terça-feira, 7 de junho de 2011

Capítulo 2

Texto não revisado... correções serão bem vistas...
Mas, voltando ao caso de Ken, sua principal responsabilidade acabou sendo Cleomar. Vamos as descrições físicas de cada pessoa para entenderem melhor o que lhes digo.
Severino Conceição tinha como principal característica uma voz daquelas de locutor de rádio. Sua vestimenta era igual à de um cangaceiro, com direito a chapéu de couro com estrelas bordadas e tudo mais. Um facão na cinta, alpargatas quase que vinte e quatro horas por dia no pé, calças de boca reta e curta. Mas o principal de sua vestimenta e que chamou muito a atenção de Ken, e de outros quando não o conhecia era um lido e brilhante lenço de seda rosa enrolado no pescoço.
Seu falar era enérgico e bem acentuado. Tinha a firmeza de um governante autoritário em sua oração. Era capaz de fazer os mais cabeçudos mudarem de opinião com uma simples explicação de convencimento. Cá para nós, Ken me alertou várias vezes sobre isso. Dizia que era um dom muito perigoso esse de Severino Conceição e que deveria ficar atento se encontra um tipo assim.
Essa era a forma de como se apresentava ao público, bem pelo menos em parte. Sem gesticular era um verdadeiro “cabra macho sim senhor”, mas lembrei-me de uma coisa agora. Cabra é fêmea de bode. E, ao gesticular era totalmente outra pessoa. Enquanto falava até bravamente, gesticulava com uma delicadeza e uma finura de dar inveja a qualquer professor de boas maneiras. Bom de prosa. E Ken me falou que esse seu jeito estranho de ser era o seu id. Isso de certa maneira até o abençoava.
O dedo mínimo da mão ao comer sempre ficava esticado. Quando parava em algum lugar, com a mão sempre muita bem feita com unhas pintadas de vermelho ou rosa, ia direto para a cintura, que pelos trajes que usava dá a impressão de serem bem finas. Talvez um engano, mas Ken poderia afirmar isso?
Seus traços fisionômicos eram tão delicados como o de uma pétala de rosas. Sobrancelhas finas, mas não tinham marcas de serem aparadas. Sinal de barba nenhum. Alias, Darci Sebastião também não tinha esse sinal. Já que eram gêmeos, o que um tinha o outro também.
Ao caminhar era de uma elegância e suavidade. Dedos longos e finos, suas mãos eram um destaque ao se expressar.
Agora em relação à Darci Sebastião, tudo ao invés. Sua fala era mansa e meiga. Falava como uma fada. Incapaz de levantar a voz a quem quer que seja. Sempre com muita atenção, cordial, pessoa afetiva. Mas ao sentar em uma mesa para comer, um verdadeiro bicho do mato. Segurava o garfo feito uma colher de pedreiro. Babava, cuspia no chão e só fechava a boca quando acabava, e sabia-se disso pelo arroto que soltava à mesa. Fétido e nojento envergonhava Cleomar. Andava sempre de terninho. Com roupa impecável. Tinha como marca registrada beijar a tudo e a todos de forma indiscriminada. Quanto a isso, fazia com o maior carinho. Só, que tinha a mão meio pesada, e seus gestos bem grosseiros. Uma pessoa caipirona ao andar, de traços rudes. Um abraço seu seria quase a morte para os mais desprevenidos. Usava uma enxada como ninguém. Parecia uma mula para trabalhar em serviços mais pesados
Com sua fala mansa encantava e era capaz de acalmar a besta mais indomável.
Esses dois seres tinham como maior preocupação e atenção à vida de Cleomar.
Por sua vez, Cleomar era um misto entre os dois. A confusão de criança acabou por afetar sua mente. Sem saber quando criança, quem era um e quem era outro, pois uma de suas diversões (a do casal de gêmeos) era confundir a cabecinha de Cleomar.
Seus cabelos bem apanhados eram cheios e vistosos. Curtos ao certo, mas não a ponto de descobrir a orelha. Um brinco que sempre usava do lado direito era sua marca registrada. Era pessoa de traços e hábitos normais. Sem nada que se mereça um destaque. A não ser que sempre tinha idéias avançadas demais para a época, para não dizer outra coisa. Afinal, Ken pode afirmar isso.
E por falar em Ken, saibam de uma coisa. Sujeito esperto. Chinês arretado. Responsável por uma imensa plantação de arroz em sua terra natal, não abria mão de uma boa soneca a qualquer hora do dia. Sempre dizia que não era sono profundo. Apenas uma pausa para recreação e aprendizagem, já que com esse ato tinha sonhos interessantes e muitos deles bem reais.
Ken, homem muito respeitado em sua vila. Morava em uma província do lado oeste da China e certa vez, resolveu fazer uma penitência atravessando o imenso país amarelo de joelhos para chegar a grande estátua de Buda. A maior de todas. Andou por mais de ano dando três passos, deitando no solo rezando e levantando. Isso uma infinidade de vezes. Conta ele, que seu pai saiu com essa missão e nunca mais retornou. Envergonhado fez o mesmo para lavar a honra da família, e ao retornar foi aceito como um Lama. Ken sempre gostou do lado oculto da vida, foi Ceres quem o viu pela primeira vez na pacata cidade de Conceção dos Altos. Lá em Brejo seco.
Para falar um pouco mais do que posso a respeito de Ken, resta salientar que era um filósofo de bom coração. Homem de grande poder de concentração e meditava com muita facilidade. E ao contrário do que muita gente pensa, meditar para ele era pensar em absolutamente nada.
A encruzilhada de Brejo Seco levava a várias localidades. De verdade qualquer caminho escolhido por um viajante, o levaria a desespero pelas dificuldades que encontraria.
Mas, ao norte era o atalho para Conceção dos Altos. A cidade de Ceres e Deorani.
Conceção dos Altos recebeu esse nome dado por uma pessoa da fazenda do Coronel Pedroso que passava pelo local antes mesmo de existir um povoado ali.
Conta à história que tal pessoa, sendo perseguida por uma jagunçada, correu de mula para as paragens de Brejo Seco. Conhecendo bem o local e já sem esperanças de salvamento, em retirada única e certeira, resolveu em apelo a Nossa Senhora da Conceição, se embrenhar pela mata ao norte. Mesmo sabendo de que não encontraria santa alma viva por aqueles lados, com seu trem seguiu o rumo da salvação. Já há vários dias, em desengano de caminho certo, e andando a esmo, chegou a uma encosta. Já não sabia mais se andavam ainda à sua caça ou não. A jagunçada, experiente e não tendo pretensão de cometer erros, descansou seus cavalos em Brejo Seco e ali permaneceram por vários dias para ter a certeza de que o ser da fazenda do tal Coronel não voltaria. Pensaram: “sem água e sem comida, ninguém, por mais valentia que tenha, poderia sobreviver nesse sertão desolado por Deus”.

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Próximo capítulo, 09/06/2011

Um comentário:

  1. oi, eu sou do blog a nova era gay, vi seu comentário, mas só agora tive tempo para ler sua novela, aliáz muito interessante, podemos trocar links ou banner se vc quiser e até fazer uma postagem um divulgando o blos do outro, o que vc acha?

    Muito legal mesmo sua novela, uma crítica a sociedade e a uma convensão que possuimos,

    meu email é patrick.moraz@hotmail.com

    se cuida bjs

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