quinta-feira, 14 de julho de 2011

Capítulo 13

Texto sem revisão, escrito no calor da notícia.


Esse discurso era quase o mesmo que Cleomar repetidas vezes pronunciou para muitos da cidade.
No bar, em frente à paróquia, que agora andava meio empoeirada, não parava de chegar gente abismada com fatos relatados por Cleomar. Pessoas de todo canto do povoado vinham para saber mais a respeito do que estava de verdade acontecendo.
A família de quem gerou tal idéia não se manifestava de forma alguma. Sabiam bem como era Cleomar, e não davam muita atenção a seus devaneios. Mas, a idéia era boa, pensava Darci Sebastião, e em conversa com Severino dizia:
  • Severino, essa idéia de Cleomar, acha que tem sentido?
  • Sei não, às vezes.
  • Mas pense bem. Santo Padre deu de fuga por omitir a verdade de Cleomar. O Povo anda meio engabelado pelo ocorrido, e parece estar voltando atrás e achando que Santo Padre tinha razão.
  • Sim, isso de verdade em punho eu afirmo também. Mas onde quer chegar com mais essa estrambólica história de Cleomar?
  • Severino! O dia e a noite entram e saem sem ninguém perguntar porque. O povo também é assim. Vai de um lado e cai de outro. Se tiver igreja e não tem padre para que serve? Mais cedo mais tarde, vai começar tudo de novo, e até chegar outro padre por essas bandas já vai ter se passado bom tempo. E até lá o que vamos fazer para controlar o povo? E se Deorani resolve tomar conta da situação?
  • Sabe Darci, bem pensado. Sem distração, povo é como gado com fome. Pode ter sede e pode ter fome, mas se tem para onde rumar, vai a quietude e aguarda com paciência a chegada da hora do matadouro. Mas, se rebanho fica confinado sem poder ser suprida a necessidade, revolta e estoura. Melhor andar de jeito certo e encontrar distração para vilarejo ter comentário e poder ser feliz, como sempre quis ser.
  • Severino! Acho melhor seguir Cleomar mais de perto e dar um empurrãozinho nele, para essa história vingar e fincar pé, e as moçoilas desarrumadas que se virem para explicar. Também fico querendo saber quem são as famílias embaraçadas de nossa vila.
Ken se divertia atento, e comentou:
  • Honorável amigo veja só no que vai dar quando se quer usar de manipulação uma doideira dessa. Acha que vai dar certo?
O povo na cidade andava aflito, parecendo em estado de sonolência à espera de algum desfeche. De algo, de qualquer coisa que fosse.
Com maior força para o comentário a cada dia, Severino e Darci deram um jeito de esquentar ainda mais as coisas, lançando listas falsas. O assunto na cidade de agora para frente era de se querer saber quem eram as mulheres horrendas. Cleomar, vendo tudo a seu modo, resolve dar notícias certas e contar quem são as famílias desordenadas de Conceção dos Altos. Reuniu multidão na praça e de papel em punho, lia um discurso moral:
  • ... Se bem sabem de como é a vida nesse lugar, sabem do que estou falando. Apressem-se a descobrir quem de verdade é odioso por natureza e rancor carrega consigo dentro de coração reprimido. As palavras a seguir tentam afugentar o demo da casa de muita gente e...
O povo atento não se manifestava. Escutava tudo caladinho. Mas, queria era mesmo saber da mais nova condição das famílias.
Cleomar continua:
  • ... Tonto que cheguei a esse ponto. Ter que divulgar nomes tão simbolicamente honrados de nossa cidade, para mim é desgosto certo. Mas preciso. Em nome de pequenos pés descalços que nem sabem ainda que é que acontece. Agora conto as famílias briguentas...
Lá vinha finalmente o nome de tanta gente em papel comprido, mas um pequeno detalhe estava por enganar a todos de maneira desconcertante.
Cleomar:
  • ... E também a família Crespo, que tem como varão Delcídio, que a tudo agüenta calado...
Nesse instante houve-se Deucídio ao fundo indagar:
  • A família Crespo? Quer dizer que eu não posso ver meu filho?
Cleomar:
  • Isso bem é verdade. Já viu ele alguma vez? Abraçou? Beijou? Sua mulher deixou? Diga-me que é mentira e rasgo tudo aqui mesmo e me recolho de redenção para um recanto sombrio pedindo perdão a Deus pelo meu engano.
Deucídio:
  • Oras Cleomar, nem tenho filhos ainda. O único que ainda vou ter é apenas projeto e está bem guardado dentro da barriga da minha mulher, e por falar nisso, ta pra nascer nesses dias.
Cleomar:
  • Então, ta vendo! É verdade, nunca viu filho nem filha, alias nem sabe do que se trata, e...
O povo desiludido vaia e começa a soltar palavras de ofensa a Cleomar, que não vê outra saída a não ser bater em retirada.

Faça-me um favor, conte aos amigos
Toda terça-feira e quinta-feira, um novo capítulo.

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