quinta-feira, 7 de julho de 2011

Capítulo 11

Texto sem revisão. 
Bom senhor, não tardando a perceber o início da confusão, mais do que depressa tomou a palavra e fez do seu discurso algo inesquecível para todos.
  • Caros irmãos aqui presentes. Nesse momento quero consagrar a todos que não mediram esforços para encontrar Ceres e Cleomar na mata do norte desse lugarejo. Muito se diz a respeito do paraíso, mas em cada coração aqui mesmo nessa praça, podemos encontrar nosso éden. Basta para isso darmos as mãos e rezarmos pela Santa alma de Nossa Senhora da Conceição, agradecendo pela glória obtida, e não nos esquecermos de Santa Clara que iluminou nosso caminho. Mas antes de rezarmos unidos pela mesma voz, quero aqui conclamar a presença do motivo desse festejo. Muito se diz de meu nome, mas quem só disse a respeito das luzes de Nossa Senhora e de Santa Clara foram Cleomar e Ceres, que aqui feitas pessoas acanhadas em um canto, largado pela timidez, ainda não foram condecorados como merecem. Quero chamar ambos, para agora de vez em sempre, resolver essa questão em público para não se ter mais dúvida a respeito do ocorrido.
As pessoas citadas pelo Padre encaminham-se para o palanque. Santo Padre abraça ambos, e continua...
  • Povo de Conceção dos Altos. Que aqui é testemunha de fato ocorrido e atribuído a mim, mas que de verdade, não é bem assim. Explico. As duas pessoas estavam exaustas pela caminhada de dias, e pela fome e pelo medo da morte e do Demo, que em seus relatos fica muito evidente. De sorte e de relampejo, saí em direção que ninguém ainda havia tomado. Segui trilha por baixo do penhasco como é de conhecimento de todos. Ali em emaranhado de espinhos e de cipó, é fácil se perder e andar em círculos. E foi isso que aconteceu. Mas com a fome e com a sede, delírios sempre aparecem em forma de pesadelos. O que quero dizer é que quando dormimos na mata, as luzes das velas que levávamos podia ser vista ao longe pela escuridão da noite que se fazia sem lua. Cleomar e Ceres, nada mais viram pela manhã daquele dia, bem um pouquinho antes de amanhecer, do que as luzes dessas velas, e confundiram com milagre. O milagre sim aconteceu, mas não foi esse das luzes, e sim da fé de todo o povo que rezou pelo bem estar de ambos.
Todos pareciam estar chocados com as palavras de Santo Padre.
  • Ainda quero dizer, que milagre não operei nenhum. Quem realizou foram todos vocês.
Cleomar em desacordo com o discurso de seu redentor, não deixou por menos.
  • Santo Padre que a minha vida eu despejo se preciso for, pela sua. Da sua fé não tenho dúvida. Mas, Santo Padre está me chamando de mentiroso?
Interfere Darci Sebastião:
  • Calma Cleomar! Tenho a certeza de que modo de falar de Santo Padre não é de ofensa a sua pessoa e sim de confirmação de seus entendimentos.
Bom de conversa como era, e sem delicadeza nenhuma nos modos, segurou Ceres e Cleomar pelo braço, do mesmo jeito que se dá nó em porco. E continuou:
  • Cleomar presta atenção. Santo Padre quer dizer com seu palavreado bonito de homem estudioso, que você estava em estado de total desespero. E é justamente nesses momentos que as pessoas são atendidas pelos Santos de toda crença.
Vem o padre e diz:
  • Meus queridos, não vamos agora distorcer o que eu estava dizendo. O que disse foi bem claro. As luzes eram as luzes das velas.
Darci:
  • Não entendi, quer dizer que agora alem de chamar Cleomar de gente que não afirma a verdade, vem dizer que estou distorcendo os fatos?
Deorani põe mais fogo ainda:
  • Não se incomode com isso Santo homem de vestes pretas. Querem fazer com sua pessoa a mesma coisa que fazem com todo mundo aqui. Querem que a verdade seja só a que querem, e a de mais ninguém. Santo Padre me perdoe, mas entendi direitinho cada sílaba declarada por sua santa boca. Espero que com isso, não se intimide de vez e vá abaixar a cabeça para essas pessoas que querem dominar a tudo.
Severino intervem:
  • Há, já entendi. Deorani esta de complô com o cervo de Deus pensando que vai assim, conseguir desestabilizar a harmonia que há muito tempo reina em nosso vilarejo. Tenha dó. Que covardia usar assim pessoa de tanta fé.
Deorani:
  • Pois fique sabendo que eu e Santo Padre, desde o sumiço estamos sem falar, não por inimizade, mas pelos fatos ocorridos.
O povo lá embaixo, se deliciava com a discussão. E a festa prometia.
Sentado em um banco meio afastado, Ken assistia também a cena bucólica.
Disse-me certa vez, depois de relatar esse episodio: “não adianta dizer a verdade para quem não quer escutar. As pessoas só ouvem aquilo que querem ouvir. O que satisfaz aos seus egos, e a verdade? Ken sou eu para dizer?”.
Santo Padre:
  • Haaaa...! Severino há alguns dias entrou pela porta da casa de Deus esbravejando feito um touro e me acusando de não ter feito nada para ajudar. Agora me insulta perante todo o povo e espera ter meu apoio? Severino meu filho, vamos acalmar nossos ânimos e nos recolher, que parece que essa noite não está sendo muito feliz para nossos espíritos.
O povo inflamado resolve participar e parece que a situação começa a sair de controle.
Povo:
  • Cadê a fé de Santo Padre?
  • Santo Padre não é Santo.
  • Estão chamando os milagreiros de mentirosos.
  • Queime sua descrença na fogueira.
Não esqueça de avisar os amigos.
Toda terça-feira e quinta-feira, um novo capítulo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário