espinhos e geringonças que pareciam estar dispostas a impedi-lo de progredir. Mas a demora nesse pedaço de terra perdida compensava pela estrada que logo se abriria a sua frente. Subiu um morrote e deslizou sem parar montanha abaixo como se destino certo tivesse de só parar em centro da terra junto com o Senhor das trevas. De tanto arranhão em sua pele e de tanto tombo nas nádegas, se não fosse de caráter firme e enérgico, certamente que teria chorado de desgosto por ver suas vestes desfragmentarem sem poder fazer nada.
Caminho difícil demais para qualquer um. Capitão optou por fazer outro quase que de retorno onde Darci se encontrava. Passando de banda pelo cativeiro de Darci chegaria depois, mas era só o que poderia fazer. Severino chegou finalmente quase em seu destino. Um rio seco de chão de areia branca, fofa e brilhante que a cada momento de sol que já aparecia ficava mais intensa, caminhou quase que correndo sobre essas paragens. Lugar magnífico, dizia Ken.
  • Honorável amigo de vilarejo sossegado, tal estrada de areias quentes de águas sumidas existe sim. Como se fosse talhado em pedra dos dois lados com mais de dois metros de altura, largo, fazia um caminho sinuoso, mas bem definido por entre escarpas que pareciam ser esculpida a mão. Sua areia quente com o sol ardente traz quase que impossível à caminhada descalço. Lindo lugar para se ter à certeza de que se vai a algum canto. A natureza não poderia ser tão pródiga em fazer tal caminho para acabar em nada. Mas se viajante desavisado e cansado em final de trilha desanimasse, com certeza apenas veria um monte de pedras a sua frente. Depois de longa curva, vem uma reta que parece acabar em um paredão de pedra. Esse, não pode ter sido feito pela natureza. Duas colunas verticais e uma horizontal formam um grande portal com um fundo de pedra que parece ser o fim. Mas fim de que? Ken sabe! Mas Ken pode dizer? Será? Hihihihihihhhiii... Espere e verá...
Severino já conhecia essa entrada e essa trilha a muito, mas sabia que para se chegar lá era um caminho muito difícil. Por isso raramente o usava. Cleomar e Ceres estavam acompanhando o caminho de Severino a duras penas. Mas com sacrifício e perseverança de gente determinada acabaram por chegar no rio de areias claras. Ficaram admirados com a paisagem.
  • Ceres, santa pessoa, que lugar, que honra poder estar em estrada de Santa Conceição.
  • Cleomar! Pare de delirar de novo, vinha bem até aqui. É só uma garganta estreita com areia no fundo.
  • Que nada, é a entrada para o paraíso...
E ficaram por algum tempo mais admirando o local que esbanjava esplendor que praticamente andando no encalço de sua presa. Por fim, a muito custo chegaram ao final da trilha.
  • Mas o que é isso Ceres?
  • Calma, não vamos nos desesperar. Parece ser só um paredão no final.
  • Pois é, mas como sair daqui sem voltar? Vê marcas de Severino no chão indicando que retornou?
  • Não, como pode. Atravessou a parede.
  • Não delira Cleomar. Ninguém atravessa paredes de rocha, não ainda.
Mas foi o que aconteceu. Sentados a uns 10 passos de distância do rochedo, deixaram a maravilha do lugar invadir suas almas. Acostumando com a paisagem, parecia que se deformava a cada instante. E o inesperado e inacreditável aconteceu. As sombras começaram a se fundir e onde parecia apenas uma rocha começou a tomar outras formas. Eram ilusões de ótica que o local proporcionava. E em breve notaram que seria mais do que possível transpor a pedra. Afinal, sombras e detalhes enganam os olhos. Aproximaram-se e encontraram a tão sonhada passagem. Entraram.
Severino quando penetrou pela gruta, foi direto andando pelo labirinto de rumo certeiro. De tanto andar por ali, cada vez um bocado, já tinha elaborado um mapa em sua cabeça. Conhecia como ninguém cada câmara, cada sala. Dirigiu-se para uma em especial que ficava em alguns níveis mais para cima. De tamanho descomunal era uma sala redonda com uma fenda no teto que parecia ter sido cortada por serrote de dez braços de força. No centro um altar com pedra polida como base. E em baixo uma caixa de pedra que guardava um imenso tesouro. Um crânio de cristal em tamanho natural, lindo e perfeito. Quem poderia ter feito aquilo não se tem idéia, nem mesmo Ken sabia, mas desconfiava.
  • Honorável amigo de santa história. Agora chegou a hora de saber de coisas que até aqui desconhecia. Sem muito jeito para rodeios, vou ser mais relator que autor. Nessas terras de ninguém a muito se conta histórias e lendas de um povo que em épocas remotas poderia ter vivido nesse local. Eles eram chamados de Caparaós. Mas essas colinas e morrotes e serras tem tantas histórias que nem sei por onde começar. Acho melhor, ser pelos Caparaós mesmo. Se andar pelas entranhas dessas grutas, vai encontrar como Severino encontrou, restos mortais em forma de esqueletos, muito antigos. Diz a lenda que Tamandaré que era o povoador da terra e seus familiares para fugirem da grande catástrofe que inundou toda a região, refugiou-se em terras mais altas. Tamandaré teve vários filhos e filhas e entre as meninas uma de causar inveja aos homens. De cabelo muito negro e dentes alvos se destacava pela beleza. Mas essa beleza teve um preço. Certa vez surgiu no povoado uma estrela brilhante com cores variadas, que soava tons melódicos e agradáveis. A população da época ficou deslumbrada com toda a harmonia que reinava na tribo. Mas, os visitantes da estrela brilhante, não deixaram de notar a beleza da jovem. O líder resolveu ficar com a filha de Tamandaré. Mas este, por sua vez, a tinha prometido ao Deus Rudá. Grande e admirável amigo Rudá, que abençoa os corações dos homens, dando-lhes a dádiva do amor. Sua filha esguia e rápida, na mata se escondia, perseguida sem piedade e já não vendo saída pediu a Rudá proteção. Esse, por sua vez atendendo ao pedido e vendo o desespero da jovem a transformou em pedra, que pode muito bem ser vista até hoje em forma de montanhas deitada com os seios para cima. Se essa tribo mais tarde se transformou em Caparaós não sei, nem preciso, tanto faz. Já passou. Mas para Severino e principalmente Capitão, é imprescindível adorável amigo.
De Severino Conceição, posso dizer que sabia muito bem o que fazer com o crânio de cristal. Colocava o mesmo, em cima da laje polida em uma base que perfeitamente se encaixava com o crânio. Exatamente às 12 horas de cada dia, o sol estando mais a pique, reentrava pela fresta do teto da gruta diretamente sobre o crânio. Esse ao absorver a luz a multiplicava em milhares de feixes coloridos para o seu interior. Ao olhar a têmpora de tal crânio, podia se ver imagens perfeitamente compostas de símbolos e coisas que mais pareciam hieróglifos. Santo Crânio abençoado. A cada dia, com a luz em certo grau, mas com certeza, diferente, mostrava e formava uma imagem diferente. Virando-se o crânio pela base, as figuras mudavam. Bastando para isso o operador entrar em contato físico com o crânio. A cada dia sete de cada mês, Severino andrógeno, visitava o local e operava o crânio. Mas desta vez, teria uma grata surpresa.
  • Cleomar! Sabe para onde esta indo? Esta ficando mais escuro que breu.
  • Sei sim, basta andar e em algum lugar chegamos. Santa Conceição não nos deixará afoitos nesse escuro.
  • Calma, desse jeito em lugar nenhum chega.
O interessante é que quanto mais andavam mais as galerias pareciam que iam ficando mais iluminadas. Aos poucos o breu foi se transformando em um tom acinzentado, passando para um azulado e finalmente uma mistura de azul com bordo. O que proporcionava uma visão não muito clara, mas perfeitamente considerável. Não tinham a menor idéia de onde estavam e nem para onde rumavam. Apenas andavam, andavam em silêncio é verdade. Mas andavam...
  • Honorável e admirável amigo das causas curtas. Tem sempre lembrado de tudo. Mas ainda tem muita história para contar. Não quero que isso se torne um imenso calhamaço de papel bem escrito. É preciso ter sempre mais conteúdo do que volume. De nada adianta muita coisa de pouca valia. Vamos ver, segurando em sua mão conto o que aconteceu com o Capitão do mato. Verdade é que ele mesmo nunca vai dizer. Nem pode. Ninguém iria acreditar mesmo? Mas o fato é de que seu pai, guerreiro da tribo dos Tupiniquins, saiu em caça por essas paragens há muito tempo, quando ainda a coragem se misturava com teimosia. Alias, coragem de nada adianta sem conhecimento. Andaram por tudo quanto é canto em busca de boa caça. Como estava escassa, foram muito além de portal onde se conhecia. Atravessando montanhas ao longe encontraram uma tribo de mulheres que apenas uma vez por ano deixavam os homens entrarem na lua cheia para a festança. Três dias de grande festejo. Deram sorte de serem os escolhidos e estarem por lá naquela ocasião. Durante esses dias eram convidados a reprodução. Maneira que a tribo achava para não entrar em extinção. Os homens como sempre, ganhavam uma pedra trabalhada para usarem como amuleto. Os filhos gerados nessa festança, se homens eram devolvidos ao pai que se comprometia em retornar após o nascimento para uma segunda festança que nunca existia. Se fosse uma menina, de certo que o pai nunca mais a veria. E seria iniciada como guerreira da tribo. Capitão do mato, não era filho de Caparaó como dizia. Era sim filho dessa tribo que nunca ninguém viu. Pobre Capitão, sem mãe. Só contava a ele mesmo sua sorte. Andava pelas matas em busca de rastros e de vestígios que pudessem leva-lo a origem de tal tribo. Nunca achou nem sequer pequena trilha de indícios. Até na gruta se emaranhou diversas vezes e nada encontrou, apenas túneis que nunca teve coragem de andar por estar demais fundo.

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terça-feira, 16 de agosto de 2011

Capítulo 19

  • Texto sem revisão

    Calma pessoa afoita. Disso nada leva. Deixe que sua presa saia de fininho que não se mexe com a vontade de se ter vingança pela desonra que sofre por ter sido empreitada em vez de encurralar.
  • Capitão, que faz aqui sentado em baixo de aguaceiro sem tamanho?
  • Vim em busca de algo que nem imagina e nem precisa saber. Mas já sabe. Sua caça. Vim para ter certeza de que nada de mal iria acontecer nem a você nem a ninguém. Segue seu caminho em paz que dou jeito para que ninguém te perturbe em santa caminhada. Vai, confia, já confiou antes. Sabe que mereço crédito.
E assim, Capitão do mato, mais do mato do que nunca convenceu Severino que mais ninguém estava por lá. Severino seguiu caminho descansando a alma. Enquanto isso, ainda tinha Deucídio, Cleomar e Ceres para uma brincadeira de pega. Capitão bem esfolado de tanto andar por mundo sem beira, sabia como fazer e induzir caminho a navegante a esmo. De forma que à distância de Deucídio era considerada ainda. Levando em conta que a chuva estragou a trilha, nada mais restava a este a não ser se perder. Capitão sabia disso, e tinha uma questão a resolver. Era um homem só. E decidir qual o caminho mais certo era permitir que ou um afundasse-se em lama para ter o perigo de nuca mais voltar, despistando Cleomar, ou arrumar caminho de retirante para cruzar com Deorani a modo de nada mais acontecer, e volta segura estava estabelecida. Mas isso era permitir que Cleomar e Ceres chegassem bem além na trilha, já a ponto de não ser mais possível à volta. E com certeza chegariam ao rio de areia onde pegadas de Severino estariam bem a vista, já que chuva esvaindo-se acabava sua tarefa ali. Pensou calmamente por alguns instantes e resolveu. Entre a vaidade de um segredo e a morte de gente, mesmo que não amistosa, prefiro ser chamado de não cumpridor da palavra do que responsável por rei urubu ter alimento e saciar seus desejos. Segui esguio pela mata cortando trilha feito macaco doido fugindo de onça. Sabia o caminho que Deorani seguiria certo para não se perder e chegar em alto de penhasco. Só tinha que estabelecer um trajeto onde Deucídio entraria em contato com Deorani. De dois, mais fácil à volta.
Deu certo. Arrumou trilha parecendo um desvio, Deucídio nem forma tomou de consciência para saber que seu caminho tinha sido mudado em curva, em traço para o cruzamento com Deorani. Mas assim aconteceu. Cruzaram. E forte diálogo aconteceu.
  • Deucídio? Que faz aqui?
  • Que faz aqui pergunto eu. Não disse para Ceres que deveria vir para vingar minha honra? Cá estou, e você o que faz?
  • Eu? Isso não interessa, só sei que sua presença aqui estragou minha empreita.
  • Eu estraguei? Você arma toda confusão e fica querendo jogar a culpa em mim? Já estava certo antes de desconfiar de sua palavra e agora mais ainda tenho a certeza da sua desonra.
  • Cabra! Vê como fala com pessoa que não conhece bem e não sabe do que é capaz. Respeito pessoa de Deus para desgraça não acontecer aqui. Se bem que se isso ocorrer, culpa de um ou de outro, vai acabar caindo nas costas de Severino mesmo, e o que acaba sendo bom em tudo isso, é que doce vingança ocorre, mesmo sem pegar Severino.
  • O quê? Era um embuste para me empreitar?
  • Claro que não homem. Seja mais honrado com suas calças e deixa de besteira e moleza abalar suas pernas. Não tem embuste nenhum aqui. Acaso meu caro, acaso te trouxe em meu caminho, para que te salve da desonra de se perder na mata e ser esquecido como um doido que saiu em busca do paraíso perdido. Mais um...
  • Claro que não. Minha idéia é bem mais do que essa. Vim de caminho certo em busca de coisa certa e você não vai me atrapalhar.
  • Atrapalhar? Quer ir para onde! Não vê que não tem mais nada em chão? Nem uma marquinha sobrou depois desse molhamento todo. Entre seguir em frente e tentar descobrir caminho certeiro e salvar sua vida do afogamento na poeira que certo em dias se fará novamente por aqui, optei por te ajudar cabra. E volta comigo para povoado que é coisa mais certa a se fazer nesse momento.
  • Honorável amigo de alma branca de pele morena. Como pessoas mudam de discurso a cada instante satisfazendo suas vontades e pouco se importando com o que de fato ocorreu. De alma ferida e rabo no meio das pernas passou a salvador. Esse é o verdadeiro homem macaco. Hihihihhhiiii... Muda a cada momento. Engraçado que só pode ver isso quem esta a cima disso. Você, eu e quem mais acompanha privilegiadamente essa história. Tem gente que não vai gostar de ler isso. E ainda mais, vais fazer força para dizer que isso é historia para chinês ver... Hiihihihihiiii... Trocadilho mais sem graça. De verdade o que queria era essa água toda bem firme por mais tempo. Para ter a certeza de nunca faltar e honorável amigo dourado de companhia certa poder trazer e aqui perpetuar sua espécie. Mas ainda não vai dar e terei que esperar por momento certo para derramar a vida em outro local. A pressa, meu caro amigo essa estraga tudo. Tem que sempre se ter paciência com o tempo que é implacável e sempre cumpre seu destino. De nada adianta lutar. O tempo não é o futuro nem o passado. A dor que sente é agora. Ninguém sente uma dor de ontem, nem a de amanhã. Se sente a do presente. O presente é a dádiva. O resto do tempo, não existe, só recordação de um passado e esperanças de um futuro. O que vale é o presente. O agora. Já!

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terça-feira, 9 de agosto de 2011

Capítulo 18

Texto sem revisão.

Severino Conceição estava arisco em sua caminhada. Justamente resolveu mudar trajeto para tentar despistar quem poderia vir em seu encalce. Andando de passo largo, de sete léguas, já tinha certeza que estava sendo seguido, e mais certo ainda era seu pensamento de quem poderia ser.
Pensava:
  • Cleomar, sangue meu, só pode ser, quem mais de loucura poderia querer se embrenhar em caminho que não dá em nada e a morte espreita? Cleomar, Cleomar, susto tem que levar de novo para deixar de ter curiosidade.
  • Honorável amigo tem sempre muita hora para se fazer às coisas. Tempo sempre se acha. Sempre tem para quem quer fazer. Prioridades meu amigo de calças na mão às vezes. Hihihihiiiiii... Mas desta vez. Parece que Severino vai acabar se atrasando, e se atrasa, não cumpre contrato com coisa encontrada e perde história que vem acompanhando a muito. Sempre se dá jeito para o tempo. Tempo vem, tempo vai, mas desta vez, se atrasa, só próximo mês para ver de novo as maravilhas que a muito de certo esqueceram por lá. Preste bem a atenção no que vou te contar. Toda confusão que vem do mato agora, nada de diferença faz para o grande todo. Mas para a consciência de cada um, é mais do que importante. Insignificante é o que quero dizer. Mas já esta acontecendo e mesmo como qualquer resultado não faz diferença alguma para o que de maior tem sempre em encalço, melhor dizer que para Cleomar e Ceres, é crucial. Vida deles corre perigo. Será que agüentam outro susto? Chiiiii... Presta bem atenção no que Capitão do Mato faz, e volta e protege para que nada de errado aconteça, esse sim, parece ter em seu lado, olhos de lince que guiam seus passos, e cabeça de águia que sobrevoa até a escuridão, sabendo de verdade o que acontece em baixo. Presta atenção em detalhes que parecem nada ter a ver.
Com essas palavras de Ken, minha cabeça se confundia a cada instante mais e mais. Não tinha a menor idéia do que poderia acontecer. Mas acontecia a cada instante de forma a elucidar o fato.
  • Capitão Serere, que esta fazendo? Que caminho esquecido por Deus é esse? Onde vai dar essa trilha que parece não ter destino certo?
  • Tem-se medo de ir, por que veio. Se não tem fé, volte. Não adianta entrar em mata e querer seguir caminho onde olhos só vêem pequena distância. Aqui se anda de rumo e prumo. Ora para a direita, ora para a esquerda. Sem muita regra, só o instinto é que vale. Vou contar o que não sei, como se isso fosse possível. Mas conto o que sinto. Tem muita gente a espreita de Severino. Todos achando que poderão não ser descobertos. Mas, já o foram, e Severino já mudou caminho duas vezes da trilha do norte. Acho bom, seguir reto, cortar por cima mesmo em vez de embaixo. Vai sair na frente de qualquer forma. Não da volta e segue de perto.
  • Mas capitão, e se pegarem Severino nesse meio de nada?
  • Quem vai querer arriscar perder o prazer de poder descobrir o que ele vem fazer aqui de vez em sempre? Acha que tem desmiolado aqui querendo isso? Só levar Severino para além em troco de nem poder dizer seus mistérios? O que tem que acontecer vai acontecer quando descobrirem paradeiro da Gruta de Nossa Senhora da Conceição. Mas nessa hora já estaremos lá a sua espera. Tenho certeza, o que tem que acontecer vai acontecer por lá, anda, vamos, senão não chegamos.
Tempestade de bom tamanho se aproximava. Alguns pingos caíam de tempos em tempos, e de bom diâmetro. Foi a sorte. Severino passou por Cleomar e Ceres sem perceber. Achava que ambos estavam é atrás dele e não bem a sua frente.
  • Cleomar, ta dando certo, Severino passou e nem percebeu nossa presença de intruso. Mas continua de bico calado por que escuto ainda mais passos. São nossas iscas chegando. Vão passar também.
  • Ceres, isso eu não agüento de alegria. Vai funcionar, vai funcionar.
De certo que funcionou e bem demais. Mas a chuva, só essa atrapalhou um pouco. Capitão empreitado em meio da mata decidiu mudar rumo novamente com a chegada da chuva.
  • Darci presta atenção. Espera aqui que tenho que realizar outra tarefa a custo que providenciar que ninguém se perca nessa tempestade. Trilha vai apagar e quem não conhece como olho de tigre seus caminhos, de certo que não consegue chegar onde pretende. Melhor você ficar quieto a espera, eu volto em breve. Não saia daqui de maneira alguma. Eu volto, eu volto...
Assim Capitão saiu em rumo certeiro por outro caminho que parecia não dar em lugar algum, mas sabia o que estava acontecendo.
  • Venerável amigo de história. Esse momento é de muito cuidado. E tem mais uma coisa que preciso contar agora. Todos os políticos e os que dessa arte usam, uns falam mal do outro. Se, se unissem para fazer algo de bom seria bem melhor. Mas a competição entre eles traz o caos. Não querem fazer algo por um ideal que tanto proclamam. Querem sim, fazer por seus próprios brios, alimentar seus egos. E se podem, se deixamos, chiiii, de onde vim, melhor ficar quieto. Isso é outra história. Mas aqui até que se aplica. Todos correndo em busca de algo por que alguém disse que outro falou. Engraçado, ninguém em trilha estava na verdade onde estava por sua própria vontade. A não ser por Capitão que só tomava conta de todos e Ceres com Cleomar que armaram a confusão. Nossa, que estranha à vida. Às vezes a palavra de desacreditados pode valer mais que bom censo. Principalmente quando se diz o que queremos escutar. Mas a chuva, hiiihiihhiiii... Essa sim fez seu papel. Hora certa sempre natureza arrumando as coisas que homem tenta estragar de boa fé. Alias, honorável amigo, sabe o que é a fé? Então lhe digo. É a falta total da dúvida. Tem-se dúvida, não tem fé. E gelo não pode ser frito... Hihihihhhiii... Duvida?
Severino, cabra arretado como era, sabia como proceder em marcha de despistamento. Andou em forma de círculo por algum tempo que o atrasou ainda mais. Mas deu certo. De tanta volta que deu, acabou saindo atrás de Deorani, mas não deu volta o suficiente para pegar Deucídio que nem imaginava que estava em seu encalço. Achando que barulho antes na sua retaguarda, agora pouco adiante era Cleomar, não hesitou em alcançar sua presa. De passo mais largo seguiu certeiro para o abate. Por sua vez, Deorani desconfiado de barulho em popa, e já achando ter perdido caminho de Severino, resolveu esgueirar-se para não ser alcançado. De caçador a presa. Que fim mais triste. A chuva já se fazia intensa, e água formando lama em caminho sinuoso, tudo apagava. Pouco tempo precisava para mais rastro nenhum ficar. Em calada de dia, sabia Deorani que fim estava próximo. Sabia que a empreita já estava acabada e antes de se danar no mato, melhor seria correr e voltar, desonrado, mas com vida. E afinal, quem poderia dizer desse momento? Sem testemunha, oras, vale tudo a palavra, que de palavra não ia ter nada. Só conversa de história sem negação por falta de testemunho. Subiu ribanceira feito mula escapando de cobra. Severino, bem mais perto sentia o que sua caça queria, e subiu antes ainda de próprio pensamento cair sobre cabeça de Deorani. Com certeza, pegaria na volta. Em meio do caminho, enlameado e predestinado teve um susto. Sentado bem a sua frente estava Capitão. Parado como quem veio do nada dizia a Severino.

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